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domingo, 7 de maio de 2017

Lula X Moro: em vídeo, juiz pede a seguidores que evitem Curitiba

Titular da 13ª Vara diz a seus partidários que a mobilização, no dia do depoimento de Lula, pode resultar em confusão, com pessoas machucadas

[Meritissimo juiz Sérgio Moro, pedimos vênia para expressar a Vossa Excelência o entendimento que o vídeo abaixo representa estar a 13ª Vara Federal de Curitiba, por seu titular, dando a Lula um valor indevido.
Lula é apenas réu em vários processos que estão na Vara sob a chefia de Vossa Excelência e deve ser tratado exatamente da mesma forma que outros réus o são.
Aliás, não seria exagero da parte de Vossa Excelência considerando a abundância de crimes cometidos por Lula  - que serão provados, situação que o torna um réu condenado = réu bandido e é nesta condição que ele deve ser tratado.
É nobre a intenção do senhor, mas, bandidos devem ser tratados como bandidos, qualquer concessão, pode ser mal interpretada e levar tais bandidos a se considerarem merecedores de benesses.] 
 
O juiz Sergio Moro houve por bem publicar um vídeo no Facebook em que pede a seus partidários que evitem manifestações na próxima quarta-feira, quando o ex-presidente Lula presta depoimento à 13ª Vara Federal de Curitiba. Segue abaixo.
Pois é…
Ainda que Moro esteja pedindo a seus seguidores que NÃO SE MANIFESTEM, o comportamento é certamente indevido a um juiz. Fazer o quê? Ou os integrantes do Poder Judiciário seguem as regras corriqueiras numa democracia, ou as coisas se degeneram.

É evidente que não cabe a um juiz passar orientações a manifestantes, ainda que esteja falando aos seus. Se o faz, admite a existência de uma liderança que nada tem a ver com o poder que lhe confere a toga. Ou que decorre impropriamente do poder que lhe confere a toga. Transcrevo um trecho:
“Eu tenho ouvido que muita gente que apoia a Operação Lava Jato pretende vir a Curitiba manifestar esse apoio, ou pessoas mesmo de Curitiba querem vir aqui manifestar esse apoio. Eu diria o seguinte: esse apoio sempre foi importante, mas, nessa data, ele não é necessário. Tudo o que se quer evitar nessa data é alguma espécie de confusão e conflito e, acima de tudo, não quero que ninguém se machuque em eventual discussão ou conflito nessa data. Por isso, a minha sugestão é: não venha, não precisa, deixa a Justiça fazer o seu trabalho. Tudo vai ocorrer com normalidade, e eu espero que todos compreendam”.

As palavras fazem sentido, não? Vamos ver.
Como Sergio Moro tem a obrigação da neutralidade, a sua mensagem deveria ser dirigida tanto aos que vão a Curitiba para vituperar contra Lula como aos que se organizam para defendê-lo. “Ah, Reinaldo, Moro vai pedir para petista não ir?”  Bem, então se admite que ele virou uma liderança do antipetismo? Ora, é descabido!

Observem que o juiz nem mesmo se refere aos apoiadores de Lula, a não ser de maneira encoberta, quando diz a seus seguidores que evitem confusão e conflito para que ninguém “se machuque”. E, suponho, para que “não se machuque ninguém”, não é? O lugar desse “se” na frase faz uma brutal diferença. Afinal, numa confusão e num conflito, os dois lados batem e apanham, certo?
Sim, eu endosso — mas eu posso, já que não julgo ninguém — as palavras de Moro. Acho que lulistas e antilulistas deveriam se ater às regras normais do estado democrático, deixando, como diz o juiz, “que a Justiça faça seu trabalho”. E mais: Moro deveria ter atuado antes. Infinitas páginas nas redes sociais que convocam atos de solidariedade à Lava Jato e contra Lula trazem a imagem do magistrado. Quando menos, ele deveria ter feito um anúncio público pedindo que fossem apagadas. 

De resto, quantas foram as vezes em que vimos e ouvimos membros da Lava Jato a dizer que só o “povo na rua” assegura a independência da operação? Ainda há dias, procuradores da República, liderados por Deltan Dallagnol, pregavam resistência a um ato do Senado assentados nesta premissa: sem mobilização, a operação se fragiliza. E isso é falso.

Sim, lulistas e antilulistas deveriam evitar a pantomima de rua, como se um simples depoimento de um réu mesmo sendo Lula fosse definir os rumos da história do Brasil. Não será a gritaria dos “companheiros” a intimidar Moro. Nem será a gritaria dos lava-jatistas, suponho, a estimulá-lo.  Juiz não orienta torcida. No máximo, a sua atuação pública, que tem de se pautar pela isenção e pela retidão.
 
Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo - VEJA