Por Ricardo Noblat - Veja
O capitão vacila
Há limites para
tudo – até mesmo para quem se elegeu presidente prometendo combater a
corrupção e agora teme ser alcançado pelo que defendia antes. Esse é o
dilema que enfrenta Jair Bolsonaro desde que dois dos seus filhos
tiveram os sigilos quebrados sob a suspeita de se beneficiaram de
dinheiro público. O ministro Dias Toffoli,
presidente do Supremo Tribunal Federal, saiu em socorro dos garotos – e
ao fazê-lo, socorreu-se e socorreu colegas e outras autoridades dos três
poderes da República investigadas pelo Ministério Público com base em
informações fiscais obtidas sem prévia autorização judicial.
A bandeira do combate à
corrupção decorava o gabinete de Bolsonaro no terceiro andar do Palácio
do Planalto desde que ele entrara ali para ficar pelos próximos quatro
anos. Sumiu. Como exibi-la sem prejudicar os garotos, sem parecer
desleal com os que o ajudam a safar-se da enrascada familiar e sem ser
contraditório? Se ela ainda ocupasse um
lugar de honra em sua agenda, Bolsonaro não teria enfraquecido Sérgio
Moro, líder inconteste do Partido da Lava Jato. Não teria atacado a
Receita Federal e o Conselho de Controle de Atividades Financeiras. Nem
peitado a Polícia Federal como ainda não desistiu de fazer.
Esses são os órgãos de
Estado, não de governo, mais empenhados no combate à corrupção. É da
natureza deles. E sempre foram respeitados pelos presidentes que
antecederam o capitão. A Procuradoria Geral da República poderá ser o
próximo alvo de Bolsonaro, a depender de quem ele escolha para
assumi-la. Ou Bolsonaro não se dá
conta do perigo que corre de vir a ser acusado por obstrução de Justiça
ou está seguro de que conta com aliados confiáveis em tribunais
superiores capazes de protegê-lo. Se uma parte dos seus devotos se
convencer de que ele fraquejou no trato de assunto tão sensível,
Bolsonaro pagará muito caro.
Ricardo Noblat - Blog do Noblat - Veja