Profissionais da política não
costumam improvisar. Não apostam no acaso. Dito isso e diante da sequência de acontecimentos
desta semana, dá-se por óbvio observar: Michel Temer está a um passo da cadeira de Dilma
Rousseff. Por impedimento ou renúncia
da presidente.
Tudo parece fruto de uma
combinação elaborada,
prevista para ser colocada em prática se e quando uma bomba letal fosse
colocada dentro da sala dos que realmente regem o poder. O estopim teria sido a prisão de José Dirceu, o ex-ministro e
ex-amigo de Lula, o ex-todo-poderoso do PT, o ex-capitão do time, o
guerreiro do povo brasileiro.
De lá
para cá, movimentações antagônicas e ao mesmo tempo complementares desembocaram
na solução Temer. Lula reúne-se com petistas em São Paulo e traça cenário
desolador para o PT, o ministro-chefe da Casa Civil de Dilma,
Aloizio Mercadante, vai à Câmara dos Deputados, admite erros do governo e elogia a oposição, o vice-presidente da
República conclama por união nacional.
Na contramão do ajuste, a Câmara
espreme ainda mais Dilma. Na madrugada de quinta-feira aprova a PEC que
vincula os salários da Advocacia-Geral da União e de delegados a 90,25% do
salário dos ministros do Supremo, incluindo ainda procuradores de estado
e de municípios com mais de 500 mil habitantes. Apenas três petistas votam com o governo.
PDT e PTB, que juntos somam 44
deputados, formalizam o abandono à base. E o plenário aprova – com celeridade nunca vista - as contas dos dois governos de
Fernando Henrique Cardoso e de Lula. Com isso, a pauta
para votar as contas de Dilma que podem vir do TCU com a indicação de rejeição
está limpa. Daí para abertura do
processo de impeachment é um pulo.
Ainda na
quinta-feira, Temer volta a apelar pela
união de todas as forças em nome do Brasil. As federações das indústrias de
São Paulo e do Rio -- Fiesp e Firjan – assinam documento conjunto de apoio à
união pregada pelo vice-presidente da República. Uma nota oficial de duas das maiores entidades empresariais do país,
aprovada com rapidez sem igual, aponta como saída a “proposta de união apresentada pelo vice-presidente da República”. Nem por cortesia citam Dilma.
Difícil
crer que tudo isso – convocação e união
pelo Brasil, apoio empresarial, votação das contas de ex-presidentes para
limpar a pauta abrindo-a para a possibilidade de impeachment – tenha ocorrido
por capricho do destino, pelos ares de agosto ou conjunções astrais. Até porque
são lances de quem entende o xadrez da política, sabe jogá-lo e dificilmente
perde.
Dilma pode até não ser o cerne da
crise, gestada nos tempos de Lula. Mas afastá-la tornou-se crucial para resolver a crise. Ameaçá-la
com o impedimento constitucional para que ela se convença de que a renúncia é o
melhor caminho pode ser parte do script. Se vai dar certo ou não, impossível
prever.
País algum consegue encarar (e superar) uma crise, quanto mais da gravidade da que está instalada por
aqui, com uma presidente tão frágil e
impopular. E que ainda tem mais de 40 meses de mandato, quase três anos e
meio. Profissional, o vice Temer sabe muito bem disso. Tem passado todos os seus dias
construindo a tal da credibilidade de que Dilma não goza e não tem mais como
recuperar. Se dará certo ou não, impossível prever.
Fonte: Mary Zaidan