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sexta-feira, 11 de agosto de 2023

Não à ozonioterapia - Receita de Médico

Ludhmila Hajjar


A Covid-19 deixou marcas indeléveis no nosso país. Perdemos mais de 700 mil vidas, sofremos as complicações da Covid longa, temos os desafios de lidar com o extenso número de pessoas nas filas para procedimentos cirúrgicos e exames diagnósticos, vivemos o aumento significante das doenças cardiovasculares e do câncer, e ainda temos que lutar diariamente contra a desinformação e contra a disseminação de tratamentos ilusionistas.

A sanção da Lei 14.648, de 04/08/2023, que autoriza a ozonioterapia no território nacional como tratamento complementar para uma série de doenças, remonta ao período do negacionismo que tanto combatemos. Trata-se de uma prática não baseada em evidências científicas, não regulamentada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e que pode trazer lesões e efeitos adversos aos pacientes. Durante a pandemia, ganhou destaque por ser defendida como uma terapia eficaz contra o coronavírus por leigos e grupos anti-ciência que tanto fizeram para destruir as recomendações corretas e respaldadas para o controle da doença.

A Agência Nacional de Vigilância sanitária (Anvisa), desde 2022, declara que a ozonioterapia só pode ser utilizada na dentística, na periodontia, na endodontia e para auxílio à limpeza e assepsia de pele, uma vez que para outras finalidades não há comprovação de eficácia e de segurança. Entidades como a Academia Nacional de Medicina (ANM) e a Associação Médica Brasileira (AMB) se posicionaram publicamente pelo veto diante da falta de evidências científicas que sustentem a indicação da prática.

Infelizmente, nos últimos anos, disseminam-se clínicas e consultórios oferecendo aplicações do gás ozônio através do ânus, da vagina e por via intravenosa como promessa de cura do câncer, de infecções virais, endometriose, doenças cardiovasculares e depressão, e inúmeros pacientes se veem explorados pagando altos preços por uma terapia inerte.

Em 2018, o Ministério da Saúde divulgou uma portaria que incluía a ozonioterapia à Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares do Sistema Único de Saúde (SUS). O documento autorizava sem bases fundamentadas que a técnica fosse praticada por diferentes profissionais de saúde como terapia integrativa (e complementar) em doenças cardiovasculares, para alívio da dor, cicatrização de feridas, doenças inflamatórias crônicas, entre outras situações. No entanto, ainda em 2018, o Conselho Federal de Medicina (CFM) publicou uma resolução classificando a ozonioterapia como um procedimento de caráter experimental, cujo uso deveria ser limitado apenas para estudos e ao ambiente acadêmico.

O uso da ozonioterapia é bastante antigo: há relatos de que o gás ozônio, descoberto em 1840, tenha sido usado por soldados alemães para tratar feridas durante a Primeira Guerra Mundial.
Acredita-se que o ozônio atue para melhorar a oxigenação dos tecidos e para fortalecer o sistema imunológico por meio de mecanismos celulares em resposta a um estresse oxidativo. 
Porém, até o momento, a ozonioterapia para tratamento de doenças crônicas não significa nada além de crença, de misticismo, de ilusão. 
 
A ciência no Brasil sofreu uma redução de 7,4% em 2022 em comparação a 2021, registrando o pior índice entre 51 países analisados, comparável ao desempenho da Ucrânia, um país em guerra. 
Com 10 milhões de analfabetos e milhares de pessoas sem educação de qualidade, temos uma população vulnerável, que precisa ser protegida por políticas públicas sedimentadas e pela informação adequada. 
Não à ozonioterapia, não ao charlatanismo e sim à ciência.

Ludhmila Hajjar - Receita de Médico - Blog em O Globo


sábado, 27 de agosto de 2022

Comissão Interamericana de Direitos Humanos intima governo brasileiro por atuação na pandemia e falta de leitos - O Globo

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) intimou o governo brasileiro a se manifestar em relação a uma denúncia, feita pela Defensoria Pública do Rio de Janeiro (DPRJ), sobre a atuação na pandemia e problemas de acesso à saúde pública. A petição foi movida em 2018 com base na insuficiência e má gestão de leitos em Unidades de Terapia Intensiva (UTI), que levaram a recorrentes violações aos direitos humanos, afirma a defensora pública e coordenadora de Saúde e Tutela Coletiva (COSAU) da DPRJ, Thaisa Guerreiro, uma das autoras da petição. Porém, foi atualizada neste ano para incluir a “falta de ação” do governo no combate à Covid-19, como na demora em adquirir vacinas e implementar medidas restritivas.[quem esse pessoal dessa tal CIDH     imaginam que são?
intimar o Governo de uma NAÇÃO SOBERANA sobre assunto interno da intimada!!! aliás, em nossa opinião, deveria ser considerado crime qualquer brasileiro denunciar o Brasil. Salvo engano, essa Comissão é a mesma que através de um dos seus comitês queria em 2018 ou 2019 soltar o petista.
Um respeitoso pedido de esclarecimentos seria aceitável - jamais intimar.]

No final de julho, a CIDH deu um prazo de três meses, prorrogável se necessário para quatro, para que o governo apresente justificativas sobre as alegações. A etapa é anterior ao possível encaminhamento do caso para ser julgado em audiência na Corte. Thais explica que o objetivo é que a denúncia, caso leve a uma condenação, chame atenção para a atuação do país.— Um dos efeitos do sistema internacional de proteção dos direitos humanos é o constrangimento do país pelos erros cometidos caso o país seja condenado. No caso, o Brasil aderiu ao pacto e se comprometeu a proteger a vida e a saúde, e ele está violando isso com a falta de leitos e a resposta à pandemia — afirma a defensora.

Ao incluir as medidas referentes à crise sanitária na denúncia, os defensores escrevem que "lamentavelmente, desde o início da pandemia, interesses políticos e ideológicos prevalecem sobre os critérios técnicos e científicos reconhecidos nacional e internacionalmente e ditam a postura do Governo Federal e de seus aliados políticos à frente de Estados e Municípios no enfrentamento da COVID-19, gerando o estado de completa e escancarada descoordenação nacional e o gravíssimo estado de coisas inconstitucionais e de violação de direitos humanos que chocaram e ainda chocam o mundo”.

O Globo - MATÉRIA COMPLETA


sexta-feira, 12 de agosto de 2022

André Mendonça interrompe julgamento de recursos nos inquéritos de Bolsonaro no STF, e Moraes divulga nota

O Globo
O ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal (STF), pediu vista e interrompeu o julgamento de 20 recursos apresentados contra quatro inquéritos que têm o presidente Jair Bolsonaro ou aliados como alvos
Antes dele, apenas o relator, o ministro Alexandre de Moraes, votou para negar todos os recursos, ou seja, para manter as investigações e outras decisões tomadas ao longo das apurações. 
 
