Olavo Soares
Flávio
Bolsonaro e o PT estão juntos!
Com o
aval de Elmano Ferrer (Podemos-PI), o pedido de abertura da "CPI da Lava
Toga", que planeja apurar irregularidades no Judiciário, chegou novamente
a 27 assinaturas, o número mínimo para instalação do colegiado no Senado. A
expectativa do senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), idealizador da
Comissão Parlamentar de Inquérito, é protocolar o pedido na próxima terça-feira
(17).
A
concretização da CPI, entretanto, é uma incógnita: em outras duas ocasiões, os
apoiadores da ideia disseram ter alcançado o número de assinaturas necessárias,
mas a instalação foi rejeitada pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre
(DEM-AP). O que
mais chama atenção desta vez é a aliança improvável entre o senador Flávio
Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente da República, e a bancada do PT para
impedir a instalação da CPI. Situação que causa ainda um princípio de racha no
PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro, e no próprio bolsonarismo.
Essa CPI
não tem compromisso com o futuro do Brasil, diz Flávio Bolsonaro
“Tenho a
clara percepção que uma CPI com essa pauta – além de ser uma coisa questionável
entrar no mérito das decisões de cada ministro –, não tenho a menor dúvida,
toca fogo no país”, disse Flávio Bolsonaro, em entrevista ao site Terça Livre.
O senador não apenas reforçou que não assinaria o pedido de criação da
comissão, como também defendeu que a CPI seria um fator de instabilidade para o
governo. “A quem
interessa uma instabilidade política nesse momento? Não é possível que as
pessoas não enxerguem. A gente tem que ter equilíbrio. Agora seria muito ruim
uma CPI como essa”, disse.
O senador
Flávio Bolsonaro também negou, na conversa, que estaria pressionando membros do
seu partido a retirar apoio à comissão. A possível ação de Flávio neste sentido
foi divulgada pela imprensa nos últimos dias e chegou a motivar uma nota do
presidente do PSL, deputado Luciano Bivar (PE), que puxou para si a
mobilização, tentando isentar o filho do presidente de responsabilidade sobre o
caso.
Apesar da
pressão de Bivar – ou de Flávio –, o filho do presidente foi o único membro do
PSL no Senado que não assinou o pedido de instalação da comissão. Soraya
Thronicke (MS) foi apoiadora da criação. Já Major Olímpio (SP) e Selma Arruda
(MT) não apenas assinaram a requisição como também têm se empenhado na
mobilização para a formalização do colegiado. Nesta
quinta-feira (12), Olímpio divulgou um vídeo reiterando apoio à comissão e
dizendo que a “Lava Toga” pode criar no Judiciário um ambiente de investigações
similar ao que a Lava Jato criou para os poderes Executivo e Legislativo. Já
Selma expôs sua insatisfação com as pressões do PSL e, desde então, avalia a
possibilidade de deixar o partido.
Insatisfação
do bolsonarismo
A
oposição de Flávio Bolsonaro à CPI – e o alinhamento a uma causa petista –
gerou insatisfação em grupos de redes sociais que ajudaram na vitória de
Bolsonaro no ano passado e dão apoio ao governo. O chat e o campo de
comentários da entrevista do senador ao Terça Livre – página de orientação
bolsonarista – reúnem desde a publicação do vídeo até um número expressivo de
mensagens críticas ao senador. Internautas
chamaram o senador de “traidor” e disseram que, mesmo apoiando o governo
Bolsonaro, condenam a diretriz adotada por Flávio no Parlamento. Na entrevista,
o filho do presidente disse que os defensores do governo não deveriam “morder a
isca deixada pela oposição”.
A CPI
também não conta com o apoio do PT. O líder do partido no Senado, Humberto
Costa (PE), declarou que vê na “Lava Toga” uma tentativa de intimidar o
Judiciário e de se atender a demandas do procurador Deltan Dallagnol, criticado
pelos petistas por sua atuação na Lava Jato. O pedido da instalação da comissão
também não tem assinaturas de integrantes do DEM, legenda do presidente do
Senado, e do MDB, partido que detém a maior bancada.
Nesta
quinta-feira, em uma reação ao número de assinaturas obtido pelos defensores da
CPI da Lava Toga no Senado, a oposição na Câmara dos Deputados protocolou outro
pedido de CPI, mas para investigar a chamada "Vaza Jato". Deputados
do PT, PDT, PSB, PCdoB e PSOL querem investigar supostas irregularidades
cometidas pela força-tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba e que foram
divulgadas pelo site The Intercept Brasil e outros veículos de comunicação,
como Veja, Folha de São Paulo, UOL e El País.
Se for
mesmo instalada, a CPI da Lava Toga concretizará a força de um grupo de
senadores que tem se mobilizado desde o início da legislatura para a consolidar
um bloco de parlamentares que, ainda que de modo informal, se une por
contrariar decisões do governo Bolsonaro e também rejeitar aproximação com o
PT, a principal força da oposição. O grupo
recentemente passou a se intitular “Muda Senado” e está convocando uma
manifestação em defesa da CPI para o dia 25, em Brasília. Será em uma
quarta-feira, dia em que habitualmente a maior parte dos parlamentares está na
capital federal. Embora o grupo busque manter uma linha independente do
governo, a convocação para a manifestação contou com a presença de Major
Olímpio e Selma Arruda.
Olavo Soares - Gazeta do Povo