Em relação a Hamilton Mourão, um mistério
Foi muito oportuna a nota do ministro da Defesa, general Fernando
Azevedo e Silva, declarando que as “Forças Armadas estarão sempre ao
lado da lei, da ordem, da democracia e da liberdade. Este é o nosso
compromisso”. Não foi uma afirmação gratuita. Na véspera, o presidente Bolsonaro, cumprindo seu já rotineiro e
subversivo programa de fim de semana, participara de mais um ato de
ofensas às instituições e de ataques à democracia, incluindo desta vez
agressões físicas a jornalistas.
No domingo, em frente ao Palácio do Planalto, como de costume, ele
advertia em tom de desafio que chegara ao “limite”, que acabara a
“paciência”, que não toleraria mais “interferências”. “Daqui pra
frente”, prometia, “não só exigiremos, faremos cumprir a Constituição” —
até porque, pode-se acrescentar, ele já decretou que a Constituição é
ele. O mais grave, porém, porque não era verdade, como se vê agora, ele
garantia: “Tenho as Forças Armadas ao meu lado”. [a advertência do presidente Bolsonaro já teve alguns reflexos relevantes e de importância, objeto de notícias e comentários em vários jornais, eque só não são vistos pelos que não querem enxergar.
O presidente Bolsonaro quando disse que as FF AA estavam ao seu lado, não mentiu - o presidente e a Forças Armadas estão do mesmo lado = lado da Constituição Federal.
Prometer cumprir e fazer cumprir a Constituição foi apenas repetir um juramento solenemente feito.]
Colegas jornalistas já tinham ouvido de militares de altas patentes suas
discordâncias em relação aos surtos do capitão. Só que os autores das
críticas não permitiam que fossem identificados publicamente. Em relação ao general Hamilton Mourão, um mistério. Os que o conhecem
bem dizem que ele não comunga das heresias do capitão. Assim, já que foi
também eleito, não podendo, portanto, ser rebaixado, muito menos
demitido, poderia ser mais explícito em suas supostas divergências. [agora procuram, de forma ousada e inútil, coagir o general Mourão a fazer comentários - não conseguirão.
No parágrafo abaixo, um gesto corriqueiro nos dias atuais - alguém vai nos cumprimentar e pelo hábito estendem a mão e oferecemos o cotovelo; as vezes, somos nós que não lembramos de oferecer o cotovele e estendemos a mão e somos retribuídos com uma "cotovelada". - é entendido como uma manifestação de desapreço ao capitão.
Chateados mesmo, muitos ficam é quando lembram que Bolsonaro é o presidente da República.]
Não se espera que ele diga do capitão o que o general Geisel disse — “um
caso fora do normal, um mau militar”— mas que pelo menos faça gestos de
discordância como aqueles generais em Porto Alegre que, quando
Bolsonaro esticou a mão para cumprimentá-los, responderam oferecendo o
cotovelo, como manda o protocolo de combate à Covid-19. O presidente ficou sem jeito e sem saber onde enfiar a mão.