A nova safra de delações
Um segundo tempo de delações é esperado. A perspectiva de depoimentos de Leo Pinheiro (OAS), Antonio Palocci (ex-ministro) e Eduardo Cunha (ex-presidente da Câmara), assombram o ex-presidente Lula
EDUARDO CUNHA NAVIOS SONDA O ex-deputado Eduardo Cunha
pode detalhar o que fez com os US$ 5 milhões que ganhou na compra de
navios-sonda pela Petrobras; LÉO PINHEIRO TRÍPLEX NO
GUARUJÁ Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, pode contar como foi o
negócio que fez com Lula no caso do triplex do Guarujá; OTÁVIO MARQUES DE AZEVEDO
O RECALL DA ANDRADE O ex-presidente da Andrade Gutierrez, Otávio
Marques de Azevedo, pode explicar como foram as propinas de obras no
Rodoanel; ANTONIO PALOCCI O CAIXA O ex-ministro Antonio
Palocci pode falar sobre a contabilidade do dinheiro que recebia da
Odebrecht e repassava para o PT e especialmente para Lula
O ex-deputado Eduardo Cunha também assusta Lula, porque foi durante o governo petista que ele atuou em negócios com a Petrobras que lhe renderam milhões de reais em propinas, como na compra na Coréia de navios-sondas da Samsung. Nesses negócios, em 2008, Cunha ganhou mais de US$ 5 milhões em propinas, que acabaram depositadas na Suíça. Mas Cunha pode encrencar também seus amigos do PMDB, sobretudo ministros do governo Michel Temer, como o Moreira Franco (da secretaria de privatizações) e Eliseu Padilha (Casa Civil).
Além dessas explosivas delações, há também o recall que a delação dos 77 executivos da Odebrecht deve provocar. Juízes da equipe do ministro do STF, Teori Zawascki, que analisam os depoimentos de executivos da Odebrecht, constataram que será necessário que alguns delatores de outras empreiteiras, como da Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa, voltem a prestar novos depoimentos, para esclarecer fatos que vieram à público agora. Houve executivo que mentiu ou omitiu coisas agora reveladas pela Odebrecht.
OMISSÕES
Com a assinatura do acordo de delação premiada da Odebrecht e sua provável homologação pelo STF após a volta do recesso do Judiciário, os investigadores da Lava Jato vão se deparar com uma demanda reprimida de antigas e novas delações. No primeiro caso, delatores que não revelaram tudo que sabiam vão ter que prestar novos esclarecimentos sobre fatos omitidos em seus depoimentos e que podem lhe render problemas perante a Justiça. Em tese, essa omissão poderia significar o rompimento da delação, provocando a perda dos benefícios do acordo. Além desses, novos colaboradores em negociação com o Ministério Público Federal devem ajudar a desvendar as peças do quebra-cabeças de corrupção sistêmica que se apossou da Petrobras e outros órgãos públicos durante a gestão petista.
A expectativa dentro da Lava Jato é que executivos de duas empreiteiras, a Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa, façam os chamados “recall” em suas delações, porque os investigadores descobriram indícios de crimes que seus executivos não haviam contado anteriormente. Isso aconteceu principalmente por meio de novas delações premiadas. No caso da Andrade, o ex-presidente da empresa, Otávio Marques de Azevedo, deve prestar novo depoimento. Os procuradores querem saber detalhes de irregularidades em obras da gestão tucana de Minas Gerais, enquanto a Camargo deve contar fatos relacionados à construção do Rodoanel em São Paulo. Esses depoimentos ainda estão sob negociação com os procuradores, que querem uma justificativa factível para a omissão desses fatos, para definir se romperão os acordos ou se podem mantê-los.
Também o ex-senador Delcídio do Amaral (ex-PT-MS), que foi preso pela Lava Jato em novembro de 2015 e pouco tempo depois assinou uma delação, deve ser colocado contra a parede para esclarecer fatos que não revelou. Isso porque a delação da Odebrecht trouxe a público relatos de pagamentos de propina a Delcídio em troca da obtenção de sua ajuda na aprovação de medidas no Congresso Nacional que eram de interesse da empreiteira. Nada disso havia sido contado por Delcídio em sua delação, o que pode complicar a sua situação, já que o ex-senador só deixou a prisão depois de ter assinado o acordo. Hoje, ele vive uma espécie de retiro em sua fazenda, no interior do Mato Grosso do Sul.
AS OMISSÕES DOS DELATORES
O que os procuradores querem saber no recall das delações
Otávio Marques de Azevedo
O que já contou
– Pagou propina ao PT e PMDB por meio de doações oficiais por causa de obras do governo
O que falta contar
– Irregularidades em obras do governo de Minas Gerais, como a cidade administrativa
Gustavo da Costa Marques
O que já contou
– Ex-diretor da Camargo Corrêia admitiu participação em cartel na Petrobras e pagamento de propina para obter contratos
O que falta contar
– Irregularidades em obras do governo de São Paulo
Delcídio do Amaral
O que já contou
– Participou de trama para tentar obstruir a Lava Jato
O que falta contar
– Pagamentos de propina da Odebrecht para obter benefícios em medidas discutidas no Congresso
Fonte: Aguirre Talento - Isto É