Como
Dilma quebrou sua loja de R$ 1,99 e um País
Na
década de 90, ela faliu duas lojinhas de bugigangas baratas. Vinte anos depois, a presidente
mergulha o Brasil numa interminável crise político-econômica e marca sua gestão pela irresponsabilidade fiscal e falta de
confiabilidade externa
Pão &
Circo. Com
esse nome sugestivo, alusivo à estratégia romana destinada a entreter e
ludibriar a massa insatisfeita com os excessos do Império, a presidente Dilma Rousseff abriu em fevereiro de 1995 uma
lojinha de bugigangas, nos moldes das populares casas de R$ 1,99. O
negócio em gestação cumpriu a liturgia comercial habitual. Ao registro do CNPJ
na Junta Comercial seguiu-se o aluguel de um imóvel em Porto Alegre, onde
funcionava a matriz.
Quatro meses
depois, uma filial foi erguida no centro comercial
Olaria, também na capital gaúcha. O problema, para Dilma e seus três
sócios, é que a presidente cuidou da
contabilidade da empresa como lida hoje com as finanças do País –
recém-rebaixado pela agência de risco Standard & Poors por falta de
confiabilidade.
Em apenas 17 meses, a loja quebrou. Em julho de 1996, já não existia mais.
Como acontece no governo, Dilma
terceirizou as tarefas principais da sua
loja. O negócio durou 17 meses
Tocar uma lojinha de
quinquilharias baratas deveria ser algo trivial, principalmente para alguém que
15 anos depois se apresentaria aos eleitores como a “gerentona” capaz de manter o Brasil no rumo do desenvolvimento.
Mas, ao administrar a Pão & Circo, Dilma
cometeu erros banais e em sequência. Qualquer semelhança com a barafunda
administrativa do País atual e os equívocos cometidos na área econômica de 2010
para cá, levando ao desequilíbrio completo das contas públicas e à irresponsabilidade
fiscal, é mera coincidência. Ou não.
Para
começar, a loja foi aberta sem que os
donos soubessem bem ao certo o que seria comercializado ali. Às favas o planejamento, primeiro passo para criação de qualquer negócio
que se pretenda lucrativo. A empresa foi registrada
para vender de tudo um pouco a preços módicos, entre bijuterias, confecções, eletrônicos, tapeçaria, livros, bebidas,
tabaco e até flores naturais e artificiais. Mas a loja acabou apostando no
comércio de brinquedos para crianças, em especial os do “Cavaleiros do
Zodíaco”, série japonesa sucesso entre a meninada dos anos 90. Os artigos revendidos pela Pão & Circo eram importados de
um bazar localizado no Panamá, para onde Dilma e uma das sócias, a
ex-cunhada Sirlei Araújo, viajaram três
vezes para comprar os produtos. As mercadorias eram despachadas de navio
até Imbituba (SC) e seguiam de caminhão até a capital gaúcha.
Apesar de os produtos ali
vendidos custarem bem pouco, o negócio de Dilma era impopular – como a
presidente hoje, que ostenta míseros 7% de aprovação. Os potenciais
clientes e até mesmo os comerciantes vizinhos reparavam na apresentação mal-acabada da loja, com divisórias de tábua de madeira.
“Não entrava ninguém ali”, afirmou ao
jornal Folha de S.Paulo Ênio da Costa Teixeira, dono de uma pizzaria
próxima.
Ao abrir a vendinha de importados, a presidente também não levou em
conta um ensinamento básico do bom comerciante: “o olho do dono é que engorda o gado”. Segundo relato dos próprios
sócios, Dilma aparecia na loja “eventualmente”.
Preferia dar ordens e terceirizar as tarefas do dia a
dia, situação bem semelhante ao contexto atual, em que delegou a
economia ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy e a política ao vice Michel
Temer, até este desistir da função dizendo-se boicotado pelo ministro Aloizio
Mercadante, da Casa Civil.
Na
sociedade da Pão&Circo, o equivalente ao Mercadante
era Carlos Araújo, o ex-marido. Era Araújo quem aconselhava Dilma sobre
como ela poderia turbinar as vendas. Mas o
ex-conjuge se revelou tão inepto quanto o titular da Casa Civil. “Acho
que ela não era do ramo”, afirmou o comerciante, André Onofre, dono de um café
ao lado. Depois de tantas trapalhadas comerciais, não
restou outro destino à lojinha de R$ 1,99 de Dilma senão a bancarrota.
Questionada sobre a mal sucedida
experiência no mundo dos negócios, a Dilma comerciante lembrou mais uma vez a
Dilma presidente. Há duas
semanas, numa espécie de negação da realidade, a presidente rechaçou a “catástrofe” econômica vivida atualmente
pelo Brasil. Ao se referir à lojinha, cinco anos atrás, a Dilma comerciante
saiu-se com a seguinte pérola: “Quando o
dólar está 1 por 1 e passa para 2 ou 3 por 1, o microempresário quebra. É isso
que acontece com o microempresário, ele fecha. A minha experiência é essa e de
muitos microempresários desse País”. Ou seja, como boa petista, a presidente jogou a culpa em FHC pela malfadada
experiência administrativa – que hoje, sabe-se, seria apenas a primeira.
Com a agravante que a crise atual, também de sua inteira
responsabilidade, atinge milhões de brasileiros. A outra teve alcance
bem restrito, afetando somente o seu bolso e as economias de seus sócios. Bem,
de todo modo, se Dilma atribui a falência à relação dólar/Real no período em
que o negócio esteve em funcionamento, com todo respeito, ela comete um grave erro matemático. Dilma
administrou seu comércio de quinquilharias importadas no melhor momento da
história do Brasil para se gerir esse tipo de negócio — quando o Real
estava valorizado em relação ao dólar. No ano e mês em que a Pão&Circo foi
criada – fevereiro de 1995 – o dólar valia R$ 0,8. Quando
quebrou, a moeda americana ainda não
passava de R$ 1.
O negócio tocado pela então
política filiada ao PDT fechou as portas em julho de 1996. Três anos depois ao
encerramento da casa de bugigangas em Porto Alegre, Dilma assumiria o cargo de
secretária de Minas e Energia na gestão Olívio Dutra (1999-2002). O resto da história, todos sabem.
Fonte: Revista Isto É
Foto: Flávio Florido/Folhapress