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quarta-feira, 7 de junho de 2023

Artrose: uma questão de tempo? - Marcio Attala

O Globo

Desgaste é a palavra que traduz o processo do avanço da idade. Assim como tudo que existe no mundo, nós, seres humanos, também sofremos desgaste com o passar dos anos. E em todas as partes do nosso corpo. Em todos os processos bioquímicos. Em todo nossos músculos e esqueleto. Onde podemos facilmente ver e onde nunca poderemos nem sequer imaginar.

A artrose acontece para todas as pessoas que vivem bastante. Não tem como fugir. Ela é o processo de desgaste das juntas ou articulações. Isso não ocorre com todas as juntas de nosso corpo. As do crânio, por exemplo, quase não se movem e por isso sofrem menos desgaste. Mas, as juntas de movimento médio, ou ainda mais, as de movimento amplo, como joelhos e ombros, são mais suscetíveis ao desgaste. 
 
O que permite que um osso deslize sobre o outro sem que sintamos dor, é a presença da cartilagem, que também sofre desgaste com o tempo. 
 Outros fatores que podem aumentar a deterioração dela são as fraturas e inflamações crônicas, como a gota (excesso de ácido úrico) ou a artrite reumatoide. Com o desgaste da cartilagem, começa o processo de artrose. 
 
A artrose é a doença mais frequente dentro do grupo das complicações reumatológicas, representando cerca de 30 a 40% dos casos. E como está diretamente associada ao envelhecimento, e nossa expectativa de vida aumentou, é quase certo que todas as pessoas que ultrapassem os 60 anos de idade tenham essa condição. 
Principalmente as mulheres, que são as maiores vítimas desse quadro. 
A sorte é que se trata de uma doença que não está associada à morte. Ou seja, seu aparecimento não é condição fatal, mas os desconfortos que provoca, podem ser terríveis.

Artrose nas mãos, por exemplo, faz com que os dedos fiquem tortos, provoca deformidade em toda a mão e causa dores. Na coluna, mais especificamente na coluna cervical e lombar, os conhecidos bicos de papagaio, podem provocar além de dor, fadiga muscular, formigamento, rigidez e limitação dos movimentos. Nos joelhos e quadril também geram deformidades, inchaço e muita dor. Muitos casos devem ser tratados com substituição das articulações por próteses.

Apesar de ser uma doença praticamente impossível de se evitar, é totalmente possível de ser amenizada e postergada, com cuidados no dia a dia. Primeiro, é manter o peso corporal dentro dos padrões. 
O sobrepeso não é causa da artrose, mas é um fato importante não apenas para desenvolver a doença, como para torná-la um quadro grave. O sedentarismo é outro comportamento que apresenta risco, porque uma musculatura fraca e hipotrofiada provoca sobrecarga nas articulações. 
Por outro lado, o excesso de exercício, ainda mais feito com muito peso ou alto impacto, também, pode ser fator de desenvolvimento da inflamação nas juntas. 
 
Também não existe um tratamento que faça com que a artrose desapareça. Uma vez instalada, não tem como regredir
Por isso, é fundamental ter atenção aos sintomas, procurar evitar os processos que provocam inflamações, como por exemplo, o excesso de álcool que acaba ocasionado o surgimento da gota. 
 
A malhação é importante, músculos fortes dão melhor suporte às articulações
Então é fundamental pegar peso, sim. Na dose certa, sem exageros. Outros exercícios, como alongamento ou Pilates também são muito recomendados porque ajudam a melhorar a postura e ganhar amplitude articular. 
Palmilhas e joelheiras podem ajudar a dar conforto quando a artrose já está estabelecida. 
E com relação a fazer gelo ou calor, não há nenhuma comprovação científica da eficácia de nenhum dos dois, mas se promover alivio, não há contraindicação alguma. 
A ideia é melhorar a qualidade de vida e reduzir o desconforto ao máximo.

Marcio Attala, colunista - Espiritualidade e Bem-estar - O Globo 

 

domingo, 2 de abril de 2017

O homem endividado e a fome insaciável dos bancos

Sou um homem endividado e ser um homem endividado é a pior coisa que poderia ter acontecido na minha vida, incluindo a artrose no joelho e a escassez de títulos do meu time.

Há 5 anos, tomei a decisão que arruinou tudo: construir uma casa que não era para o meu bico. Sabe qual é o fim da história? Vou resumir em uma palavra: dancei.  Fiz o humilde teto porque eu acreditava no Brasil (pode rir agora).  A economia pulsava e o otário aqui arranjou meia dúzia de empréstimos bancários para investir em tijolos e vasos sanitários de uma marca bacana.Mas, que porcaria (falando em privadas…), sou jornalista e o mercado jornalístico derreteu nos últimos anos. Junte a isso a Lava-Jato (que parou tudo), o PIB eunuco, a fome insaciável dos bancos e a péssima reputação que devo ter na praça. Resultado: quebrei.

Agora mesmo, depois de criar coragem, fui consultar o saldo devedor do cartão de crédito. Como não paguei a fatura anterior, a dívida quase dobrou. Imagino o diretor da instituição financeira com o extrato em mãos: “Yes, peguei o pateta do Amauri.”  O homem endividado faz o diabo para viver. Ele pega dinheiro emprestado, e o parente deixa de ser aquela figura fofa e querida para ser o credor. Ele saca dinheiro com o cartão de crédito sem prestar atenção nos custos hiperbólicos.  Ele aumenta o limite do cheque especial, faz empréstimo consignado e vende os vinis do Clash e do Kid Abelha (ah, anos 80).

Ele ouve uma saraivada de nãos: do gerente do banco, da moça da Vivo, do cara da Net. Ele não atende mais o telefone (é só cobrança mesmo).  Ele não sai, não se diverte, não pensa em outra coisa a não ser saquear o supermercado mais próximo. O homem endividado tem a palavra “culpado” cravada na testa, mas ele sabe que o sistema financeiro (“o horror, o horror”) não é santo nessa história.O homem endividado “está perdido numa floresta escura de remorso” (a frase é do Jonathan Franzen).

O homem endividado só não pode perder a capacidade de rir de si próprio. Ou vai dar merda.
O homem endividado aumenta o limite do cheque especial, faz empréstimo consignado e vende os vinis do Clash e  do Kid Abelha

Por: Amauri Segalla - IstoÉ