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terça-feira, 10 de setembro de 2019

Filhos de Bolsonaro perderam a noção e Campanha do baixo clero - Merval Pereira



O Globo

Temo que a declaração de Carlos Bolsonaro sobre democracia tenha sido pensada e este é o perigo. Bolsonaro e seus filhos saem do rumo democrático com frequência, ameaçando e intimidando as instituições brasileiras, seja em entrevistas, com ameaças veladas ou claras, com comportamentos inadequados, e sempre reclamando da classe política que não o deixa governar, à la Jânio Quadros. 

[está sendo dada uma atenção exagerada a um comentário feito por um vereador, sobre a necessidade do uso de vias não democráticas para consertar o Brasil ;
alega o vereador - em parte, com alguma razão - das dificuldades que seu pai enfrenta para impor alguma ordem ao Brasil, saneando a área de costumes, segurança e outras.

Partisse o comentário do pai do vereador Carlos Bolsonaro poderia ser alvo de alguns comentários assustadores que teriam efeito junto a alguns assustados por natureza, visto que o presidente é o comandante supremo das Forças Armadas - apesar de uma eventual mudança de rumo nos caminhos para governar o país, não implica necessariamente em que a Constituição Federal seja seguira, já que um Movimento Revolucionário se legitima por si mesmo.

Quanto ao deputado Eduardo portar uma arma no interior do hospital em que seu pai convalesce, se trata de um cidadão cuja atividade anterior o qualifica como apto a manejar armas com segurança e o único risco que ele oferecia à democracia seria se usasse a arma para matar o presidente da República - seu pai.
Além do mais, como bem lembrou o hospital em nota, devido o presidente da República se encontrar hospitalizado toda a área passou a ter sua segurança a cargo do GSI - as regras lá aplicadas são tão inquestionáveis quanto as usadas no interior do Palácio do Planalto ou da Alvorada.]

O vereador Carlos vive incentivando seus seguidores contra a imprensa e as instituições. Qualquer vereador, de qualquer cidade do Brasil, que dissesse o que ele disse estaria faltando com o decoro e seu mandato seria cassado pela Comissão de Ética. Não há maior exemplo de falta de decoro. O deputado Eduardo quer ser embaixador no EUA e faz questão de exibir uma arma na cintura, o que é claramente uma atitude de ameaça.

 

Campanha do baixo clero




O presidente Bolsonaro está conseguindo ser o protagonista do jogo político brasileiro nesses oito meses iniciais de seu governo, apesar de sua popularidade ter caído. As polêmicas que provoca, e as linhas mestras das ações de aparelhamento ideológico no sentido inverso do PT dominam a cena o debate partidário. Que se desenvolve até o momento em tom de baixo clero.

Para quem dizia que não seria candidato à reeleição, Bolsonaro mostra especial habilidade para ditar o ritmo da campanha presidencial de 2022. Candidatos potenciais, como o governador de São Paulo João Doria, já buscam se posicionar em raia semelhante à de Bolsonaro na questão de costumes.  Até mesmo quem disputa outros cargos, como o prefeito do Rio Marcelo Crivella, reforçou os laços com o eleitorado conservador, embora não seja certo que esse grupo concorde integralmente com a censura ordenada.  O prefeito Crivella, com péssima imagem de administrador, mandou recolher uma história em quadrinhos dos Vingadores, que continha um beijo gay. Alegou “querer preservar as crianças". [a decisão do presidente do TJ-DF, favorável a permitir que a inocência de nossas crianças fosse preservada, mediante o acondicionamento do material inadequado em embalagens lacradas e com aviso ostensivo do conteúdo improprio - lamentavelmente cassa em decisão monocrática do presidente do STF - deixa claro que não se tratava de um ato de censura e sim de PRESERVAR nossas crianças do acesso indevido ao material.
Afinal,que sentido tem tratar de sexo em uma HQ voltada para o público infanto juvenil ?]
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, suspendeu a censura e, no domingo, último dia da Bienal do Livro, as vendas aumentaram. O governador tucano João Doria, apesar de ter criticado a decisão de Crivela, havia mandado recolher no início da mesma semana uma cartilha com material escolar de ciências para alunos do 8º ano do Ensino Fundamental da rede estadual.  A cartilha trata de conceitos de sexo biológico, identidade de gênero e orientação sexual. Também traz orientações sobre gravidez e doenças sexualmente transmissíveis.

Os dois políticos alegaram estar seguindo a legislação, ambos distorcendo seu objetivo. O Estatuto da Criança e do Adolescente proíbe pornografia, mas o casamento gay é reconhecido pela Constituição. [só que a inocência das crianças não pode ser violada por decisões de caráter eminentemente políticos e baseadas no maldito politicamente correto.] Um beijo gay tem o mesmo grau de pornografia, diante da lei, que um beijo de adolescentes héteros. Ou seja, nenhum. E são casos diferentes, pois Doria interferiu no currículo do ensino público de São Paulo, e Crivella num evento privado, utilizando-se de censura.

No caso de São Paulo, a Secretaria da Educação afirma que o termo "identidade de gênero" estaria em desacordo com a Base Nacional Comum Curricular do MEC. É verdade que a BNCC em sua versão final retirou esse tema do currículo, para posterior análise. Mas não o proibiu. A decisão, portanto, foi do governo de São Paulo. O ministro do STF Gilmar Mendes, em outra ação, determinou que a Prefeitura do Rio se abstivesse de apreender livros de temática LGBT na Bienal do Rio. Classificou o ato de ‘verdadeira censura prévia’ e promoção de ‘patrulha do conteúdo de publicação artística’.
O ministro Gilmar Mendes tocou na ferida ao se referir à questão da homossexualidade: “O entendimento de que a veiculação de imagens homoafetivas é “não corriqueiro” ou “avesso ao campo semântico de histórias de ficçãoreproduz um viés de anormalidade e discriminação que é atribuído às relações homossexuais.
Tal interpretação revela-se totalmente incompatível com o texto constitucional e com a jurisprudência desta Suprema Corte, na medida em que diminui e menospreza a dignidade humana e o direito à autodeterminação individual”.


O ministro lembrou que a orientação sexual e a identidade de gênero “devem ser consideradas como manifestações do exercício de uma liberdade fundamental, de livre desenvolvimento da personalidade do indivíduo, a qual deve ser protegida, afastado o preconceito ou qualquer outra forma de discriminação’. O decano do Supremo Tribunal Federal, ministro Celso de Mello, sentiu o cheiro de queimado e, em resposta à colunista Monica Bergamo, condenou a censura a livros da Bienal do Rio, considerando que o episódio “constitui fato gravíssimo”. E fez a ligação entre o momento atual e um possível retrocesso dos princípios democráticos:
“Sob o signo do retrocesso - cuja inspiração resulta das trevas que dominam o poder do Estado-, um novo e sombrio tempo se anuncia: o tempo da intolerância, da repressão ao pensamento, da interdição ostensiva ao pluralismo de ideias e do repúdio ao princípio democrático".


Merval Pereira, jornalista - O Globo