Parecer garante que questões técnicas, econômicas e financeiras permitem demissão. Rombo acumulado da empresa chega a R$ 4 bi em dois anos
Desesperado para não fechar as contas no vermelho pelo terceiro ano
consecutivo, o presidente dos Correios, Guilherme Campos, não descarta
demitir empregados da estatal a fim de tentar equilibrar as contas. A
empresa acumula um rombo de R$ 4 bilhões nos últimos dois anos.
Documentos obtidos com exclusividade pelo Correio mostram
que a Vice-Presidência de Recursos Humanos solicitou um parecer ao
Departamento Jurídico sobre a possibilidade de demissão motivada.
Empregados
de empresas públicas não podem ser demitidos sem justa causa e, para
isso ocorrer, seria necessária uma motivação. Pela tese defendida pelo
Departamento Jurídico da estatal, essa dispensa seria motivada por
questões técnicas, econômicas e financeiras. Além disso, seria
necessário apresentar previamente os critérios para os cortes de pessoal
e se os serviços prestados não seriam afetados.
O parecer ainda leva em conta dados apresentados pela Vice-Presidência de Finanças e Controles Internos que mostram que a folha de pagamento dos Correios passou de R$ 3 bilhões em 2006 para R$ 7,5 bilhões em 2015. Com isso, as despesas com pessoal subiram de 49% para 62% dos gastos totais da estatal. No mesmo período analisado, o número de empregados passou de 107 mil para 118 mil. Mas o total de “tráfego de objetos” caiu de 8,6 bilhões para 8,2 bilhões. Além disso, o nível de produtividade diminuiu de 80 para 70 objetos por trabalhador.
O parecer jurídico favorável à possibilidade de demissão motivada circulou nos últimos dias pelas redes sociais de empregados dos Correios. Os trabalhadores avaliam que o vazamento ocorreu para obrigar muitos deles a aderir ao PDI. O programa, organizado de maneira atabalhoada pela estatal, incentivará o desligamento dos empregados com pelo menos 55 anos de idade e 15 anos de serviço na estatal. Para esse grupo, será oferecido um Incentivo Financeiro Diferido (IFD) por oito anos.
A fórmula de cálculo levará em conta o valor médio dos salários recebidos nos últimos 60 meses e tempo de serviço, limitado a 35 anos, mediante comprovação de contribuição previdenciária. Em média, o valor mensal do IFD deve corresponder a 35% do valor da remuneração da ativa. Nas contas da estatal, pelo menos, 14 mil empregados se enquadram nas regras para demissão incentivada e a adesão de metade desse grupo poderia implicar economia de R$ 1 bilhão.
O temor dos empregados dos Correios é que, após a adesão ao PDI, o Postalis, fundo de pensão dos trabalhadores, não tenha condições de arcar com o pagamento de benefícios. Atualmente, a fundação cobra contribuições extraordinárias de 17,92% do valor do benefício para cobrir metade do deficit atuarial de R$ 4 bilhões registrado em 2013 e 2014. A outra parte terá de ser coberta pela empresa pública. Um novo equacionamento deve ser implementado para cobrir o rombo de 2015 e devem ser cobrados mais 2,8% de contribuições adicionais.
Fonte: Correio Braziliense