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sexta-feira, 14 de agosto de 2015

As ‘cristovadas’ do Cristóvão



Foi patética a tentativa de Cristóvão de atribuir a racismo as críticas que vem recebendo de jornalistas e torcedores por causa de um trabalho que, ao menos até agora, é pra lá de insatisfatório no comando do Flamengo. Em entrevista à ESPN, o técnico se fez de coitadinho, alegando ser injustiçado e perseguido, algo que para quem conhece futebol e a carreira dele beira o ridículo.

[se Cristóvão é sem noção, desorientado, o seu protetor, Eduardo Bandeira de Mello, consegue piorar o impiorável:

Imaginem, que referido cidadão anda feliz da vida por ter sido elogiado por outra tragédia – Dilma Rousseff; o cara é tão alienado que ainda acha que elogio dela conta a favor?]

Desde que substituiu Ricardo Gomes, de quem era auxiliar, no Vasco, Cristóvão convive com os gritos de “burro”, vindos da arquibancada — quase sempre por conta de escalações mal feitas e/ou substituições desastradas (na voz da arquibancada, as já famosas “cristovadas”).

Foi assim também no Fluminense e no Bahia, clubes por onde igualmente passou sem conquistar nenhum título. Agora, por conta da revelação de um apelido irônico que recebeu, nas redes sociais, ainda nos tempos das Laranjeiras — Mourinho do Pelourinho —, ele diz se sentir perseguido e enxerga motivação racista na alcunha e na opinião da torcida e da imprensa.

Ora, Cristóvão, arruma uma desculpa um pouco melhor, pois essa é esfarrapada. Se toca: a maldade do codinome que lhe foi posto (e aqui reproduzido, na boca do Bagá) não está no Pelourinho, conhecido bairro histórico da cidade de Salvador, onde você nasceu e, hoje em dia, vivem e convivem muito bem brancos e negros. Está na comparação escalafobética com o português José Mourinho, um dos melhores treinadores do planeta. Deu pra entender ou precisa que eu desenhe?


Estreia auspiciosa
Foi animadora a estreia de Ederson no Fla.
Não chegou a fazer nenhuma jogada excepcional, mas já deu pra perceber a sua desenvoltura do meio-campo pra frente e a intimidade com a bola (coisa cada vez mais rara nos nossos gramados). Ele sofreu a falta que originou o golaço de
Alan Patrick, na cobrança direta, e arriscou arrancadas interessantes, que poderão se tornar uma nova arma rubro-negra, quando ele estiver em boa forma física.

Na vitória por 3 a 2, sobre o Atlético Paranaense, entretanto, uma antiga e nunca corrigida falha do Flamengo voltou a ficar evidente: a zaga é extremamente vulnerável nas bolas altas. Por isso, um jogo que parecia ser tranquilo, quase se complicou. Sorte dos rubro-negros que, na hora em que esboçavam a reação, os atleticanos ficaram com um a menos, por conta de uma expulsão. Na ausência de Guerrero, Emerson Sheik foi o nome do jogo, fazendo gol e correndo com a disposição de um jovem.

Fonte: Blog do Renato Maurício Prado – O Globo

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Carta aberta ao Cirino



O texto que se segue é do ex-ponta esquerda Zé Roberto Padilha. Leia-o bem, Cirino:
“Bom dia, Marcelo. Temos algo em comum: chegamos como promessas à Gávea, aos 23 anos. Eu vindo de um troca-troca com o Fluminense, você como destaque no Atlético Paranaense. Mesmo sendo tricolor, mas amante do futebol arte, juntei-me à nação rubro-negra para reverenciá-lo".

Sim, porque você parecia o atacante que está fazendo falta ao futebol brasileiro. E o Flamengo seria a porta que o levaria à seleção. Habilidoso e veloz, suas atuações celebravam o surgimento de um novo Jairzinho, um Müller, um Búfalo Gil que levantava a torcida em cada contra-ataque. Os grandes times do futebol brasileiro sempre contaram com um, pois os gênios que empunham a dez precisavam de uma flecha para acionar o seu habilidoso arco em direção ao gol adversário.

Você começou bem, mas foi caindo de produção e fui temendo pelas suas atuações na noite do Rio. De tão bonita e concorrida, é um colírio para o turista. E uma armadilha para os que chegam à Gávea e não encontram os atletas que encontrei. Outro dia, na Internet, havia sua foto entre Pico, Éverton e outros candidatos ao sumiço, com uma
“long neck" às mãos comemorando... a zona do rebaixamento?

Em 1976, com sua idade, saia da concentração do Flamengo, em São Conrado, para estrear no Fla-Flu do troca-troca. Não tinha dormido direito. Havia deixado meu time de coração, o que defendi desde os 16 anos até os profissionais, e estava ansioso, pensando como me comportaria defendendo uma camisa por profissão. Não mais como prazer e por paixão. Até que o ônibus, antes de ultrapassar o túnel Dois Irmãos, passou diante da favela da Rocinha. Pela janela, vi gente despencando por aquelas escadas em euforia em direção ao Maracanã. Gente simples, humilde, trabalhadora, que se dirigia ao estádio para dar sentido a sua vida. Uma vitória do Fla, e esta fé estava escancarada nos olhos de cada torcedor, era o combustível que precisavam para ser feliz. E a medida que nos aproximávamos do Mário Filho, mais gente vinha chegando, como numa procissão. Por respeito a eles, lutei 90 minutos como se o adversário fosse mesmo um adversário.

Não tive sorte dentro de campo. Na quinta partida defendendo o clube, fraturei o tornozelo direito, passei dois meses com gesso e quando voltei, pressionado e com botinha de esparadrapo, era cedo demais para a lesão e cumpri meu contrato capengando. Ao seu final, restou-me tentar a vida em Recife, no Santa Cruz. Mas tive sorte fora de campo. Nos vestiários, no dia a dia com meus companheiros.
Zico, Junior, Cantarele, Jaime, Rondinelli, Geraldo, Tadeu e Luisinho eram autênticos funcionários da nação. Treinavam em dois períodos, dormiam cedo, se cuidavam. Tinha samba no ônibus e cerveja gelada, mas apenas no domingo. Após o dever. Nos juniores, chegando, surgiam Adílio, Andrade, Leandro, Tita e Julio César. Era uma família que, quando se juntou, ganhou tudo. Viraram exemplos porque conquistaram o mundo. Mas, antes respeitaram sua nação. Honraram o futebol.

Permita-me um conselho, Marcelo. Largue esta turma. E volte a treinar e dormir cedo. Se cuidar. Brindar com “Stelinha” apenas quando atingirem o G-4. O anti legado que Ronaldinho Gaúcho deixou ao clube foi abrir sua mansão a semana toda para o pagode. Implantou o desrespeito com o torcedor, atrasou a vida de tantas promessas, como você, que poderiam chegar à seleção, mas que hoje não passam de “adrianos”. Dignos de pena pelos atletas que poderiam ser diante de dom concedido para reverter uma injustiça social. Só depende de você mudar este jogo

Um grande abraço. Zé Roberto”.

Fonte: Blog do Renato Mauricio Prado