André Mendonça interrompe julgamento de recursos nos inquéritos de Bolsonaro no STF, e Moraes divulga nota
O ministro do STF André Mendonça Carlos Moura/SCO/STF

Assim, os quatro inquéritos que apuram a participação do presidente no vazamento de dados sigilosos de uma investigação, uma "live" em que o presidente associou erroneamente a vacina da Covid-19 à aids, ataques ao STF, e a preparação dos atos do Sete de Setembro do ano passado — permanecem válidos. Não haverá, no entanto, por enquanto, a chancela dos demais ministros.

O julgamento ocorria no plenário virtual, em que os ministros votam pelo sistema eletrônico da Corte, sem se reunirem. Antes de sua interrupção, o prazo para a votação terminaria na sexta-feira da semana que vem. Não há previsão de retomada do julgamento, algo que depende agora de Mendonça.

Em nota divulgada depois dos pedidos de vista, Moraes divulgou a lista de todos os recursos, tanto nos inquéritos que são públicos, como nos sigilosos. O gabinete negou a informação de que tivesse pautado para julgamento "qualquer recurso contra decisão que determinou a análise e elaboração de relatório de material obtido a partir de determinação de quebra de sigilo telemático".

Vazamento de dados
Um dos inquéritos foi aberto para apurar a participação do presidente no vazamento de informações sigilosas de uma outra investigação sobre um ataque hacker ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Embora essa apuração tenha concluído que as urnas eletrônicas não foram afetadas, Bolsonaro usou o episódio para tentar desacreditar o sistema de votação usado no Brasil. Bolsonaro apresentou um recurso contra a abertura do inquérito que investiga o vazamento
O presidente também era contra o fato de a investigação ser tocada por Moraes, ministro com quem ele já teve vários atritos.  
Em geral, processos no STF têm seus relatores sorteados de forma eletrônica. Nesse caso, porém, o inquérito foi para Moraes, por ele ser o relator do chamado "inquérito das fake news",[denominado pelo então ministro Marco Aurélio de 'inquérito do fim do mundo'.] que apura ataques à Corte.

"Não havendo dúvidas, portanto, de que a divulgação de dados de inquérito sigiloso da Polícia Federal pelo Presidente da República, através de perfis verificados nas redes sociais, teria o objetivo de expandir a narrativa fraudulenta que se estabelece contra o processo eleitoral brasileiro, com objetivo de tumultuá-lo, dificultá-lo, frustrá-lo ou impedi-lo, atribuindo-lhe, sem quaisquer provas ou indícios, caráter duvidoso acerca de sua lisura, revela-se imprescindível a adoção de medidas que elucidem os fatos investigados, especialmente no que diz respeito à divulgação de inquérito sigiloso, que contribui para a disseminação das notícias fraudulentas sobre as condutas dos Ministros do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral e contra o sistema de votação no Brasil, o encerramento da investigação, por ausência de justa causa, se revela absolutamente prematuro", diz trecho do voto de Moraes. [COMENTÁRIO: o presidente Bolsonaro divulgou dados do inquérito no dia anterior à decretação que tornou sigiloso o inquérito.]

Ele também disse que o recurso de Bolsonaro "não traz qualquer argumento apto a alterar a decisão". Refutou ainda o argumento de que o inquérito deveria ser anulado por ter sido aberto sem ouvir antes a Procuradoria-Geral da República (PGR). Moraes, porém, citou trecho de parecer da própria PGR, segundo a qual, “embora inexistente pedido prévio da Procuradoria-Geral da República para a instauração do inquérito, vindo os autos este órgão ministerial não se opôs à instauração, tendo, aliás, indicado diligências investigativas diversas das já deferidas pelo Ministro Relator”.

Live da aids
Bolsonaro também é alvo de inquérito aberto apurar as declarações dadas em "live" em 21 de outubro de 2021, quando ele apontou uma ligação entre a vacinação contra a Covid-19 e o desenvolvimento da Aids, o que não é verdade. Essa investigação tem origem na CPI da Covid, que funcionou no Senado no ano passado. [CPI da Covid = aberta por intervenção de ministro do STF na autonomia do Senado, que determinou sua instalação; 
CPI presidida pelo senador Aziz, relatada pelo senador Calheiros e tendo como vice o senador Rodrigues = trio que dispensa apresentações; 
CPI que denunciou dezenas de pessoas, só que esqueceu de juntar provas que sustentassem as acusações apresentadas; 
a CPI foi tão ridícula que terminou alcunhada pela imprensa de Circo Parlamentar de Inquérito.]  A PGR então recorreu, alegando que o inquérito não poderia ter sido aberto a pedido à CPI, e dizendo que deveria ter sido sorteado o relator, em vez de o caso ter ido automaticamente para Moraes.

O voto de Moraes foi curto. Ele argumentou que a PGR "não apresentou qualquer argumento minimamente apto a desconstituir entendimento da decisão". Destacou também que "este inquérito está tramitando regularmente, tendo o seu prazo sido prorrogado por mais 60 (sessenta) dias por meio de despacho de 9/6/2022, de modo que deve se aguardar o decorrer das investigações para a análise das questões incidentais trazidas pela Procuradoria-Geral da República".

Havia ainda um recurso de uma pessoa que queria ingressar como interessado no inquérito da "live" da aids, o que tinha sido negado por Moraes. O ministro votou agora para negar mais uma vez o pedido. Nesse caso, não houve pedido de vista de André Mendonça.

Inquérito das "fake news"
Havia ainda dez recursos contra decisões tomadas no inquérito das fake news. Alguns deles foram apresentados por aliados de Bolsonaro, como o empresário Luciano Hang, contra o bloqueio de perfis em redes sociais, e a deputada Bia Kicis (PL-DF), que queria levantar o sigilo dos autos. Também havia pedidos do Twitter e do Facebook contra o bloqueio de perfis de usuários. Moraes votou para negar todos, mais depois houve pedido de vista de Mendonça.

Sete de Setembro
Moraes também votou para rejeitar oito recursos aberto para investigar a preparação dos atos de Sete de Setembro do ano passado. Entre os alvos estão alguns bolsonaristas, como o deputado Otoni de Paula (MDB-RJ), o cantor e ex-deputado, Sérgio Reis, e Marcos Antônio Pereira Gomes, conhecido como “Zé Trovão”.

