Blog Prontidão Total NO TWITTER

Blog Prontidão Total NO  TWITTER
SIGA-NOS NO TWITTER
Mostrando postagens com marcador Leo Szilard. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Leo Szilard. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 31 de outubro de 2018

“Rastros de ódio” e outras notas de Carlos Brickmann

Bolsonaro venceu as eleições num clima tenso, em que sofreu até um atentado que por pouco não o matam, mas ainda está com retórica eleitoral


Ao assinar o Ato Institucional nº 5, a mais sinistra norma da ditadura que hoje dizem que não houve, o vice-presidente Pedro Aleixo alertou para o risco da concentração de poder. Perguntaram-lhe se não confiava no presidente Costa e Silva. Aleixo: “Tenho medo é do guarda da esquina”.

Bolsonaro venceu as eleições num clima tenso, em que sofreu até um atentado que por pouco não o mata. Ainda está com retórica eleitoral, diz que vai cortar as verbas oficiais de órgãos de imprensa que mentirem ─ em vez de processá-los na forma da lei. Mas tem seus guardas de esquina, que adoram radicalismo: agora, querem boicotar 700 pessoas, entre as quais numerosos artistas, pelo crime de terem se manifestado pelo PT. 

Cada cidadão é livre para assistir ou não aos espetáculos artísticos. Se resolver desistir de algumas obras-primas de Chico Buarque por seu apoio a Cuba, que desista nada contra. Mas mover uma campanha para boicotar quem optou por outro candidato não é liberdade: é crime, dá processo, mesmo que a veiculação seja apenas pelo WhatsApp. E é coisa velha que já provou seu desvalor: nos Estados Unidos, ocorreu no início da década de 1950, e se chamou macarthismo lembrando o nome do senador Joseph McCarthy, que comandou a campanha. Hoje, sabe-se: foi coisa de idiota.
O macarthismo não partiu de Bolsonaro. Mas ele é que precisa dizer a seus adeptos sinceros, porém radicais, que assim não dá para liderar o país.

Velhas histórias
Na década de 1930, Alemanha e Itália fizeram campanha de boicote aos judeus na Europa (que depois virou massacre). Cientistas como Enrico Fermi, Albert Einstein, Leo Szilard, Hans Bethe, Edward Teller migraram para os Estados Unidos. E foram parte essencial do Projeto Manhattan, que construiu as primeiras bombas atômicas. Os artistas perseguidos na Europa ajudaram a transformar Hollywood na capital mundial do cinema.

Assim é difícil
A crise é brava, o desemprego é alto, e é hora de pensar, como Juscelino Kubitschek pensou, em pacificar o país. Haddad se veste bem, mas não teve gentileza suficiente para reconhecer a derrota e desejar boa sorte ao vitorioso (só se manifestou no dia seguinte, e não de viva voz: só Twitter). O Movimento dos Sem-Teto já invadiu a casa onde morava o empresário Georges Gazale, em São Paulo. Guilherme Boulos, do MTST, promete resistir e a resistência começa nesta semana, embora Bolsonaro só tome posse em janeiro. É uma política de confronto. A população fica no meio.

E uma deputada do PSL de Santa Catarina, Ana Caroline Campagnolo, sugere a universitários que espionem os professores, até gravando a aula, para denunciá-los. Mas desta o Ministério Público já está cuidando.

(...)
Guerra à imprensa
Bolsonaro acusa a Folha de S.Paulo de mentir e ameaça cortar as verbas públicas de publicidade para os veículos de comunicação que mentirem. E quem verifica a mentira? Dias antes de sua morte, ainda havia prognósticos favoráveis a respeito da saúde de Tancredo Neves, desmentindo as noticias dos jornais e eram os jornais que estavam certos, falando a verdade.

É bobagem declarar guerra à imprensa: quem aniquila um veículo não é o Governo, são seus leitores, ouvintes, espectadores. Estar em guerra com ela não faz com que deixe de publicar as notícias que apurar. É importante lembrar que toda imprensa é de oposição. Se a imprensa só divulga notícias a favor do Governo, não se chama imprensa: seu nome é propaganda.

  Novo líder
Preste atenção em Ciro Gomes, PDT. Perdeu as eleições, mas tanto ele quanto sua vice, Kátia Abreu, cresceram na campanha. Ciro está disposto a liderar a oposição a Bolsonaro, sem ligação com Lula. Parece disposto a fazer oposição de verdade, não oposição para impedir o país de funcionar.

Publicado na Coluna de Carlos Brickmann