Multado por pesca ilegal, Bolsonaro insiste em se vingar
Sete anos depois de ser autuado por pesca ilegal em Angra, Bolsonaro busca vingança. Ele já anulou a multa e afastou um servidor. Agora quer acabar com a área protegida
Jair Bolsonaro levou muitas obsessões para o governo. Uma delas é acabar
com a estação ecológica de Tamoios, em Angra dos Reis. Há sete anos, o
presidente foi autuado por pesca ilegal na região. Desde então, tenta se
vingar de quem frustrou seu passeio. Em dezembro, Bolsonaro conseguiu anular a multa de R$ 10 mil, que nunca
foi paga. Três meses depois, mandou exonerar o servidor do Ibama que o
flagrou. Agora ele quer executar a terceira etapa do plano: revogar o
decreto que criou a área protegida, em 1990. “Não pode desenvolver o turismo lá, sabe por quê? Os xiítas
ambientalistas demarcaram aquela área”, reclamou, no domingo. Em
entrevista, ele acrescentou que pretende transformar o local numa “nova
Cancún”. “Isso daí é comigo, não tem problema nenhum”, garantiu.
A estação de Tamoios é um santuário natural. Suas águas servem de
berçário para espécies ameaçadas de extinção, como o mero, a garoupa e o
pepino do mar. A área também é considerada um laboratório vivo. Recebe
biólogos e oceanógrafos de todo o país. Para azar dos peixes, a estação fica a poucos minutos de barco da Vila
Histórica de Mambucaba, onde Bolsonaro tem casa. A área protegida ocupa
apenas 5% da Baía da Ilha Grande. Ele poderia pescar nos outros 95%, mas
insiste em jogar o anzol na área proibida.
O procurador Ígor Miranda da Silva afirma que o presidente não tem
poderes para extinguir a estação ecológica. “É uma ideia
inconstitucional. Uma área protegida só pode ser alterada ou suprimida
por lei”, explica. Em fevereiro, ele abriu inquérito para apurar
“suspeitas de irregularidades” no cancelamento da multa a Bolsonaro. O
caso continua em apuração. “Minha exoneração foi um ato de vingança”, diz José Olímpio Morelli, o
servidor de carreira que autuou o então deputado em 2012. Há dois meses,
ele está encostado numa repartição do Ibama, sem função definida. “Fico
lá tentando inventar o que fazer”, conta.
Para Morelli, a ofensiva contra a área protegida é movida pelo mesmo
ressentimento que motivou sua punição. “É inconcebível que um presidente
leve questões pessoais para o governo dessa forma”, critica. O engenheiro e ambientalista Israel Klabin, que ajudou a criar a estação
de Tamoios, diz que há “formas ambientalmente sadias” de estimular o
turismo na região. “Seguramente, não é imitando Cancún”, enfatiza. Aos
92 anos, ele promete resistir à ofensiva do Planalto. “Se o presidente
acha que eu sou xiíta, recebo isso como um elogio!”