"Nas
favelas, /no Senado/ Sujeira pra todo lado/ Ninguém respeita a Constituição /
Mas todos acreditam no futuro da nação".
Site: A Verdade Sufocada
Foi o que perguntou o
ex-diretor da Petrobras Renato Duque ao ser preso em sua casa no início da Operação
Lava-Jato, ecoando, talvez inconscientemente, a música de Renato Russo que,
embora escrita em 1978 e só gravada em 1986, continuou atualíssima naquela
ocasião e agora, explicitando a decadência
moral do país. Inclusive pela
indignação autêntica que Duque, identificado nos autos como o atravessador de propinas para o PT na Petrobras, exibiu
para seu advogado mesmo na hora de ir preso.
É o caso dos Duque, dos Paulo
Roberto Costa, dos Cerveró, e de toda a lista de políticos, com ou sem mandato,
que brevemente será revelada.
Um
estrangeiro que chegasse ao Brasil por esses dias se sentiria mais próximo de
uma Venezuela, de uma Argentina, do que gostaríamos. O velho dito popular "eu
sou você, amanhã", o chamado
"efeito Orloff" em relação à Argentina, cada vez ganha
mais força com a sequência de acontecimentos ruins que não têm data para terminar,
pois a "presidenta" parece cada vez mais longe da realidade, enquanto o "presidente" flerta abertamente com o "exército" do Movimento dos Sem
Terra (MST) para enfrentar os críticos do petismo.
Um ato para "defender" a Petrobras,
transforma-se em ato para atacar os que denunciam a corrupção e defender os
corruptos. Um manifesto de intelectuais denuncia uma pseudo tentativa de "debilitar a Petrobras", tendo como consequência a
dizimação de empresas "responsáveis
por mais de 500.000 empregos qualificados, remetendo-nos uma vez mais a uma
condição subalterna e colonial". Fingindo
desconhecer que quem debilitou a Petrobras foram os
ladrões instalados nas diretorias da estatal pelos governos petistas.
Só de propina para o PT ao longo dos anos
calcula o gerente Pedro Barusco que foram entre US$ 150 e 200 milhões. As brigas de rua, com milicianos de camisas
vermelhas agredindo manifestantes a favor do impeachment da presidente Dilma, dão uma tênue ideia do que poderá
vir a ser uma praça de guerra que vemos todos os dias ultimamente no noticiário
sobre a Venezuela ou a Argentina. Os caminhoneiros bloqueando estradas em 12
estados por causa da alta do preço do diesel é uma visão que parece deslocada
no tempo, trazendo de volta antigas campanhas políticas na região.
Para um
olhar estrangeiro, o que diferencia
Brasil de seus vizinhos bolivarianos é muito pouco, e nossas instituições
precisarão ser muito firmes, e ter uma visão democrática profunda, para não serem atropeladas pelas manobras
governamentais, que não desistem de atuar para atrapalhar o trabalho do
Ministério Público.
Estamos
aos poucos regredindo para o estágio de
uma República Bananeira, onde tudo está à venda,
época que parecia ter sido superada nos anos de democracia. Mas a utilização de instrumentos democráticos para enfraquecer a
própria democracia é uma história antiga dos movimentos autoritários,
onde uns são mais iguais que outros, como na "Revolução dos Bichos", de George Orwell, que tão bem
desvelou as entranhas dos regimes autoritários.
Ontem, o "Financial
Times" publicou uma
reportagem dando 10 razões que podem
levar ao impeachment de Dilma, e sintomaticamente o jornal inglês seleciona
os perigos da economia como detonadores
do processo político de impedimento da presidente:
- escândalo
da Petrobras;
- queda
na confiança do consumidor;
- aumento
da inflação;
- aumento
do desemprego;
- queda
na confiança do investidor;
- déficit
orçamentário;
- problemas
econômicos no geral;
- falta d’água;
- possíveis
apagões elétricos.
=
- perda
de apoio no Congresso.
Todos
esses problemas puramente econômicos levariam, como consequência, à perda da
maioria no Congresso, abrindo caminho
para um processo político de impeachment. O importante a notar é que o impeachment já se tornou um tema inevitável nas
análises sobre o futuro do país, e seria hipocrisia tratá-lo como algo
de que não se deve falar. O país está
convulsionado, e sem uma liderança
com grandeza que possa levar a acordos políticos indispensáveis para a
superação do impasse que se avizinha.