Titular da 13ª Vara diz a seus partidários que a mobilização, no dia do depoimento de Lula, pode resultar em confusão, com pessoas machucadas
[Meritissimo juiz Sérgio Moro, pedimos vênia para expressar a Vossa Excelência o entendimento que o vídeo abaixo representa estar a 13ª Vara Federal de Curitiba, por seu titular, dando a Lula um valor indevido.
Lula é apenas réu em vários processos que estão na Vara sob a chefia de Vossa Excelência e deve ser tratado exatamente da mesma forma que outros réus o são.
Aliás, não seria exagero da parte de Vossa Excelência considerando a abundância de crimes cometidos por Lula - que serão provados, situação que o torna um réu condenado = réu bandido e é nesta condição que ele deve ser tratado.
É nobre a intenção do senhor, mas, bandidos devem ser tratados como bandidos, qualquer concessão, pode ser mal interpretada e levar tais bandidos a se considerarem merecedores de benesses.]
O juiz Sergio Moro houve por bem publicar um vídeo no Facebook em que
pede a seus partidários que evitem manifestações na próxima
quarta-feira, quando o ex-presidente Lula presta depoimento à 13ª Vara
Federal de Curitiba. Segue abaixo.
Pois é…
Ainda que Moro esteja pedindo a seus
seguidores que NÃO SE MANIFESTEM, o comportamento é certamente indevido a
um juiz. Fazer o quê? Ou os integrantes do Poder Judiciário seguem as
regras corriqueiras numa democracia, ou as coisas se degeneram.
É evidente que não cabe a um juiz passar
orientações a manifestantes, ainda que esteja falando aos seus. Se o
faz, admite a existência de uma liderança que nada tem a ver com o poder
que lhe confere a toga. Ou que decorre impropriamente do poder que lhe
confere a toga. Transcrevo um trecho:
“Eu tenho ouvido que muita gente
que apoia a Operação Lava Jato pretende vir a Curitiba manifestar esse
apoio, ou pessoas mesmo de Curitiba querem vir aqui manifestar esse
apoio. Eu diria o seguinte: esse apoio sempre foi importante, mas, nessa
data, ele não é necessário. Tudo o que se quer evitar nessa data é
alguma espécie de confusão e conflito e, acima de tudo, não quero que
ninguém se machuque em eventual discussão ou conflito nessa data. Por
isso, a minha sugestão é: não venha, não precisa, deixa a Justiça fazer o
seu trabalho. Tudo vai ocorrer com normalidade, e eu espero que todos
compreendam”.
As palavras fazem sentido, não? Vamos ver.
Como Sergio Moro tem a obrigação da
neutralidade, a sua mensagem deveria ser dirigida tanto aos que vão a
Curitiba para vituperar contra Lula como aos que se organizam para
defendê-lo. “Ah, Reinaldo, Moro vai pedir para petista não ir?” Bem,
então se admite que ele virou uma liderança do antipetismo? Ora, é
descabido!
Observem que o juiz nem mesmo se refere
aos apoiadores de Lula, a não ser de maneira encoberta, quando diz a
seus seguidores que evitem confusão e conflito para que ninguém “se
machuque”. E, suponho, para que “não se machuque ninguém”, não é? O
lugar desse “se” na frase faz uma brutal diferença. Afinal, numa
confusão e num conflito, os dois lados batem e apanham, certo?
Sim, eu endosso — mas eu posso, já que
não julgo ninguém — as palavras de Moro. Acho que lulistas e
antilulistas deveriam se ater às regras normais do estado democrático,
deixando, como diz o juiz, “que a Justiça faça seu trabalho”. E mais: Moro deveria ter atuado antes.
Infinitas páginas nas redes sociais que convocam atos de solidariedade à
Lava Jato e contra Lula trazem a imagem do magistrado. Quando menos,
ele deveria ter feito um anúncio público pedindo que fossem apagadas.
De resto, quantas foram as vezes em que
vimos e ouvimos membros da Lava Jato a dizer que só o “povo na rua”
assegura a independência da operação? Ainda há dias, procuradores da
República, liderados por Deltan Dallagnol, pregavam resistência a um ato
do Senado assentados nesta premissa: sem mobilização, a operação se
fragiliza. E isso é falso.
Sim, lulistas e antilulistas deveriam
evitar a pantomima de rua, como se um simples depoimento de um réu —
mesmo sendo Lula — fosse definir os rumos da história do Brasil. Não
será a gritaria dos “companheiros” a intimidar Moro. Nem será a gritaria
dos lava-jatistas, suponho, a estimulá-lo. Juiz não orienta torcida. No máximo, a
sua atuação pública, que tem de se pautar pela isenção e pela retidão.
Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo - VEJA