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domingo, 22 de maio de 2022

Loucura geral! Diversidade para tudo, exceto para opiniões... - Percival Puggina

É sabido que não crer em Deus exige um ato de fé muito mais difícil do que crer nÊle. Pessoalmente, como trato em meu livro Pombas e Gaviões, a ideia do Grande Nada criador de tudo me resulta tão incompreensível quanto inútil para as interrogações propostas pela existência humana.

Tenho certeza de que a natureza, o cosmo e o microcosmo, o que se vê com o telescópio e com o microscópio, revela incessantemente ao observador a diversidade das coisas e dos seres criados. A diversidade é parte indispensável da primeira aula sobre tudo que nos envolve. Quem pensa que descobriu a diversidade conversando sobre empoderamento e pautas políticas numa mesa de bar está confundindo o peixe com o anzol. A diversidade é criação de Deus!

Um velho e querido amigo, já falecido, costumava definir situações como a “descoberta da diversidade” como ninhos de égua e explicava: “Éguas existem, mas não surgem em ninhos”. No entanto, há partidos políticos que se dedicam a criar ninhos de égua, operando diversidades segundo bem lhes convêm.

Como essa escalada busca o “empoderamento”, as diversidades articuladas em seus mal arranjados ninhos mentais dispara inesgotável pauta de direitos a reivindicar contra algo ou alguém, cria inimigos a derrotar, contas a apresentar, devedores de quem cobrar e prerrogativas a conquistar. Como o objetivo final é a hegemonia da parte sobre o todo, a palavra “luta” é proteína de toda a célula, de todo o discurso e de todas as correspondentes ações no ambiente cultural e político.

Surpresa! Imposta a hegemonia, a primeira vítima é a própria diversidade, exatamente o nome dado à “égua de ninho”. Trancam-se as portas e passam-se os ferrolhos nos catequéticos espaços dos meios culturais. Toda divergência é condenada aos gulags do esquecimento nas bibliografias e bibliotecas, nas salas de aula, nos comitês acadêmicos, no jornalismo, nos tribunais.

Por isso – exatamente por isso! um ministro do STF, em recente pronunciamento, fez o elogio da mesmice uníssona das opiniões na “mídia tradicional” e relegou ao sanatório dos imbecis, aqueles que de algum modo estão a gritar nas praças e redes sociais: Ei, senhores! Povo é uma palavra singular, mas define algo essencialmente plural. É o exemplo maior e mais perfeito da diversidade e está ausente onde ela não se manifesta. Não por acaso, lembrem-se, esse povo é o soberano das democracias. Haverá outubro!

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


terça-feira, 14 de maio de 2019

Vingança no paraíso

Multado por pesca ilegal, Bolsonaro insiste em se vingar

Sete anos depois de ser autuado por pesca ilegal em Angra, Bolsonaro busca vingança. Ele já anulou a multa e afastou um servidor. Agora quer acabar com a área protegida

Jair Bolsonaro levou muitas obsessões para o governo. Uma delas é acabar com a estação ecológica de Tamoios, em Angra dos Reis. Há sete anos, o presidente foi autuado por pesca ilegal na região. Desde então, tenta se vingar de quem frustrou seu passeio. Em dezembro, Bolsonaro conseguiu anular a multa de R$ 10 mil, que nunca foi paga. Três meses depois, mandou exonerar o servidor do Ibama que o flagrou. Agora ele quer executar a terceira etapa do plano: revogar o decreto que criou a área protegida, em 1990. “Não pode desenvolver o turismo lá, sabe por quê? Os xiítas ambientalistas demarcaram aquela área”, reclamou, no domingo. Em entrevista, ele acrescentou que pretende transformar o local numa “nova Cancún”. “Isso daí é comigo, não tem problema nenhum”, garantiu.

A estação de Tamoios é um santuário natural. Suas águas servem de berçário para espécies ameaçadas de extinção, como o mero, a garoupa e o pepino do mar. A área também é considerada um laboratório vivo. Recebe biólogos e oceanógrafos de todo o país. Para azar dos peixes, a estação fica a poucos minutos de barco da Vila Histórica de Mambucaba, onde Bolsonaro tem casa. A área protegida ocupa apenas 5% da Baía da Ilha Grande. Ele poderia pescar nos outros 95%, mas insiste em jogar o anzol na área proibida.

O procurador Ígor Miranda da Silva afirma que o presidente não tem poderes para extinguir a estação ecológica. “É uma ideia inconstitucional. Uma área protegida só pode ser alterada ou suprimida por lei”, explica. Em fevereiro, ele abriu inquérito para apurar “suspeitas de irregularidades” no cancelamento da multa a Bolsonaro. O caso continua em apuração. “Minha exoneração foi um ato de vingança”, diz José Olímpio Morelli, o servidor de carreira que autuou o então deputado em 2012. Há dois meses, ele está encostado numa repartição do Ibama, sem função definida. “Fico lá tentando inventar o que fazer”, conta.

Para Morelli, a ofensiva contra a área protegida é movida pelo mesmo ressentimento que motivou sua punição. “É inconcebível que um presidente leve questões pessoais para o governo dessa forma”, critica. O engenheiro e ambientalista Israel Klabin, que ajudou a criar a estação de Tamoios, diz que há “formas ambientalmente sadias” de estimular o turismo na região. “Seguramente, não é imitando Cancún”, enfatiza. Aos 92 anos, ele promete resistir à ofensiva do Planalto. “Se o presidente acha que eu sou xiíta, recebo isso como um elogio!”