A tônica da cerimônia de premiação dos melhores da música no ano, o Grammy,
realizada domingo passado em Los Angeles, foi, a exemplo do que já
ocorrera na entrega do Globo de Ouro recentemente, o combate ao assédio
sexual perpetrado contra mulheres — mais ou menos como se Collor
resolvesse nos passar um sermão contra a corrupção.
O“teste
do sofá”, afinal de contas, sempre foi sabidamente uma prática
corriqueira no meio artístico, solenemente tolerada durante décadas por
aqueles expoentes da mídia que de tudo sabiam e poderiam, se assim
quisessem, ter denunciado e revertido o quadro (como Oprah Winfrey e
Meryl Streep, amigonas do peito do tarado produtor Harvey Weinstein).
Sim, poderiam estas
figuras proeminentes ter evitando o sofrimento de inúmeras vítimas, mas
preferiram quedar-se caladas e seguir gozando de seus privilégios (para
somente agora, depois de tudo vindo à tona, fingirem afetação e lucrarem
chorando no púlpito).
Tudo foi temperado,
claro, com uma generosa dose de ódio ao presidente Donald Trump,
expressado das mais variadas e criativas formas (não que isto tenha sido
bom para os negócios, visto que a audiência caiu 21% em relação ao ano
anterior). É claro que este evento não foi um ato isolado: ele está inserido em uma onda de acusações de sexual misconduct
que vem tomando conta das capas de jornais na América. E a patrulha
politicamente correta, como não poderia deixar de ser, já está fazendo
de tudo para capitalizar em cima da dor alheia.
"As protagonistas do #MeToo recentemente
foram criticadas por artistas e intelectuais francesas. Essas alegaram,
em seu manifesto, que aquelas deturparam por completo o movimento
feminista de primeira onda. E não poderiam estar mais corretas: essas
lutaram, em meados do século passado, pelo direito de trabalhar, dirigir
e ter mais liberdade; aquelas só conseguem fazer as mulheres pagarem mais para entrar na balada, serem preteridas na entrevista de emprego e ficarem solteiras e depressivas por enxergarem nos homens inimigos mortais."
Nesta empreitada para
amealhar poder, quanto mais melhor: já há casos de carreiras
profissionais destruídas do dia para a noite por conta de revelações de
abusos sexuais que teriam ocorrido há mais de trinta anos e muitas
outras histórias de suposto machismo mal explicadas.