Estamos
chegando a um ponto crítico que nos aproxima da Grécia. A ressalva do
governador do Rio de que a União só poderá ajudar os governos em
dificuldades financeiras se fizer ele mesmo seu ajuste fiscal, iniciado
com o pacote de teto de gastos, é uma demonstração de que estamos
chegando num ponto crítico que nos aproxima mais da Grécia, que quebrou
antes de iniciar seu programa de ajustes para continuar na União
Europeia, do que dos poucos países que já conseguiram sair da crise que o
mundo enfrenta desde 2008.
A“marolinha” prevista pelo
ex-presidente Lula transformou-se em um tsunami, e não apenas pelos
efeitos da crise internacional. Ao contrário, nós conseguimos piorar as
coisas com nossas mazelas internas, potencializando uma crise que
originalmente já era muito difícil de enfrentar. A escolha dos
últimos 13 anos foi fazer um governo popular, em vez de corrigir os
defeitos que vinham se acumulando ao longo do tempo. Controlar a
inflação foi um grande feito com o Plano Real, mas necessitávamos de uma
série de reformas estruturais para recolocar o país nos trilhos, que
começaram com a reforma da Previdência, incompleta nos oito anos do
governo Fernando Henrique.
A fixação da idade mínima para a
aposentadoria já poderia ter sido aprovada, mas por um desses azares da
sorte o governo perdeu por um voto, e justamente o de um aliado. O
ex-ministro Antonio Kandir se absteve, depois alegou que se enganara e
não conseguiu retificar o voto. Podíamos ter resolvido essa questão em
1998, há quase 20 anos. O ex-presidente Lula assumiu o governo na
sucessão de Fernando Henrique desejando seguir a política reformista, e
começou pela Previdência. Teve tantas dificuldades para aprovar um
sistema de fundos de previdência para os servidores públicos, teve que
enfrentar os sindicatos, e preferiu ficar com suas corporações a levar
adiante as reformas, que incluíam até mesmo a trabalhista.
Não
regulamentou a medida, deixando-a guardada no fundo de sua gaveta
presidencial. Somente em 2012 a presidente Dilma Rousseff regulamentou a
criação da Fundação de Previdência Complementar do Servidor Público
Federal do Poder Executivo (Funpresp-Exe), o regime de previdência
complementar de servidores públicos civis. [o risco é que a tal Funpresp-Exe se transforme em um novo Postalis e ferre de vez com a aposentadoria dos servidores públicos que contribuem para aquela Fundação.]
A Funpresp tem a
participação apenas de novos funcionários que ingressaram no serviço
público depois de sua regulamentação, os funcionários públicos da época
continuaram a ter direito de se aposentar com salário integral. Já os
novos estão sujeitos a um teto e, para complementarem o valor,
contribuem com a Funpresp. Hoje estamos de volta ao passado,
tentando mais uma vez aprovar um limite de idade para a aposentadoria, e
unificar o sistema para que tenha um mínimo de racionalidade. A
situação econômica está encaminhada com a disposição do governo Temer de
aprovar as reformas, mas a teoria tem que se tornar realidade para que a
recuperação aconteça de fato.
Com as idas e vindas no Congresso,
e a espada da Operação Lava-Jato sobre a cabeça de grande parte dos
políticos, inclusive vários no núcleo duro do Palácio do Planalto, a
incerteza provoca oscilações na economia, e a previsão de crescimento do
PIB já está recuando mais uma vez. É preciso que os estados e
municípios, na maioria quebrados, entendam que não poderão contar com a
ajuda federal se não houver perspectiva de melhoria, e é essa a mensagem
que o governador Pezão transmitiu, depois de falar com o presidente
Temer: se as bancadas estaduais no Congresso não ajudarem a aprovar o
limite de gastos e a reforma da Previdência, não há como o governo
federal ajudar os estados.
Simples assim. Ou viramos uma Grécia,
que só começou a fazer as reformas exigidas pela União Europeia depois
de literalmente quebrar. E mesmo assim continua em convulsão, com parte
da população e dos políticos tentando barrar as mudanças
previdenciárias.
Fonte: O Globo - Merval Pereira
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domingo, 13 de novembro de 2016
Como na Grécia
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