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sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Uma bagunça - Eliane Cantanhêde

Estado de S.Paulo

‘DO’ descartável: demite, readmite e demite de novo, com o PPI de galho em galho

Mesmo quando acerta, o presidente Jair Bolsonaro acaba errando. Incrível! Parece viciado em notícias e declarações bombásticas e, quando passa um dia sem disparar uma delas, sofre de abstinência e manda ficha. Lá vem manchete e lá vem a horda bolsonarista caindo em cima do mensageiro, leia-se, da mídia. Bolsonaro acertou ao demitir sumariamente o tal Vicente Santini, que era do segundo escalão da Casa Civil, estava temporariamente como ministro e se sentiu no direito de convocar um Legacy da FAB para ir à Índia. Não é só ridículo, custa uma fortuna aos cofres públicos. E é você, leitor, leitora, quem paga a farra.

Se o presidente estava certo e até os críticos reconheceram isso, por que readmitir Santini na mesma Casa Civil e com um salário apenas R$ 383 mais baixo? Sua audácia até que saiu baratinha, mas só para ele. Bolsonaro não tem saída. Ou foi ele quem readmitiu o assessor, depois de se encontrar pessoalmente e acertar tudo com o próprio, ou não foi ele e é sinal de que não manda nada, não sabe de nada e qualquer um faz o que bem entende dentro do Palácio do Planalto, sob suas barbas. Se correr, o bicho pega; se ficar, o bicho come. [a primeira alternativa, apesar de absurda, ainda é aceitável, considerando o caráter discricionário do cargo - e, se alguém induzi o presidente ao erro, demissão imediata para o alguém;
já a segunda, se ocorreu, impõe que o senhor Presidente Bolsonaro, demita sumariamente o autor da readmissão.
Quem mantém a autoridade presidencial é o titular do cargo.]

O que torna a lambança ainda pior é o fato de Santini ser amigão dos filhos do presidente, o que induz à conclusão óbvia de que papai Jair demitiu e os filhotes readmitiram, o que é bem verossímil, já que os meninos têm poder até de fazer o chanceler, o ministro da Educação, o presidente do BNDES. Bem, mas era preciso encontrar o mordomo da história e não foi difícil. Ele estava ali, disponível, evidente: Onyx Lorenzoni, o ministro da Casa Civil que não manda nada e só está onde está, consta, porque é o único ser, em todo o universo, capaz de fazer a ponte entre Bolsonaro e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre.

Historicamente, desde que era Gabinete Civil na ditadura militar, com nomes como Golbery do Couto e Silva e Leitão de Abreu, a Casa Civil da Presidência da República é o coração dos governos. [no Governo Militar, tanto o Gabinete Militar quando o Gabinete Civil, eram locais sérios, sob o comando do ministro-chefe de cada gabinete - foi durante o período da organização criminosa perda total = pt, que a Casa Civil se tornou central de corrupção e todos os seus titulares além das atribuições inerentes à Casa, comandavam o segundo nível de corrupção: Zé Dirceu,  Palocci, Dilma, Erenice e substitutos.] Seus chefes são os grandes articuladores políticos, ou os gerentes dos ministérios, ou ambos.

E o que é, afinal, Onyx Lorenzoni no governo Bolsonaro? Nunca coordenou os ministérios, entregou a articulação política já no primeiro ano para um general de quatro estrelas, e da ativa, e acaba de perder para Paulo Guedes o seu prêmio de consolação: o Programa de Parcerias de Investimentos (PPI). Perdeu, aliás, o que nunca chegou a ter. Alguém sabe dizer o que sobrou para Lorenzoni, além de tirar fotos em solenidades do Planalto? Nada. Ou, como provocam os críticos da internet (esses “esquerdopatas que querem destruir a família brasileira”), só sobrou uma coisa: as mordomias. Até quando?

Além da profusão de declarações chocantes, Bolsonaro se especializou em demitir sob pressão ou por cisma ideológica. Vélez Rodríguez caiu do MEC e Roberto Alvim, da Cultura, por pressão. Ricardo Galvão (Inep) e Joaquim Levy (BNDES) entram na segunda categoria. Técnicos competentes, ambos irritavam o presidente por terem atuado em governos do PT e por dizerem as verdades que ele não queria ouvir nem divulgar. [Ricardo Galvão pode até ter competência para a função que exercia, porém, é ZERO em termos de respeito ao superior, de disciplina e hierarquia;
o Levy, tem competência, mas, o seu grau de contaminação com o vírus petista, tornou aconselhável ser desligamento.
quanto ao Vélez Rodrigues sua incompetência tornou imperativo seu afastamento e o Alvim foi, devido um momento de descuido do presidente da República, demitido para atender ao politicamente correto.] Mas seus sucessores confirmam exatamente o que diziam.

A pergunta que não quer calar agora é quando (e não se...) Bolsonaro vai demitir tanto Onyx Lorenzoni quanto Abraham Weintraub, do MEC. Um por não servir para nada e o outro, por atrair chuvas, trovoadas e críticas públicas do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, numa área absolutamente fundamental.  
[pena que o eleitorado (por sinal, mínimo) do presidente da Câmara ainda não optou por demiti-lo;
 
o cidadão foi eleito deputado federal - quase faltou voto - conseguiu a presidência da Câmara, se autonomeou 'primeiro-ministro', passou a dar pitaco no Executivo, também no Judiciário, sem ter a necessária ética e senso de respeito ao texto constitucional que decreta a independência do Poderes da República.]

Até lá, o governo que demite, readmite e demite de novo em 24 horas vai empurrando o Coaf, a Funai, o Trabalho, a Cultura e agora o PPI para lá e para cá. O Diário Oficial da União (DO) virou descartável. 
 
Eliane Cantanhêde, colunista - O Estado de S.Paulo