Dos oito recursos, sete eram do Facebook, Twitter e Google contra o bloqueio de perfis. O outro era de Otoni de Paula, que também queria reverter o bloqueio nas redes sociais. André Mendonça pediu vista em todos.

André de Souza - Política - O Globo  

 

quinta-feira, 9 de junho de 2022

O complexo industrial da pandemia não acaba - Revista Oeste

Debbie Lerman

Quem se beneficia dessa covid-19 sem fim? 

A pandemia da covid-19 acabou. O diagnóstico partiu dos especialistas mais confiáveis — aqueles que acertaram suas interpretações dos dados durante a pandemia, em especial John Ioannidis, da Universidade de Stanford.

Foto: Shutterstock
Foto: Shutterstock 
 
Agora a doença se junta a uma longa lista de patógenos que coexistem com os humanos e com os quais lidamos de modo local e direcionado, quando e se ocorrem surtos. Como a gripe. 
Não fazemos testes para esses patógenos se não temos sintomas. 
Não isolamos pessoas mesmo que elas tenham sintomas. 
Não esperamos que a população inteira se vacine contra esses patógenos. 
Não acompanhamos obsessivamente o aumento ou a diminuição de casos entre a população.

É o estágio no qual deveríamos estar com relação à covid-19 neste momento. Se o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos anunciasse amanhã que a pandemia acabou, aqui estão algumas das grandes mudanças a que deveríamos assistir:

  • não haveria mais testagem de grandes parcelas da população. O resultado desses testes, a menos que se estivesse tentando limitar a proliferação da doença ou localizar áreas de infecção especificamente alta, é insignificante: mesmo que a população tenha resultado positivo nos testes, não é preciso tomar nenhuma atitude. Todo mundo será exposto ao vírus em algum momento, e muitos de nós já fomos. A maioria não vai lidar com sintomas graves nem vai morrer;
  • não haveria mais justificativa para a obrigatoriedade do uso de máscaras em nenhum lugar — nem nos transportes, nem nos serviços de saúde, nem nas escolas. Indivíduos que se sentirem mais protegidos cobrindo o rosto poderiam continuar usando máscara, mas ninguém precisaria fazê-lo por causa da covid-19. Lembrete: a justificativa para a OBRIGATORIEDADE do uso de máscaras é que, quando todos usam máscara, isso supostamente diminui a velocidade de alastramento da doença. Se não estamos mais nos preocupando com a rapidez, a vagarosidade ou até mesmo se a doença está se espalhando, essa obrigatoriedade deixa de fazer sentido. (O que não é a mesma coisa que dizer que as máscaras não funcionam, trata-se de uma questão diferente.);
  • não haveria razão para a obrigatoriedade da vacina, para passaportes de vacinação nem para longas discussões sobre vacinar crianças ou qualquer pessoa. Quem quiser se vacinar ou aos seus filhos pode fazê-lo. E quem não quiser se vacinar não estará colocando ninguém em risco.
O estado louco de limbo
Por que então nenhuma dessas coisas aconteceu ainda? 
Por que, se os dados e os especialistas dizem que a pandemia acabou, o nosso comportamento não reflete essa realidade? 
O que está nos impedindo — a nós de modo geral e às autoridade de saúde em especial — de finalmente dar fim a uma desgastante histeria pandêmica e garantir a todos que podemos tocar a vida? 
Quem se beneficia dessa covid-19 sem fim?

A resposta inclui todos os componentes do complexo industrial pandêmico: políticos, a burocracia da saúde pública, grande parte da mídia, os fabricantes de máscaras, testes e vacinas e o segmento do público cujas ansiedades e sinalização obsessiva de virtude mapeiam perfeitamente o pânico da pandemia.

Nós nos encontramos em um estado louco de limbo: não existe mais uma grave ameaça da covid-19 (como o próprio Anthony Fauci admitiu). No entanto, estamos apegados às reações cuja única justificativa era lidar com a grave ameaça da covid-19.

Estamos apegados às reações cuja única justificativa era lidar com a grave ameaça da covid-19

A razão, eu argumentaria, é que o complexo industrial da pandemia não pode e não quer ceder. 
 Se deixarmos a pandemia para trás, como ela já está tecnicamente, então…

…os políticos que lidaram com suas bases apoiando as medidas mais draconianas (e demonizando qualquer um que as questionasse, como se fossem assassinos negacionistas de bebês) terão de encontrar novas razões para retratar seus oponentes como monstros. (Sim, estou falando de vocês, da esquerda. Como uma democrata de inclinação esquerdista de longa data, estou horrorizada com o seu pensamento coletivo lamentável e, no fim das contas, desastroso.)

…as autoridades de saúde pública que conquistaram tanta fama e adulação por encontrar ainda mais variantes para monitorar e razões para se manterem vigilantes vão perder os holofotes. Terão de voltar ao seu trabalho anônimo e complicado, em que elas supostamente administram todos os aspectos do que mantém uma população saudável. 
É tão mais fácil se concentrar em apenas uma doença! 
Eles também terão de lidar com as catástrofes de saúde pública em termos de vícios, saúde mental, déficits de escolarização, doenças não tratadas etc. que a devastadora guerra global contra a covid-19 causou.
 
…os veículos de mídia e plataformas on-line não vão mais poder capturar suas audiências e seus públicos-alvo com mapas vermelhos sangrentos, contagens de casos disparadas e previsões apocalípticas. 
A transição de Donald Trump para a covid-19 como um inimigo infalível ajudou toda a imprensa a se manter sensacionalmente relevante. 
Aliás, eu diria que, para um grande segmento da mídia, assim como para parte mais à esquerda do país, combater a covid-19 substituiu quase perfeitamente o combate a Trump. 
Foi como a reação à doença se tornou tão irremediável e destrutivamente politizada.

…os mercados multibilionários de máscaras, testes e vacinas vão diminuir consideravelmente, deixando o que imagino que vão se tornar enormes pilhas de medicamentos e equipamentos sem uso. É provável que os preços de ações e os retornos dos investidores nas indústrias e empresas relacionadas caiam.

…todas as pessoas, a maioria nas cidades costeiras ditas esquerdistas, como a Filadélfia, onde vivo, que passaram dois anos usando mais máscaras, tomando mais vacinas, defendendo mais fechamentos de escolas e se sentindo infinitamente superiores a qualquer um que sugerisse que essas medidas são ruins ou ineficazes, terão de encontrar uma nova causa com que ficar superansiosas e superbravas.

