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domingo, 22 de setembro de 2019

O mundo acordou - Dorrit Harazim

O Globo

Duas greves que expõem o mundo à deriva

Greve Global pelo Clima, o movimento da garotada, foi maximalista em tudo: ambição, propósito, participação, desdobramento

As duas greves foram mera coincidência uma local/nacional, a outra global/universal. Elas são tão díspares que poderiam ter ocorrido em planetas diferentes. Ainda assim (ou por isso mesmo), somadas em suas diferenças, produziram o retrato mais eloquente do nosso mundo à deriva. A primeira foi convocada pelo Sindicato dos Metalúrgicos dos Estados Unidos, a outrora poderosa UAW, na sigla em inglês, e brotou na última unidade da GM em Flint (Michigan), histórico berço da paralisação trabalhista que em 1936 deu fama e força ao movimento sindical automotivo. Só que os tempos são outros, e hoje restam apenas 600 empregados naquela unidade. A UAW não recorria a paralisações há mais de uma década e conseguiu a adesão de 49 mil sindicalizados. E endureceu agora porque a GM decidira repassar ao sindicato a conta do seguro-saúde de seus trabalhadores. Mais: a empresa registrara um lucro de US$ 25 bilhões nos dois últimos anos, e sua CEO, Mary Berra, recebera um salário de US$ 22 milhões em 2018, 281 vezes superior ao do operário médio da empresa. Um deles resumiu assim o seu mundo em extinção: “Estamos lutando não só por nós, mas por nossos filhos e pelo futuro dos nossos filhos”. 

A segunda greve repetiu mantra semelhante ao derramar por ruas e praças do planeta um mar de jovens de 150 países. Chamada de Greve Global pelo Clima, o movimento da garotada foi maximalista em tudo — ambição, propósito, participação, desdobramento. Turbinado pelo ativismo monotemático da adolescente sueca Greta Thunberg, que desde o início do ano contagia o mundo como porta-voz de sua geração contra a degradação ambiental do planeta, o movimento virou arrastão. Foi acolhido por empresários e sindicatos, ONGs e lideranças mundiais; cruzou gerações, classes sociais, raças e gêneros, e atravessou idiomas para dar um mesmo recado: a Terra arde. Um comunicado conjunto dos prefeitos de Nova York, Los Angeles e Paris informava: “Quando sua casa está pegando fogo, você soa o alarme”. A prefeitura de Nova York chegou a liberar 1,1 milhão de estudantes de suas escolas públicas para participar do ato.

À mesma época em que Greta emergia nas ruas de Estocolmo com protestos solitários que se transformaram em corrente mundial, decanos do bom jornalismo americano constataram a falência da grande mídia mundial na cobertura do estado de saúde do planeta. Exceto por alguns rompantes luminosos como os alertas de Rachel Carson nos anos 1960, e de Bill McKibben 20 anos depois, ambos na revista “New Yorker”, as coberturas ambientais não encontravam foco nem rumo, consistência nem equilíbrio. Daí o nascimento do projeto Covering Climate Now, iniciado pela “Columbia Journalism Review” e pela revista “The Nation”, de incentivo a coberturas ambientais. Passados cinco meses, mais de 250 publicações, instituições, jornalistas independentes e meios digitais mundo afora se juntaram à empreitada, somando uma audiência global de mais de 1 bilhão de pessoas.

[IMPORTANTE; esta matéria deve ser lida em conjunto com Happy hour: exageros sobre clima causam enchente de piadas... clicando aqui.]

Embora a defesa do meio ambiente pipoque por todos os poros do planeta — com direito até mesmo a citação do poeta bengali Daulat Qazi, que no século 17 escreveu “A terra é nossa existência, e nosso corpo a ela está atrelado” —, a causa tem carga política explosiva. Há quem veja na própria Greta a semente de um movimento irracional, um culto fundamentalista. “Ela parece uma personagem messiânica que veio nos salvar de nossos pecados”, alerta o editor Brendan O’Neill, da revista britânica “Spiked”. “O que leva o mundo adulto, ou uma parte dele, a se prostrar aos pés de uma criança sueca, em adoração sacrílega, como se estivesse na presença de um messias renascido?”, indaga em coluna na “Folha” o escritor João Pereira Coutinho.

