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sábado, 23 de abril de 2016

Quanto custa um encontro com o ex-marido de Dilma

Em acordo de delação premiada, o executivo da Engevix José Antunes Sobrinho revela ter pago R$ 239 mil a um intermediário para que o apresentasse a Carlos Araújo, que foi casado com a presidente 

ENCONTROS
Carlos Araújo se reuniu com Antunes e prometeu ajudá-lo a solucionar problemas com a Engevix (Foto: Ronaldo de Oliveira/CB/D.A Press)
 
Em janeiro deste ano, ÉPOCA revelou como o empreiteiro José Antunes Sobrinho, da Engevix, articulou encontros com o advogado Carlos Franklin Paixão Araújo, ex-marido da presidente Dilma Rousseff, com o objetivo de solucionar problemas em sua empresa entre os anos de 2013 e 2014. ÉPOCA conversara com dois intermediadores que confirmaram os arranjos para o contato com Araújo: o diretor da Desenvix e ex-vice-presidente da Engevix, Paulo Roberto Zuch, e um amigo de longa data do ex-casal, Nilton Belsarena. Ou Nilton ‘Negão’, para os mais íntimos. A reportagem revelou ainda que, logo após os encontros, Zuch realizou uma transferência de R$ 200 mil para a Ribas & Ribas, empresa controlada Nilton Belsarena e sua esposa, Eunice Ribas. Um mês depois da transação financeira, Zuch recebeu o mesmo valor da Enerbio, fornecedora da Engevix. À época, ambos negaram que o dinheiro havia sido uma espécie de bonificação pelos encontros promovidos pela dupla entre Antunes e Araújo. A delação de Antunes, obtida com exclusividade por ÉPOCA, e que está com os integrantes da Força Tarefa da Lava Jato, esclarece a origem e o destino dos valores.

>> “O objetivo era conseguir agenda com a presidente”, diz ex-vice-presidente da Engevix
Em sua delação, Antunes revela ter, sim, repassado R$ 239 mil a Nilton, por meio de Zuch. Segundo o documento entregue aos procuradores, o empreiteiro diz que Araújo jamais cobrou valores diretamente do delator. Antunes também levantou uma dúvida: disse não saber se Nilton se utilizava de Araújo para enriquecer ou se trabalhava como um operador do ex-marido de Dilma.

Os encontros aconteceram, conforme revelou ÉPOCA, em períodos em que a Engevix enfrentava dificuldades. Na primeira vez, em 2013, o assunto tratado eram os Aeroportos de Brasília e São Gonçalo do Amarante, concedidos a um consórcio liderado pela empreiteira, em parceria com a argentina Corporación América. Antunes confirmou, no documento, que recebeu recados do Palácio do Planalto que denotavam a insatisfação da presidente com as obras. Pensou que isso pudesse fazê-lo perder as concessões e recorreu a Araújo por ajuda. Ainda segundo o delator, os prazos para a entrega das obras terminaram sendo cumpridos e as tensões com o Planalto recuaram. Antunes assim descreve: “Sendo que não houve mais recados do Palácio do Planalto, e o colaborador entende que esta confiança se deu pelo apoio e interferência de Carlos Araújo”.

>> Um dos empreiteiros do petrolão recorreu a ex-marido de Dilma para tentar salvar negócios

Em outro encontro, ocorrido em 2014, Antunes pediu o auxílio de Araújo para destravar a liberação de uma tranche de R$ 62 milhões de um financiamento do Fundo da Marinha Mercante para sua empresa, por meio da Caixa Econômica Federal. Ao ouvi-lo, Araújo se mostrou sensibilizado, disse Antunes.Dizia que iria tomar providências para ajudar”, afirmou o delator. A mesma disposição de Araújo em ajudar a Engevix foi confirmada por ÉPOCA em janeiro, com base em relatos de Zuch. Contudo, até o momento, não há sinais de resultado sobre o dinheiro. A liberação continua travada e Antunes não pode sequer voltar ao amigo Araújo, pois está preso em Curitiba.

Quando esteve em Brasília para ser ouvido na CPI dos Fundos de Pensão, em fevereiro, Antunes conversou brevemente com ÉPOCA. O discurso, contudo, era diferente do que consta do termo de colaboração. O empreiteiro confirmou os encontros com Antunes, mas negou que tivesse pagado qualquer valor a Zuch ou Belsarena. Quando questionado sobre a razão de ter recorrido a Araújo, o empreiteiro não hesitou. “Eu tinha um estaleiro quebrando e ele conhecia todo mundo. Políticos, sindicatos, além de ser ex-marido da presidente. Tinha muita gente sendo demitida e é lógico que eu ia fazer de tudo para impedir isso”, disse o empreiteiro.

Fonte: ÉPOCA 

 

 

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Na década de 90 Dilma faliu duas lojinhas de R$ 1,99 e vinte anos depois quebra o Brasil



Como Dilma quebrou sua loja de R$ 1,99 e um País
Na década de 90, ela faliu duas lojinhas de bugigangas baratas. Vinte anos depois, a presidente mergulha o Brasil numa interminável crise político-econômica e marca sua gestão pela irresponsabilidade fiscal e falta de confiabilidade externa

Pão & Circo. Com esse nome sugestivo, alusivo à estratégia romana destinada a entreter e ludibriar a massa insatisfeita com os excessos do Império, a presidente Dilma Rousseff abriu em fevereiro de 1995 uma lojinha de bugigangas, nos moldes das populares casas de R$ 1,99. O negócio em gestação cumpriu a liturgia comercial habitual. Ao registro do CNPJ na Junta Comercial seguiu-se o aluguel de um imóvel em Porto Alegre, onde funcionava a matriz. 