São muitos os interesses fortes que precisam ser combatidos se quisermos voltar ao normal. É muita pressão para as autoridades de saúde pública enfrentarem se quiserem transmitir uma mensagem clara sobre o fim da pandemia.

Como diminuímos a pressão de todos os componentes do complexo industrial da pandemia para podermos voltar de modo pleno a algo minimamente parecido com a normalidade? Eu gostaria de saber. 

Debbie Lerman é formada pelo Departamento de Inglês da Universidade de Harvard. Aposentada, ela escrevia sobre ciências e atualmente é artista na Filadélfia, nos Estados Unidos

Leia também “O constrangimento em detrimento da ciência”

Debbie Lerman - Revista Oeste
 

quinta-feira, 2 de junho de 2022

Com alta de 1% do PIB, Brasil dá salto em ranking global e fica na 9ª posição - O Globo

No ano passado, país ocupava o 21º lugar em levantamento com 34 países. Avanço brasileiro é explicado por diferença no ritmo de reabertura da economia entre as nações

Lojas no Saara, no Rio: com menos restrições, economia ganha força e Brasil sobe em ranking global de crescimento — Foto: Fabiano Rocha

Lojas no Saara, no Rio: com menos restrições, economia ganha força e Brasil sobe em ranking global de crescimento — Foto: Fabiano Rocha

O Brasil melhorou sua posição no ranking de crescimento global neste primeiro trimestre de 2022. Segundo levantamento feito pela agência de classificação de risco Austin Rating, com avanço de 1% entre janeiro e março deste ano, o país ocupa a posição no índice que considera 34 países. O Brasil terminou o ano de 2021 na 21ª posição neste mesmo ranking.

No topo do ranking apareceu o Peru, com crescimento no primeiro trimestre de 2%, seguido das Filipinas (crescimento de 1,9%) e Canadá (1,6%). A China apareceu na quinta colocação, com expansão de 1,3% no período.

Para Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, o setor de serviços carregou o Produto Interno Bruto (PIB) nas "costas" neste primeiro trimestre. O crescimento de 1% surpreendeu o economista, que esperava uma expansão de 0,6% no período.- O setor de serviço puxou o PIB neste primeiro trimestre, enquanto a indústria continua patinando e a agropecuária recuou. A retomada de atividades como transportes, turismo, comércio, foi fundamental para este crescimento após as medidas drásticas tomadas durante a Covid-19 - diz Agostini.

Países ricos crescem menos e China fica em quinto lugar

Ele observa que enquanto a economia brasileira avançou 1%, outros países com economias fortes como a Alemanha (crescimento de 0,2% no primeiro trimestre e 20º lugar no ranking) e o Reino Unido (0,8%, 14º lugar no levantamento) cresceram menos.

Xangai começa a retomar atividades após dois meses de restrições pela Covid-19

A média geral de crescimento dos 34 países foi de 0,3%.

Veja os países que mais cresceram no primeiro trimestre

  1. Peru - 2%
  2. Filipinas - 1,9%
  3. Canadá - 1,6%
  4. Taiwan - 1,6%
  5. China - 1,3%
  6. Turquia - 1,2%
  7. Tailândia - 1,2%
  8. México - 1,0%
  9. BRASIL - 1,0%
  10. Colômbia - 1,0%

Fonte: Austin Rating

Economia - O Globo 

 

segunda-feira, 18 de abril de 2022

A lavagem cerebral nas salas de aula - Revista Oeste

Ilustração: Shutterstock
Ilustração: Shutterstock

Durante a transmissão, Hallal chamou Bolsonaro de “defensor de torturador” e o “único chefe de Estado do mundo que não defende a vacinação contra a covid-19”. Não ficou por aí. O pró-reitor Eraldo Pinheiro tomou a palavra e qualificou o presidente de “sujeito machista, homofóbico e genocida, que exalta torturadores”.

14 de dezembro de 2020. Escola Municipal Guerino Zugno, em Caxias do Sul (RS). A professora Monique Emer se lamentava em sala de aula porque Pepe Vargas, candidato do PT, perdera a disputa pela prefeitura do município. Vargas foi ministro do Desenvolvimento Agrário da ex-presidente Dilma Rousseff.

Em um áudio vazado, Monique declara aos alunos: “Da direita, quanto mais morrerem de covid-19, aids, câncer fulminante, melhor. Já que a gente não pode fuzilar, então que vão à praça fazer bandeiraço e, se Deus quiser, morram tudo de covid. Adultos, mulheres, idosos e crianças. Não vale um, não se salva um”. 

Em seguida, a educadora fez uma publicação em sua conta no Facebook defendendo a necessidade de “canalizar a revolta incendiária de estudantes” em prol de pautas de esquerda. “Onde está a resistência?”, perguntou a professora. “Barricadas? Incêndios? Mobilização popular?” Dias depois, Monique foi afastada do cargo pela Justiça.

“Esse imbecil ganhou porque a maioria votou”
Professores deveriam ensinar suas matérias e não usar a influência que têm sobre os alunos para fazer doutrinação político-partidária. Mas isso não impede que eles ajam para influenciar diretamente os estudantes, inclusive nas escolas particulares.

Abril de 2019. Um professor de geografia ataca o presidente Jair Bolsonaro e seus eleitores. “Já pararam para pensar que esse imbecil ganhou porque foi a maioria que votou?”, pergunta o docente à classe, que se manteve em silêncio. “Mas sabe o que é pior? É quando a maioria que ganha quer que a outra parte se foda. Se a maioria ganha e quer ajudar o resto, é uma coisa, mas quando a maioria ganha e quer que o preto se ferre, o pobre se ferre, o gay se ferre e a mulher se ferre, aí é pior que uma ditadura.” Ele foi demitido depois de o vídeo ser publicado nas redes.

Na semana passada, outro caso chocou o país. A indígena Sônia Guajajara, ex-PT e atual Psol, ex-candidata a vice-presidente na chapa de Guilherme Boulos, dava uma palestra na Escola Avenues, em São Paulo, que cobra mais de R$ 12 mil de mensalidade de seus alunos.

Previsivelmente, a política psolista atacava o agronegócio brasileiro e o governo federal. Um estudante pediu a palavra e expôs seu ponto de vista, o que não agradou ao professor Messias Basques.

A arrogância do fake Harvard
O professor constrangeu o aluno diante de uma plateia de 300 estudantes. “A minha recomendação é a seguinte: respeite-me, porque sou doutor em Antropologia”, disse. “Não tenho opinião, sou especialista em Harvard. Isso é ciência. No dia em que você quiser discutir conosco, traga seu diploma e sua opinião, fundamentada em ciência. Aí sim poderá discutir com um especialista em Harvard.”