Ou, como diria o presidente Jair Bolsonaro, o mundo entrou “em psicose ambientalista”. E o Brasil por ele governado não deverá estar entre os 60 países que, a partir de amanhã, participarão da Cúpula de Ação Climática da ONU para anunciar seus projetos de redução de gases de efeito estufa. Pena, porque, como escreveu o editor da refinadíssima trimestral Lapham’s Quarterly, chegou a hora de saber se o capitalismo sobreviverá à mudança climática, ou se o clima alterado vai acabar com o capitalismo. E por trás das duas greves aqui citadas o relógio está ticando. Ele marca tempos distintos. No caso dos grevistas da indústria automobilística que emite CO2, o relógio marca o fim do mês, hora de pagar as contas. No ato dos ambientalistas, o relógio aponta para o fim do mundo, ou o tempo de adiá-lo. Urge acertar os dois ponteiros.



Dorrit Harazim, jornalista - Publicado em O Globo

 

BOLSONARO NA ONU - O Brasil contra o mundo - O Globo

 Bernardo Mello Franco

Bolsonaro discursa em Davos
Em agosto de 2018, Jair Bolsonaro expôs sua visão particular das Nações Unidas. Não serve para nada a ONU. É um local de reunião de comunistas”, afirmou. Em visita à Academia Militar das Agulhas Negras, onde assistiu a uma formatura de cadetes, o então candidato fez uma promessa: “Se eu for presidente, saio da ONU. Não serve pra nada essa instituição”. [O Blog Prontidão Total sempre manifestou sua opinião de que a ONU não tem utilidade,sendo na realidade o exemplo mais gritante da 'ditadura das minorias' - basta ver, que um único membro permanente do Conselho de Segurança da ONU pode, com o poder de veto,  anular uma decisão de todos os demais membros do colegiado.]

É difícil que ele repita a bravata na terça-feira, quando debutará na Assembleia Geral. Mesmo assim, seu discurso tem potencial para agravar o desgaste do Brasil no exterior. No último dia 11, o chanceler Ernesto Araújo ofereceu uma palinha do que pensa o governo. Em visita a Washington, ele esbravejou contra o “globalismo”, o “climatismo” e uma penca de pensadores mortos, como Jacques Lacan e Michel Foucault. Incluiu na lista a filósofa Rosa Luxemburgo, fuzilada por milícias de extrema-direita há exatos cem anos.


Em outra passagem, Araújo criticou os vegetarianos e disse que se vê num “apocalipse zumbi”. É como se sentem diplomatas mais experientes diante do Itamaraty da “nova era” “O Brasil tem um patrimônio diplomático construído ao longo de décadas. Agora ele está sendo posto a perder por uma guinada radical à extrema direita”, diz o embaixador aposentado Roberto Abdenur.  Ele se diz apreensivo com a estreia de Bolsonaro na ONU. “Estou muito preocupado com o discurso, porque temo que ele opte por uma linha de confrontação. Está se configurando um panorama muito negativo para o Brasil, que pode resultar em graves prejuízos políticos e econômicos”, alerta.

Com medo de protestos, o presidente já cancelou uma viagem a Nova York. Desta vez, terá que enfrentar os descontentes com a sua política antiambiental. Eles são cada vez mais numerosos: na sexta, a Greve Global pelo Clima tomou as ruas de 150 países. Os incêndios na Amazônia foram lembrados em dezenas de idiomas.
Amanhã, a ONU promoverá uma cúpula especial sobre a crise climática. Com a credibilidade em baixa, o Brasil não foi incluído entre as 60 delegações que usarão a palavra. Melhor assim. Um discurso negacionista causaria ainda mais desgaste à imagem do país. Na quinta passada, Bolsonaro mostrou que não está alheio ao que o espera. “Tá na cara que eu vou ser cobrado”, admitiu, referindo-se à grita internacional contra as queimadas. [para saber mais sobre a Greve Global pelo Clima, sugerimos clicar aqui.]

O presidente prometeu que “ninguém vai brigar com ninguém”, mas insistiu na tese de uma conspiração mundial contra o Brasil. “Vou enfrentar as críticas, vou enfrentar os chefes de Estado dos países que estão nessa campanha”, desafiou. O embaixador Abdenur sugere que ele adote um tom menos belicoso. “O Brasil precisa se mostrar aberto ao diálogo com outros países. Existe uma preocupação legítima com a Amazônia, com a questão indígena e com os direitos humanos”, observa.
Essa preocupação não é coisa de “comunistas”, como sugere o presidente. Na última semana, 230 fundos de investimento pediram ao governo que adote medidas eficazes para proteger a Amazônia. Eles administram uma fortuna estimada em R$ 65 trilhões, cerca de dez vezes o PIB do Brasil. [esses fundos de investimento querem alguma coisa e com certeza não estão preocupados com as queimadas e sim usá-las como pretexto para ganhar mais dinheiro.]

Bernardo Mello Franco, jornalista - O Globo