Quatro meses depois, uma filial foi erguida no centro comercial Olaria, também na capital gaúcha. O problema, para Dilma e seus três sócios, é que a presidente cuidou da contabilidade da empresa como lida hoje com as finanças do País – recém-rebaixado pela agência de risco Standard & Poors por falta de confiabilidade. Em apenas 17 meses, a loja quebrou. Em julho de 1996, já não existia mais.


 Como acontece no governo, Dilma terceirizou as tarefas  principais da sua loja. O negócio durou 17 meses
Tocar uma lojinha de quinquilharias baratas deveria ser algo trivial, principalmente para alguém que 15 anos depois se apresentaria aos eleitores como a “gerentona” capaz de manter o Brasil no rumo do desenvolvimento. Mas, ao administrar a Pão & Circo, Dilma cometeu erros banais e em sequência. Qualquer semelhança com a barafunda administrativa do País atual e os equívocos cometidos na área econômica de 2010 para cá, levando ao desequilíbrio completo das contas públicas e à irresponsabilidade fiscal, é mera coincidência. Ou não.

Para começar, a loja foi aberta sem que os donos soubessem bem ao certo o que seria comercializado ali. Às favas o planejamento, primeiro passo para criação de qualquer negócio que se pretenda lucrativo. A empresa foi registrada para vender de tudo um pouco a preços módicos, entre bijuterias, confecções, eletrônicos, tapeçaria, livros, bebidas, tabaco e até flores naturais e artificiais. Mas a loja acabou apostando no comércio de brinquedos para crianças, em especial os do “Cavaleiros do Zodíaco”, série japonesa sucesso entre a meninada dos anos 90. Os artigos revendidos pela Pão & Circo eram importados de um bazar localizado no Panamá, para onde Dilma e uma das sócias, a ex-cunhada Sirlei Araújo, viajaram três vezes para comprar os produtos. As mercadorias eram despachadas de navio até Imbituba (SC) e seguiam de caminhão até a capital gaúcha.

Apesar de os produtos ali vendidos custarem bem pouco, o negócio de Dilma era impopular – como a presidente hoje, que ostenta míseros 7% de aprovação. Os potenciais clientes e até mesmo os comerciantes vizinhos reparavam na apresentação mal-acabada da loja, com divisórias de tábua de madeira. “Não entrava ninguém ali”, afirmou ao jornal Folha de S.Paulo Ênio da Costa Teixeira, dono de uma pizzaria próxima. 

Ao abrir a vendinha de importados, a presidente também não levou em conta um ensinamento básico do bom comerciante: “o olho do dono é que engorda o gado”. Segundo relato dos próprios sócios, Dilma aparecia na loja “eventualmente”. Preferia dar ordens e terceirizar as tarefas do dia a dia, situação bem semelhante ao contexto atual, em que delegou a economia ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy e a política ao vice Michel Temer, até este desistir da função dizendo-se boicotado pelo ministro Aloizio Mercadante, da Casa Civil.

Na sociedade da Pão&Circo, o equivalente ao Mercadante era Carlos Araújo, o ex-marido. Era Araújo quem aconselhava Dilma sobre como ela poderia turbinar as vendas. Mas o ex-conjuge se revelou tão inepto quanto o titular da Casa Civil. “Acho que ela não era do ramo”, afirmou o comerciante, André Onofre, dono de um café ao lado. Depois de tantas trapalhadas comerciais, não restou outro destino à lojinha de R$ 1,99 de Dilma senão a bancarrota.

Questionada sobre a mal sucedida experiência no mundo dos negócios, a Dilma comerciante lembrou mais uma vez a Dilma presidente. Há duas semanas, numa espécie de negação da realidade, a presidente rechaçou a “catástrofe” econômica vivida atualmente pelo Brasil. Ao se referir à lojinha, cinco anos atrás, a Dilma comerciante saiu-se com a seguinte pérola: “Quando o dólar está 1 por 1 e passa para 2 ou 3 por 1, o microempresário quebra. É isso que acontece com o microempresário, ele fecha. A minha experiência é essa e de muitos microempresários desse País”. Ou seja, como boa petista, a presidente jogou a culpa em FHC pela malfadada experiência administrativa – que hoje, sabe-se, seria apenas a primeira.

Com a agravante que a crise atual, também de sua inteira responsabilidade, atinge milhões de brasileiros. A outra teve alcance bem restrito, afetando somente o seu bolso e as economias de seus sócios. Bem, de todo modo, se Dilma atribui a falência à relação dólar/Real no período em que o negócio esteve em funcionamento, com todo respeito, ela comete um grave erro matemático. Dilma administrou seu comércio de quinquilharias importadas no melhor momento da história do Brasil para se gerir esse tipo de negócio — quando o Real estava valorizado em relação ao dólar. No ano e mês em que a Pão&Circo foi criada – fevereiro de 1995 – o dólar valia R$ 0,8. Quando quebrou, a moeda americana ainda não passava de R$ 1.

O negócio tocado pela então política filiada ao PDT fechou as portas em julho de 1996. Três anos depois ao encerramento da casa de bugigangas em Porto Alegre, Dilma assumiria o cargo de secretária de Minas e Energia na gestão Olívio Dutra (1999-2002). O resto da história, todos sabem.

Fonte: Revista Isto É
Foto: Flávio Florido/Folhapress