A plateia, formada por adolescentes, aplaudiu a arrogância do educador. Basques, na verdade, não tem diploma na universidade norte-americana de Harvard, mas apenas o certificado de um curso on-line que custou US$ 250. 

Uma das vítimas preferidas dos redatores dos livros didáticos é o agronegócio

Na sequência, Guajajara retomou sua apresentação e criticou “fazendeiros”, que, segundo ela, ocupam terras que deveriam ser redistribuídas para a população: “É preciso democratizar o acesso às terras”. Em carta, o aluno manifestou seu descontentamento. “Falar do agronegócio de maneira tão pejorativa, para uma audiência de 300 pessoas, deixou-me extremamente ofendido”, ressaltou. “Os pais dos meus amigos trabalham no agronegócio, minha família vem da agropecuária.” [a índia Guajajara deveria começar a democratização distribuindo para os brasileiros a imensidão de 'terras indígenas' que eles possuem e não trabalham nelas - dividindo a área total de terras indígenas no Brasil pelo número de índios, resulta mais de 4.000 hectares/índio. Um hectare equivale a um campo de futebol.]

Até o momento, o professor Messias Basques continua integrando o corpo docente da escola, apesar de manifestações de repúdio de diversos pais. A instituição emitiu uma nota minimizando o ocorrido.

100% de doutrinação
A doutrinação em sala de aula começa nas páginas dos livros didáticos, cujo conteúdo é elaborado por professores universitários — a maioria com viés de esquerda. O cientista político Fernando Schüler, professor do Insper, conta o que descobriu, em 2016, ao se debruçar sobre os principais livros didáticos do Brasil, com o objetivo de responder à pergunta: há ou não doutrinação ideológica nesse material?

“Dos dez livros que analisei, 100% tinham um claro viés ideológico”, disse Schüler, numa entrevista a Oeste. “Não encontrei, infelizmente, nenhum livro ‘pluralista’ ou particularmente cuidadoso ao tratar de temas de natureza política ou econômica. São todos livros mancos. E sempre para o mesmo lado.”

Além do capitalismo e do conservadorismo, uma das vítimas preferidas dos redatores desses livros é o agronegócio, retratado como um vilão da natureza. Essa visão distorcida da realidade origina-se do estrabismo marxista sobre vários aspectos da sociedade, constatou o professor Mauro Aguiar, diretor do Colégio Bandeirantes, um dos mais tradicionais de São Paulo. “Existe um predomínio do pensamento de esquerda nas Ciências Humanas no Brasil e no mundo ocidental”, afirmou Aguiar. Para ele, a esquerda conseguiu vencer no campo ideológico-cultural, apesar da queda do Muro de Berlim, muito em razão da propaganda bem-sucedida. “Isso atinge as escolas, porque os professores são educados com base nessa formação.”

Essa deformação do ensino do agronegócio foi o estopim para a criação do De Olho no Material Escolar. O movimento começou quando a produtora rural Letícia Zamperlini presenciou as aulas on-line da filha de 10 anos durante a pandemia. Entre outras coisas, o setor era apresentado às crianças como responsável pela miséria de povos indígenas. “São inúmeros os exemplos”, contou Letícia, numa reportagem de Oeste. “Todo mundo que nos procura tem uma história para contar. Se você está perto e olha o material escolar, mesmo não sendo do agro, percebe o tom negativo e uma ausência de referências científicas. Não vemos citações da Embrapa, do Ibama ou de órgãos confiáveis.”

Hoje, são mais de 4 mil simpatizantes e centenas de associados espalhados por dez Estados brasileiros. O grupo já se encontrou com representantes dos ministérios da Educação e da Agricultura, além de ter conseguido das editoras a promessa de revisar os livros didáticos. Há duas semanas, um evento na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) reuniu produtores rurais, diretores de escolas e representantes das principais editoras do país.

A tirania da minoria
Para Ilona Becskeházy, ex-secretária de Educação Básica do Ministério da Educação, as universidades são dominadas pela esquerda em virtude de um processo complexo e demorado de ocupação de espaços. Como a classe intelectual é a responsável por formar diversos ramos da sociedade, a exemplo da classe política, a visão de mundo da esquerda acaba sendo hegemônica. “São esses acadêmicos que escrevem e controlam a qualidade dos livros didáticos, por exemplo”, explica. “Não tem como dar certo.”

Resolver um problema dessa magnitude leva tempo. A presidente do Instituto Livre pra Escolher, Anamaria Camargo, apoia a criação de instituições de ensino com diferentes vieses filosóficos, religiosos e outros focos pedagógicos, como o sistema STEM (Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática, em português). “Devemos garantir a liberdade das famílias para que possam escolher aquela que está de acordo com seus valores”, disse. [a praga do maldito esquerdismo progressista encontra campo fértil mais na área de Humanas.]

Nesse modelo, Anamaria defende a criação de um sistema de vouchers, em que cada família possa usar o valor do recurso estatal que cabe à educação do seu filho no colégio de sua escolha, como na Holanda. “Enquanto couber ao Estado e àqueles que dele vivem, como sindicatos, escolher as ‘vozes’ que devem ser elevadas e as que devem ser caladas em todas as escolas, jamais teremos uma real pluralidade de ideias.”

Os “líderes geniais das massas”
Cláudia Costin, especialista em educação e ministra da Administração do governo FHC, critica a formação de professores e defende a ideia de que o primeiro passo para alcançar uma escola plural é ensinar os educadores a praticarem, em sala de aula, o debate livre de ideias. “Na escola, sempre houve a tentação de doutrinar”, afirma Cláudia.

A especialista advertiu que esse cenário acaba empobrecendo a produção intelectual dos educadores, a exemplo dos livros didáticos, que oferecem uma visão muito limitada da realidade. “Sobretudo os de geografia”, observou, ao mencionar o agronegócio sendo retratado como inimigo. “Não se deve demonizar um setor da economia que gera renda e emprego.” 

Ela defende ainda a ideia de que haja uma abordagem mais ampla dos assuntos, que possa oferecer os dois lados da moeda para o aluno, sem ocultar fatos ou tentar prejudicar determinada pauta. “Precisamos fugir da ‘verdade única’. Educação é formar pensadores autônomos e não pessoas que vão seguir ‘líderes geniais das massas’.”

Leia também “A esquerda sempre foi adepta do regime ditatorial”

Cristyan Costa, colunista - Revista Oeste


domingo, 27 de março de 2022

Guerra da Ucrânia: as medidas de segurança extremas para proteger Putin - BBC News Mundo

Fernanda Paúl

 Nada é improvisado na vida de Vladimir Putin.

