O presidente Lula prometeu durante a campanha eleitoral que iria isentar do Imposto de Renda todas as pessoas que ganham até R$ 5.000 por mês.
Foi mentira.
O governo acaba de anunciar que não, não vai haver isenção
nenhuma; “não há espaço”, dizem, para abrir mão dessa receita. É uma
trapaça. Segundo a ministra que fez o anúncio, 90% dos que pagam o IR
ganham até R$ 5.000 por mês; não dá, portanto, para aliviar tanta gente
assim.
Mas, então, por que Lula não pensou nisso na hora de fazer a
promessa? Se a isenção é impossível hoje, era igualmente impossível seis
meses atrás. Ou ele não tinha a menor ideia do que estava falando?
Nesse caso o candidato não sabia dos números mais elementares da questão
toda; assumiu um compromisso sem ter nenhuma intenção de cumprir o que
estava prometendo.
A palavra usada para descrever uma pessoa que faz uma
coisa dessas é: irresponsável.
Todo
palavrório de Lula e do seu governo a respeito de impostos, na verdade,
exibe para o público um espetáculo de hipocrisia maciça. Dizem que a
“política fiscal”, a partir do dia 1.º de janeiro e pela primeira vez na
história do Brasil, será feita a favor dos “pobres”. É mesmo? Um
cidadão que ganha até R$ 5.000 por mês é pobre; não pode haver nenhuma
dúvida sobre isso.
É óbvio, também, que a maneira mais imediata de um
governo ajudar os pobres é parar de tirar dinheiro do bolso deles. Na
vida real, porém, Lula se recusa a dar um centavo para quem tem pouco ou
nada; descobriu, de repente, que “não tem dinheiro”. É falso. Há
dinheiro, sim – mas não para os pobres.
No mesmo momento em que se
anunciava que não haveria isenção, o governo dava R$ 5 milhões para a
atriz Claudia Raia executar um empreendimento musical, por meio da infame “Lei Rouanet”;
com menos de um mês de nova gerência, a festa já está desse jeito. Por
que não há dinheiro para os pobres e há dinheiro para a atriz?
O
fato é que Lula quer exatamente o contrário do que fala – seu plano é
cobrar mais imposto, não menos. Desde o primeiro dia de novo governo, o
ministro da Fazenda e outros barões do que passa por ser a “equipe
econômica” não param de rosnar sobre a “necessidade” de mais receita.
O
ministro, inclusive, disse que “muita gente não paga imposto” nesse país
– uma ameaça clara de que o governo está decidido a transferir mais
renda da população para o seu próprio bolso. Sério?
Quem é essa “muita
gente”? Não se sabe quem seria, num país que arrecadou em 2022, só em
impostos federais, mais de R$ 2 trilhões; com os tributos de Estados e
prefeituras o total chegou quase a R$ 3 trilhões. Lula acha pouco. Como
vai pagar os artistas?
J. R. Guzzo, colunista - O Estado de S. Paulo