Wellington Ribeiro da Silva é investigado por abusos sexuais, inclusive de uma bebê, uma criança de 12 anos e mulheres na frente do pai, marido ou namorado
Já na abordagem surgiram as primeiras suspeitas. Silva demorou a revelar o nome verdadeiro — mostrou o RG de uma pessoa chamada José, e seus vizinhos o conheciam como Sérgio. Ao vasculhar a casa dele, a polícia encontrou uma arma de brinquedo, três capacetes e uma moto preta roubada. No exame de corpo de delito, ele teve a saliva recolhida para fazer o teste de DNA— o material genético bateu com o do esperma encontrado em 22 vítimas. A Polícia Civil atribui a ele outros 32 estupros. Depois que a sua foto foi divulgada, sete mulheres foram à delegacia dizer que haviam sido vítimas dele. Silva admite ter cometido seis estupros e nega os demais.
Em interrogatório gravado em vídeo, obtido por VEJA, o delegado pergunta a Silva como se davam os estupros. De forma curta e fria, ele responde: “de quatro”. Questionado sobre o que dizia às vítimas, declarou que só prometia mantê-las vivas. “Elas perguntavam se eu ia matá-las. Eu falava que não”, disse. Afirmou ainda que se sustentava vendendo os celulares roubados das vítimas. “Ele é um psicopata. É muito frio e não demonstra ter nenhum arrependimento. É um monstro mesmo”, avalia a delegada Ana Paula Machado, responsável pela força-tarefa. Laudo da Polícia Civil atestou que Silva é “plenamente capaz de responder por seus atos”. Ele tem cinco filhos de mulheres diferentes. A mais nova, de 3 anos, era “vidrada no pai”, conforme disse a sua esposa na delegacia — ali, ela descobriu que o nome dele não era Sérgio e entrou em choque ao saber do histórico de crimes.
Um dos abusos que Silva confessou foi o de uma menina de 12 anos. Ela estava com os pais numa igreja evangélica para celebrar a virada do ano de 2018 para 2019. A temperatura caiu, e a menina foi pegar uma blusa em casa. No caminho, teve a infelicidade de trombar com Silva, que a abordou e a estuprou — imagens de câmeras mostram os dois na moto. Também há denúncias de que ele obrigou mãe e filha a fazer sexo com ele na frente do marido/pai e que abusou de duas adolescentes na frente dos namorados.
Como é que esse monstro ficou tanto tempo impune? Em 2011, Silva foi preso em Goiânia pela acusação de estuprar uma mulher e sua filha, que tinha apenas 5 meses. Na ocasião, descobriu-se que era foragido da Justiça de Mato Grosso. Ali, ele foi condenado a 47 anos de prisão por um episódio conhecido como “a chacina do Monte Líbano”. Uma mulher de 39 anos, com quem Silva tinha relacionamento, e seus dois filhos, de 10 anos e 3 anos, foram encontrados degolados em uma casa. Segundo o Ministério Público, ele matou a mulher após descobrir que ela o delatava à polícia — na época, Silva chefiava uma quadrilha de assaltantes e assassinos. Ficou preso por dois anos, até que fugiu, em 2013. “Coincidentemente, nesse período há uma lacuna de ocorrências de estupro em Goiás. E os casos voltam a aparecer em 2014”, afirma a delegada Ana Paula Machado.
Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, o país atingiu o recorde de abusos sexuais em 2018, com 66 041 ocorrências. Um dado na pesquisa, porém, destoa do modus operandi de Silva (escolher mulheres aleatoriamente na rua): a maioria dos agressores (76%) conhecia as vítimas. Se forem comprovadas todas as denúncias, Silva pode entrar para a lista dos maiores estupradores do mundo. A relação inclui bandidos como o ex-policial americano Joseph James DeAngelo, preso pelo FBI em 2018, acusado de violentar mais de cinquenta mulheres e matar doze nas décadas de 70 e 80. No Brasil, um caso bastante famoso foi o de Francisco de Assis Pereira, o “Maníaco do Parque”, condenado pelo estupro de nove mulheres e por sete assassinatos no Parque do Estado, Zona Sul de São Paulo, nos anos 90. Na época, sua história espalhou medo pelo grande número de vítimas, mas o monstro de Goiás mostra que o horror pode sempre se superar.
Publicado em VEJA, edição nº 2655, de 6 de outubro de 2019,