Todos os passos do presidente russo são observados de perto por centenas de guarda-costas que o acompanham 24 horas por dia. Sua comida é preparada às escondidas e tudo o que ele bebe deve ser previamente checado por seus assessores mais próximos.

Ex-oficial da KGB, o serviço de segurança da União Soviética, Putin conhece muito bem as ameaças que existem ao seu redor, especialmente em tempos de guerra. O mandatário lidera a invasão russa à Ucrânia, e isso representa alguns riscos adicionais para sua segurança.


Vladimir Putin e seguranças pessoais

Crédito, Getty Images - Vladimir Putin vive cercado por seguranças pessoais 

Mas quem está realmente encarregado de protegê-lo? 
E quais são algumas das medidas que são tomadas para mantê-lo seguro? 

Ampla equipe de segurança

Entre os vários serviços de segurança que operam atualmente na Rússia, há um especialmente dedicado a proteger o presidente e sua família: o Serviço de Segurança Presidencial da Rússia. Esse esquadrão se reporta ao Serviço Federal de Proteção da Rússia (FSO), que tem suas origens na antiga KGB, e que também protege outros servidores de alto escalão do governo, incluindo o primeiro-ministro do país, Mikhail Mishustin.

É desse órgão que vêm os homens vestidos de preto com fones de ouvido que protegem o presidente 24 horas por dia. De acordo com o Russia Beyond, uma agência estatal, quando esses agentes acompanham Putin em atividades no exterior, eles se organizam em quatro círculos.

O círculo mais próximo é composto por guarda-costas pessoais do presidente.

O segundo é formado por guardas disfarçados, que passam despercebidos em público. O terceiro circunda o perímetro da multidão, impedindo a entrada de pessoas suspeitas.E o quarto e último círculo é formado por franco-atiradores localizados em telhados de prédios vizinhos. 

 Um franco-atirador russo localizado em uma das paredes do Kremlin, no centro de Moscou

Crédito, Getty Images - Um franco-atirador russo localizado em uma das paredes do Kremlin, no centro de Moscou

Esses agentes também acompanham Putin quando ele se desloca de um lugar a outro."Putin não gosta de helicópteros, ele costuma viajar com uma carreata enorme, com motociclistas, muitos carros pretos grandes, caminhões etc. Qualquer drone que possa estar no espaço aéreo é bloqueado e o tráfego é interrompido", diz Mark Galeotti, especialista em segurança russa e diretor da Mayak Intelligence, consultoria dedicada a analisar questões de segurança no país.

O Serviço de Segurança Presidencial russo é apoiado pela "Guarda Nacional Russa", ou Rosgvardia, que foi formada pelo próprio Putin há seis anos. Alguns descreveram o órgão como uma espécie de "exército pessoal" do presidente.

Esse grupo é independente das Forças Armadas e, embora sua missão oficial seja proteger as fronteiras, combater o terrorismo e proteger a ordem pública, entre outras tarefas, na prática uma de seus principais objetivos é proteger Putin de possíveis ameaças."Todo mundo sabe que eles são em grande parte guarda-costas pessoais de Putin", diz Stephen Hall, especialista em política russa da Universidade de Bath, no Reino Unido.

"E o presidente está muito protegido por eles e pelo resto dos serviços de segurança", acrescenta.

Atualmente, o chefe da Guarda Nacional é Viktor Zolotov, um ex-guarda-costas de Putin. Zolotov é um aliado leal do presidente e nos últimos anos aumentou em cerca de 400 mil o número de militares que integram essa força de segurança. "É um número enorme, as unidades de segurança para presidentes como os Estados Unidos não chegam nem perto desse contingente", diz Hall.

Viktor Zolotov, um ex-guarda-costas de Putin, chefia a Guarda Nacional Crédito, Getty Images - Viktor Zolotov, um ex-guarda-costas de Putin, chefia a Guarda Nacional

Medidas de proteção

Embora seja difícil saber até que ponto vão as medidas que buscam proteger Putin, o próprio Kremlin e especialistas em segurança lançaram alguma luz sobre o assunto.Uma das questões tratadas com mais cautela é a alimentação.

Segundo Mark Galeotti, Putin tem um "provador pessoal" que confere tudo o que o presidente vai comer. O objetivo é impedir um possível envenenamento. "Faz parte de um estilo mais próximo ao de um monarca medieval do que de um presidente moderno", diz Galeotti à BBC News Mundo. Tudo o que Putin consome é provado antes por seus seguranças.

Além disso, quando Putin viaja para fora da Rússia, a equipe do presidente cuida de tudo que ele consome. "Eles pegam toda a comida e bebida que ele vai consumir. Então, por exemplo, se tem um brinde oficial com champanhe, ele pega da garrafa que sua equipe traz, não a que é servida no evento", explica Galeotti.

Stephen Hall, por sua vez, diz que seus guarda-costas observam atentamente como a comida é produzida para evitar qualquer risco.

Telefones inteligentes
Outra medida que busca proteger Putin é o bloqueio de smartphones dentro do Kremlin.

O próprio presidente confirmou que não usa esses dispositivos. Em 2020, em entrevista à agência de notícias estatal TASS, ele admitiu isso, também apontando que, se quisesse conversar com alguém, havia uma linha oficial para fazê-lo. 

Seus conselheiros também admitiram essa estratégia. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse repetidamente que Putin não usa telefones celulares porque "não tem muito tempo".

Entre as razões que explicam a relutância é uma profunda desconfiança da internet por parte de Putin.mNo passado, aliás, ele afirmou que a internet é um "projeto da CIA" - a agência de inteligência dos EUA -, e pediu aos russos que não façam buscas no Google porque considera que os americanos estão monitorando todas as informações. "Putin quase não usa a internet, é sabido que ele não gosta de telefones. E bem, sejamos honestos, do ponto de vista da segurança, Putin está absolutamente certo. Smartphones não são muito seguros", diz Galeotti.

Diante disso, o acadêmico afirma que Putin recebe de seus assessores arquivos e relatórios em papel. "Ele começa o dia com três relatórios de segurança. Um é o que está acontecendo no mundo, um é o que está acontecendo na Rússia e o terceiro é o que está acontecendo dentro da elite do país", diz ele. "Para ele, esta é a informação mais importante e que vai definir o seu dia."

"Lembro-me de conversar com diplomatas e funcionários do Ministério das Relações Exteriores que me disseram que estavam frustrados porque, se tiverem informações que entrem em conflito com seus serviços de inteligência, Putin tenderá a supor que seus espiões estão certos e os diplomatas estão errados", acrescenta.

