Depois da derrota para Bolsonaro, o PT se distanciou de aliados e perdeu influência no Congresso. Agora fica ainda mais longe de ver seu líder fora da cadeia
A segunda condenação de Lula tende a agravar o isolamento do PT. O
partido não conseguiu unir a oposição e perdeu influência no Congresso.
Agora fica ainda mais longe de ver seu líder fora da cadeia. Em 2018, o PT foi varrido pelo furacão Bolsonaro. Só elegeu quatro
governadores, todos no Nordeste. Em 2019, as perspectivas não parecem
melhores. O ano mal começou e a sigla já sofreu derrotas significativas
na Câmara e no Senado. Pela primeira vez em 17 anos, foi excluído das
duas mesas diretoras.
Na Câmara, os petistas foram esnobados por Rodrigo Maia, que preferiu se
aliar ao PSL. Fecharam um acordo de última hora com Marcelo Freixo, mas
não conseguiram entregar nem 40 dos 54 votos da bancada. Agora correm o
risco de não comandar nenhuma comissão importante. No Senado, o PT escolheu abraçar Renan Calheiros. Foi uma decisão
desastrada. O emedebista retirou a candidatura e deixou os parceiros ao
relento. O governista Davi Alcolumbre virou presidente e deixou claro
que não dará vida fácil a quem apoiou o rival.
Um ex-ministro petista afirma que o partido está sem rumo e “caminhando
para o gueto”. Ele diz que a legenda adotou um discurso sectário e ficou
imobilizada com a campanha “Lula Livre”. Na sua avaliação, o
ex-presidente não sairá da cadeia tão cedo. Aos 73 anos, terá que
esperar um habeas corpus humanitário. Outro ex-ministro descreve a situação do PT como um “profundo
isolamento”. Ele defende um esforço de reaproximação de aliados
históricos como PDT e PCdoB. O problema é que as duas siglas ainda
reclamam do tratamento que receberam na eleição. Preferiram apoiar Maia e
sabotaram a formação de um bloco de esquerda na Câmara.
O PT recebeu 47 milhões de votos na corrida presidencial, mas não sabe o
que fazer com eles. Fernando Haddad voltou às salas de aula e resiste a
assumir o comando do partido. Só tem sido visto no Twitter, onde faz
críticas pontuais a Bolsonaro. A presidência da sigla continua nas mãos de Gleisi Hoffmann, rebaixada
de senadora a deputada. Ela é cada vez mais contestada pelos colegas.
Tem dado motivos para isso. Sua última trapalhada foi baixar na
Venezuela para a posse de Nicolás Maduro.
Bernardo Mello Franco - O Globo