Sou um homem endividado e ser um homem endividado é a pior
coisa que poderia ter acontecido na minha vida, incluindo a artrose no
joelho e a escassez de títulos do meu time.
Há 5 anos, tomei a decisão que arruinou tudo: construir uma casa que não era para o meu bico. Sabe qual é o fim da história? Vou resumir em uma palavra: dancei. Fiz o humilde teto porque eu acreditava no Brasil (pode rir agora). A economia pulsava e o otário aqui arranjou meia dúzia de empréstimos bancários para investir em tijolos e vasos sanitários de uma marca bacana.Mas, que porcaria (falando em privadas…), sou jornalista e o mercado jornalístico derreteu nos últimos anos. Junte a isso a Lava-Jato (que parou tudo), o PIB eunuco, a fome insaciável dos bancos e a péssima reputação que devo ter na praça. Resultado: quebrei.
Agora mesmo, depois de criar coragem, fui consultar o saldo devedor do cartão de crédito. Como não paguei a fatura anterior, a dívida quase dobrou. Imagino o diretor da instituição financeira com o extrato em mãos: “Yes, peguei o pateta do Amauri.” O homem endividado faz o diabo para viver. Ele pega dinheiro emprestado, e o parente deixa de ser aquela figura fofa e querida para ser o credor. Ele saca dinheiro com o cartão de crédito sem prestar atenção nos custos hiperbólicos. Ele aumenta o limite do cheque especial, faz empréstimo consignado e vende os vinis do Clash e do Kid Abelha (ah, anos 80).
Ele ouve uma saraivada de nãos: do gerente do banco, da moça da Vivo, do cara da Net. Ele não atende mais o telefone (é só cobrança mesmo). Ele não sai, não se diverte, não pensa em outra coisa a não ser saquear o supermercado mais próximo. O homem endividado tem a palavra “culpado” cravada na testa, mas ele sabe que o sistema financeiro (“o horror, o horror”) não é santo nessa história.O homem endividado “está perdido numa floresta escura de remorso” (a frase é do Jonathan Franzen).
O homem endividado só não pode perder a capacidade de rir de si próprio. Ou vai dar merda.
O homem endividado aumenta o limite do cheque especial, faz empréstimo consignado e vende os vinis do Clash e do Kid Abelha
Por: Amauri Segalla - IstoÉ
Há 5 anos, tomei a decisão que arruinou tudo: construir uma casa que não era para o meu bico. Sabe qual é o fim da história? Vou resumir em uma palavra: dancei. Fiz o humilde teto porque eu acreditava no Brasil (pode rir agora). A economia pulsava e o otário aqui arranjou meia dúzia de empréstimos bancários para investir em tijolos e vasos sanitários de uma marca bacana.Mas, que porcaria (falando em privadas…), sou jornalista e o mercado jornalístico derreteu nos últimos anos. Junte a isso a Lava-Jato (que parou tudo), o PIB eunuco, a fome insaciável dos bancos e a péssima reputação que devo ter na praça. Resultado: quebrei.
Agora mesmo, depois de criar coragem, fui consultar o saldo devedor do cartão de crédito. Como não paguei a fatura anterior, a dívida quase dobrou. Imagino o diretor da instituição financeira com o extrato em mãos: “Yes, peguei o pateta do Amauri.” O homem endividado faz o diabo para viver. Ele pega dinheiro emprestado, e o parente deixa de ser aquela figura fofa e querida para ser o credor. Ele saca dinheiro com o cartão de crédito sem prestar atenção nos custos hiperbólicos. Ele aumenta o limite do cheque especial, faz empréstimo consignado e vende os vinis do Clash e do Kid Abelha (ah, anos 80).
Ele ouve uma saraivada de nãos: do gerente do banco, da moça da Vivo, do cara da Net. Ele não atende mais o telefone (é só cobrança mesmo). Ele não sai, não se diverte, não pensa em outra coisa a não ser saquear o supermercado mais próximo. O homem endividado tem a palavra “culpado” cravada na testa, mas ele sabe que o sistema financeiro (“o horror, o horror”) não é santo nessa história.O homem endividado “está perdido numa floresta escura de remorso” (a frase é do Jonathan Franzen).
O homem endividado só não pode perder a capacidade de rir de si próprio. Ou vai dar merda.
O homem endividado aumenta o limite do cheque especial, faz empréstimo consignado e vende os vinis do Clash e do Kid Abelha
Por: Amauri Segalla - IstoÉ