Isolamento e pandemia
Atualmente, o acesso a Vladimir Putin é extremamente limitado. Os poucos líderes que se reúnem com ele, como o presidente brasileiro Jair Bolsonaro, em fevereiro, devem permanecer a vários metros de distância. O encontro com o presidente da França, Emmanuel Macron, chamou atenção por uma imagem que mostrava o francês sentado no lado oposto de uma longa mesa.

Parte dessas medidas são uma herança da pandemia de covid-19, que acabou isolando Putin ainda mais.

De acordo com o serviço russo da BBC, entre as medidas que foram implementadas nesse período estão: uma quarentena obrigatória de duas semanas para quem quiser assistir a encontros com o presidente; rigoroso regime de controle médico, que inclui testes periódicos de PCR, para todos que cercam Putin; e a redução quase total da participação em eventos públicos.

Em 15 de março, o secretário de imprensa do governo russo, Dmitry Peskov, confirmou que todas as medidas anti-covid relacionadas à segurança de Putin permanecem intactas até que "especialistas considerem apropriado".

Na Rússia, a saúde pessoal de Putin é vista como uma questão de segurança nacional. Em entrevista ao programa Today, da BBC Rádio 4, o general americano James Clapper - que supervisionou a CIA, FBI, NSA e serviu como um dos principais conselheiros do ex-presidente Barack Obama - confirmou que Putin está isolado fisicamente.

"Putin esteve amplamente isolado, principalmente nos últimos dois anos com a pandemia. Poucas pessoas realmente têm acesso a ele, o que dificulta muito a coleta de informações a seu respeito", diz Clapper.

Galeotti concorda: "Putin vive muito isolado. O círculo de pessoas ao seu redor diminuiu drasticamente", diz.

"Ele não viaja mais pelo país e sua aparição em eventos públicos é algo bastante raro. Os seguranças estão entre as poucas pessoas com quem Putin tem um relacionamento pessoal", diz ele.

Segundo Galeotti, isso explica, em parte, por que muitos desses seguranças pessoais foram posteriormente nomeados para altos cargos no governo, como é o caso de Viktor Zolotov, da Guarda Nacional. Alguns analistas de inteligência dizem que as medidas extremas de segurança em torno de Putin são parcialmente explicadas por uma espécie de "paranóia".

Já outros afirmam que o presidente, com sua experiência na KGB, sabe melhor do que ninguém como sua segurança é importante.Seja como for, tudo indica que a proteção e isolamento de Putin só aumentam. Como diz Galeotti, as coisas são feitas no Kremlin "como Putin quer que sejam feitas".

BBC News - Brasil

sexta-feira, 18 de março de 2022

Por que a Petrobras não baixa a gasolina? A resposta da estatal, após pressão de Bolsonaro - O Globo

Empresa diz que não pode 'antecipar decisões sobre manutenção ou ajustes' nos valores, devido à alta volatilidade e ao risco de desabastecimento 

A Petrobras divulgou nota nesta sexta-feira em que explica por que demorou para reajustar os preços dos combustíveis e por que ainda não baixou os valores nas suas  refinarias, apesar da queda recente do barril de petróleo.

O presidente Jair Bolsonaro tem cobrado da empresa nos últimos dias que reduza o valor da gasolina e do diesel, após a baixa da commodity no mercado internacional. E já prepara uma estratégia para substituir Joaquim da Silva e Luna na presidência da empresa. O general tem sido resistentes às pressões para baixar os preços.

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FGTS: Caixa divulga calendário de saque de até R$ 1 mil. Veja as datas "Nos últimos dias, observamos redução dos níveis de preços internacionais de derivados, seguida de forte aumento no dia de ontem. A Petrobras tem sensibilidade quanto aos impactos dos preços na sociedade e mantém monitoramento diário do mercado nesse momento desafiador e de alta volatilidade, não podendo antecipar decisões sobre manutenção ou ajustes de preços", diz a estatal em nota.

Depois de bater quase US$ 140 há duas semanas, o barril de petróleo tipo Brent - referência no mercado internacional - caiu abaixo de US$ 100 nesta semana. Mas ontem fechou em US$ 106,64, alta de 8,79%.

Incerteza e preocupação com abastecimento
A companhia diz ainda que o ambiente de incerteza segue no mundo, "com aumento na demanda por combustíveis, num momento em que os desdobramentos da guerra entre Rússia e Ucrânia impactam a oferta".

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Segundo a Petrobras, essa situação cria uma competição pelo fornecimento de produtos, "o que reforça a importância de que os preços no Brasil permaneçam alinhados ao mercado global, para assegurar a normalidade do abastecimento e mitigar riscos de falta de produto".

O Brasil produz volume de petróleo suficiente para seu consumo, mas precisa importar especialmente o diesel, pois o tipo de petróleo aqui produzido não atende especificidades das refinarias locais para produzir certos combustíveis.
O país importa 20% a 25% do diesel que consome. Nos últimos meses, a diferença entre o valor de venda no Brasil e o praticado no mercado internacional levou a temores de desabastecimento porque os importadores não conseguiam comprar o produto a preços competitivos, para revendê-lo no mercado interno.

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Distribuidoras, como a Ipiranga, chegaram a limitar a venda do diesel.

Justificativa para alta da semana passada
Na nota divulgada nesta sexta-feira, a Petrobras também esclareceu porque demorou tanto para elevar os preços. A empresa lembra que o mercado internacional do petróleo vem enfrentando forte volatilidade, tendo a Covid-19 como pano de fundo, e que a guerra na Ucrânia agravou essa situação. "Em um primeiro momento, apesar da disparada dos preços internacionais, a Petrobras, ao avaliar a conjuntura de mercado e preços conforme governança estabelecida, decidiu não repassar de imediato a volatilidade, realizando um monitoramento diário dos preços de petróleo", diz a Petrobras em nota.

Viu isso?  Brasil tem a gasolina mais cara do mundo? Entenda o que pesa no preço "Somente no dia 11 de março, após serem observados preços em patamares consistentemente elevados, a Petrobras implementou ajustes nos seus preços de venda às distribuidoras de gasolina, diesel e GLP", completou.

A gasolina foi reajustada em 18,77% e o diesel em 24,99% nas refinarias, após 57 dias sem alteração. Já o GLP, popularmente conhecido como gás de cozinha, subiu 16%, após 152 dias de preços estáveis. "Os valores aplicados naquele momento, apesar de relevantes, refletiam somente parte da elevação dos patamares internacionais de preços de petróleo, que foram fortemente impactados pela oferta limitada frente a demanda mundial por energia", diz a Petrobras.

