Projetos corroboram avanço da participação chinesa em infraestrutura no Brasil
[além das inúmeras e incontestáveis vantagens elencadas na matéria abaixo, sempre bom salientar que é também o passo inicial para reduzir a dependência do Brasil ao transporte rodoviário, que hoje está nas mãos de irresponsáveis que não hesitam em prejudicar o Brasil para auferir vantagens criminosas.]
Em 24 meses, preveem o governo e concessionários, estará em operação o
trecho ferroviário de 1.537 quilômetros ligando as cidades de Estrela
D’Oeste, em São Paulo, e Porto Nacional, no Tocantins, com fluxo de 22,7
milhões de toneladas de carga por ano. É ótima notícia porque sinaliza a conclusão de dois terços da Ferrovia
Norte-Sul, espinha dorsal da projetada malha ferroviária brasileira.
Deve-se aos governos Michel Temer e Jair Bolsonaro o desembaraço desse
empreendimento relevante à integração nacional, iniciado há 35 anos na
administração José Sarney.
Significa que a partir de 2022 haverá interconexão ferroviária efetiva
entre os Estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Tocantins e
Maranhão. Ou seja, será possível o trânsito de cargas num arco
ferroviário de pouco mais de três mil quilômetros ligando os portos de
Santos (SP) e de Itaqui (MA). O custo logístico de exportação tende a
cair significativamente para o agronegócio nesses cinco estados. No porto de São Luís avança a construção de um terminal de uso misto,
voltado para a Ferrovia Norte–Sul/Carajás, liderada por um consórcio do
qual participam a maior corporação chinesa de infraestrutura e dois
grupos privados.
A China já confirmou, também, interesse no empreendimento ferroviário
para ligar Tocantins à Bahia (Ferrovia de Integração Oeste-Leste) e na
conexão sobre trilhos entre Mato Grosso e Pará (Ferrogrão). Nos dois
casos, as licenças para construção serão leiloadas este ano. Há evidências de que está sendo intensificada a prospecção chinesa em
infraestrutura no Brasil. No alvo, confirmou recentemente a China
Communications Construction Company, estão duas dezenas de projetos de
energia, portos, ferrovias, desenvolvimento de mobiliário urbano e
agroindústria, com investimento potencial de R$ 102 bilhões.
Não é casual que o Brasil tenha se tornado o quarto destino global de
investimentos diretos chineses entre 2010 e 2017. Recebeu 40% do capital
aplicado na América do Sul, nesse período, porque apresenta
oportunidades em energia e infraestrutura, tem mercado atraente e as
relações comerciais fazem da China o maior cliente de 14 estados
exportadores e o segundo dos demais. A expansão chinesa objetiva
garantir suprimento de matérias-primas e alimentos básicos, além de
desenvolver mercados para os produtos industriais nos quais se
especializou, com alto nível de tecnologia embutida.
Governo e Congresso precisam refletir estrategicamente sobre a
arquitetura dessa nova fase na parceria. É evidente a carência de
capital em setores críticos, mas é necessário preparar a base de um
relacionamento mais sofisticado com a China, assentado no
desenvolvimento tecnológico, para desenhar um futuro muito além da
dependência de investimentos em energia e infraestrutura e das
exportações de commodities.