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"Esse movimento foi no mesmo sentido de outros fornecedores de combustíveis no Brasil que, antes da Petrobras, já haviam promovido ajustes nos seus preços de venda, e necessário para que o mercado brasileiro continuasse sendo suprido, sem riscos de desabastecimento".

A empresa diz que "segue todos os ritos de governança e busca um equilíbrio com o mercado, ao mesmo tempo que evita repassar para os preços internos as volatilidades das cotações internacionais e da taxa de câmbio causadas por eventos conjunturais".

Economia - O Globo


quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

Imunidade turbinada: estudo mostra que infecção por Covid-19 complementa vacina e cria superproteção - O Globo

Giulia Vidale

Covid-19: combinação entre vacina e infecção natural pelo coronavírus cria 'superimunidade'

[podemos acreditar? é o tipo de notícia sempre desejada, esperada.Devemos torcer para não ser mais um chute dos "especialistas". !!!]

Combinação resulta em anticorpos dez vezes mais potentes contra a doença
Micrografia eletrônica de varredura colorida mostra célula fortemente atacada pelo SARS-Cov-2 (em vermelho) Foto: NIH/Divulgação
Micrografia eletrônica de varredura colorida mostra célula fortemente atacada pelo SARS-Cov-2 (em vermelho) Foto: NIH/Divulgação

Ômicron:Novo subtipo pode ser mais contagiante, mas sem risco aumentado de internação

De acordo com a pesquisa, a quantidade de anticorpos no sangue de pessoas que foram infectadas após a vacinaçãoe vice-versa é dez vezes maior do que aquela gerada apenas pela imunização. O estudo foi realizado antes do surgimento da Ômicron, mas os cientistas esperam que as respostas imunes híbridas sejam semelhantes para a nova variante, altamente transmissível.

Estudo:Ômicron é a variante que sobrevive por mais tempo na pele e em superfícies plásticas

Segundo especialistas ouvidos pelo GLOBO, esse resultado reforça o que já foi mostrado em trabalhos anteriores e adiciona uma nova via para a superimunidade. — Esse estudo mostra que a pessoa que se infectou deve se vacinar. Ele reforça o que sabíamos até agora. Mas o mais interessante é que ele mostra que a pessoa que se vacinou, se for infectada, está superprotegida também. Ainda não havia evidências sobre isso — diz o médico Salmo Raskin, geneticista e diretor-médico do Laboratório Genetika, de Curitiba.

Investigação
Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores analisaram a reposta imunológica de 104 pessoas que estavam vacinadas contra a Covid-19. Elas foram divididas em três grupos: 42 vacinados sem contágio prévio, 31 que receberam imunizante após uma infecção e outros 31 que foram infectados depois da vacinação. Em seguida, os cientistas coletaram sangue dos participantes e as amostras foram expostas em laboratório a três variantes do Sars-CoV-2: Alfa (B.1.1.7), Beta (B.1.351), e Delta (B.1.617.2).

Os resultados mostraram que os dois grupos com “imunidade híbrida”, composto por aqueles que foram vacinados depois de serem infectados e vice-versa, geraram os maiores níveis de anticorpos em comparação com o grupo que foi apenas vacinado. Em ambos os casos, a resposta imune medida no soro sanguíneo revelou anticorpos igualmente mais abundantes e pelo menos dez vezes mais potentes do que a proteção gerada apenas pela vacinação. — Quanto mais exposição aos antígenos, maior o benefício. Se a pessoa teve Covid-19, por exemplo, a vacina vai estimular, selecionar e expandir as células de defesa que a infecção natural selecionou — explica Raskin.

Embora a infecção natural e a vacinação estimulem o sistema imunológico, elas agem de maneira diferente. Portanto, acrescenta o geneticista, há complementação. O infectologista Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), acrescenta que a imunidade híbrida gera uma resposta mais robusta não só em níveis de anticorpos, mas em outras frentes da defesa, como a imunidade celular, na qual linfócitos B de memória são capazes de reconhecer agentes infecciosos.

Há alguns trabalhos que indicam que a imunidade híbrida é mais eficaz para prevenir novas infecções e também para reduzir a transmissão. Entretanto, vale ressaltar que isso não significa que pessoas que apresentam esse tipo de imunidade podem abandonar os cuidados preventivos. Para começar, ainda não existem estudos que mostrem, na prática, o quanto esse reforço se traduz em proteção. Além disso, também não se sabe qual é a duração dessa defesa.

— A maioria dos estudos disponíveis é feita em laboratório. Eles apontam um sentido, mas não são categóricos. Para responder essas questões, é preciso realizar estudos de mundo real, que não são simples de serem feitos. Mas são eles que vão comprovar se, na prática, esse aumento da resposta imunológica se traduz em menos infecções, por exemplo. Além disso, outras variáveis precisam ser observadas, como a vacina recebida, o tempo entre a vacinação e a infecção, as variantes circulantes, o desfecho considerado (se são formas mais graves ou mais leves). Ainda tem muita coisa sem resposta, mas é uma construção de conhecimento — diz Kfouri.

Intervalos
Um estudo publicado em setembro na revista Nature alertou, por exemplo, para a necessidade de considerar o momento em que a infecção aconteceu e também o período da vacinação, porque até mesmo a imunidade híbrida varia entre os indivíduos. Para explicar, Raskin faz uma analogia com a imunização. Tomar várias vacinas seguidas, sem respeitar um intervalo mínimo entre as doses, por exemplo, não se traduz em maior proteção contra o coronavírus. — Há um consenso de que um maior intervalo entre as doses se traduz em maior proteção, justamente porque dá tempo para o organismo produzir a resposta imunológica, e só quando ela começa a cair é a hora de pensar em ativá-la novamente — destaca.

Apesar dessas lacunas e do estudo não ter avaliado especificamente a proteção da imunidade híbrida contra a Ômicron, especialistas estão otimistas com a possibilidade de as características da variante, capaz de infectar pessoas já vacinadas, ajudarem a multiplicar as pessoas superimunes à Covid-19 e, assim, aproximar o mundo do fim da pandemia. “Esses resultados apontam para um momento em que o Sars-CoV-2 pode tornar-se uma infecção endêmica leve, como uma infecção sazonal do trato respiratório, em vez de uma pandemia”, salientou um dos autores, Marcel Curlin, especialista em infectologia na universidade norte-americana, em comunicado.

Em Saúde - O Globo - MATÉRIA COMPLETA