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quarta-feira, 23 de agosto de 2023

O PT está quebrando a Petrobras. De novo - Revista Oeste

Carlo Cauti

A nova política de preços da estatal repete os erros cometidos pelas gestões passadas do PT e ameaça quebrar pela segunda vez uma das principais empresas do país


Luiz Inácio Lula da Silva coloca as mãos no petróleo durante visita ao Navio Plataforma FPSO, em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro (28/10/2010) | Foto: Wilton Junior/Estadão Conteúdo/AE
 “A nova política de preços da Petrobras passou no teste.” Essa foi a explicação que o presidente da petrolífera, Jean Paul Prates, deu à imprensa ao comentar a nova política de preços da estatal. Para o ex-senador petista, a empresa “não está perdendo dinheiro”, mesmo depois de ter abandonado a paridade com as cotações internacionais dos combustíveis (PPI), que havia sido adotada em 2016.

Os balanços da Petrobras, contudo, mostram que a realidade é outra. No segundo trimestre de 2023, a empresa perdeu quase 50% do seu lucro. Essa destruição de valor ainda foi contida pelo fato de que a empresa mudou sua política de preços somente em maio, no meio do trimestre. Caso contrário, o resultado teria sido um prejuízo retumbante. O primeiro depois de quatro anos de lucros.

Sinal claro de como a nova gestão petista da Petrobras está levando a empresa, mais uma vez, em direção ao desastre. 
Uma história que o Brasil conhece muito bem. 
A irracional política de preços imposta por Dilma Rousseff, somada a investimentos insensatos e à roubalheira generalizada, levou a estatal à beira da falência.

Gestão temerária do PT
Desde o começo do primeiro mandato,
Dilma aumentou sensivelmente os gastos públicos. A alta da inflação foi a consequência natural. Na tentativa de conter a alta dos preços, o governo decidiu utilizar a Petrobras como instrumento impróprio de política fiscal, comprimindo artificialmente os preços dos combustíveis.

O Executivo impôs que a Petrobras importasse combustíveis do exterior pagando a cotação internacional, mas vendendo-os internamente a um preço mais baixo. 
O prejuízo foi imediato, amargado nas contas da empresa, que começaram rapidamente a se deteriorar.
 
(...)

“Isso não faz nenhum sentido”, rebate Rodrigues. “Querem deixar complexo algo muito simples para tentar justificar o injustificável. A empresa vai voltar a registrar prejuízos se mantiver os preços internos mais baixos do que os internacionais. Simples assim. A Petrobras se tornou a única companhia petrolífera do mundo que torce para que a cotação internacional do petróleo não suba. Pois, a cada dólar a mais, ela aumenta seu vermelho no balanço”.

Segundo dados da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), até meados de agosto, os preços praticados pela Petrobras estavam defasados em cerca de 25% no caso da gasolina e 30% no caso do diesel.

A margem da Petrobras passou de cerca de 27% para 8%. A empresa deixou de ganhar dinheiro. E isso pode provocar consequências jurídicas internacionais. Como já ocorreu no passado.
As ações da estatal são listadas na Bolsa de Valores de Nova York. E, durante as passadas gestões petistas, investidores insatisfeitos processaram a Petrobras, ganhando ressarcimentos bilionários. 
Em 2018, a Justiça norte-americana multou a empresa em US$ 1,78 bilhão por enganar os investidores com sua contabilidade criativa. Essa parte da história também poderá se repetir.
 
Tarifaço dos combustíveis
No último dia 14 de agosto, veio a surpresa:
a Petrobras anunciou um tarifaço. 
Os preços da gasolina foram elevados em 16,2%; e os do diesel, em 26%. A bomba explodiu no colo dos consumidores finais, que, mais uma vez, pagaram a conta de uma gestão temerária. “O pior é que eles nem queriam aumentar os preços”, explica Evaristo Pinheiro, presidente da Refina Brasil, associação que reúne refinarias particulares. “Foram obrigados pelo efeito imediato dessa nova política de preços: o desabastecimento.”
 
(.....)
O tarifaço foi tamanho, que vai impactar a inflação brasileira nos próximos meses. Podendo colocar em xeque os planos do Banco Central (BC) de reduzir a taxa básica de juros (Selic). 
 Mesmo assim, não foi suficiente para realinhar os preços praticados pela Petrobras com o resto do mundo. 
A defasagem continua existindo para a gasolina e o diesel, respectivamente, em 15% e 10%. E a tendência das cotações internacionais é de alta. 
Segundo o banco norte-americano Goldman Sachs, elas chegarão a US$ 100 no fim de 2024, aumentando a pressão sobre a estatal brasileira. 
Ou seja, mais aumentos à vista. 
 
Megalomania e gastança
Assim como na década passada
, as gestões petistas não limitam o desastre à política de preços. Elas transbordam na megalomania dos projetos que, segundo eles, a Petrobras deveria tocar para ser uma verdadeira “campeã nacional”.

O governo anunciou o novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), [PACO = Conto do Paco.]  prevendo gastos de R$ 1,7 trilhão em quatro anos. Dinheiro que o Executivo não tem, já que este e o próximo ano têm agendados dois rombos das contas públicas superiores a R$ 130 bilhões cada. Lula então decidiu que quem vai pagar a maior parte dessa conta será a Petrobras.

Sozinha, a estatal vai bancar a gastança com R$ 600 bilhões. Um montante tão astronômico que supera até mesmo o valor de mercado da Petrobras, que está em cerca de R$ 400 bilhões. Impossível de pagar sem sérias consequências para a empresa.

Mas matemática nunca foi um empecilho para os projetos petistas. E a Petrobras terá que financiar os projetos do governo, dos quais o principal é a recriação, pela enésima vez, de uma indústria naval brasileira. Mais do que um projeto, um fetiche. Que reaparece em todos os governos petistas. Para dar, pontualmente, errado. Pactual. “Vai ficar para a próxima. A minha geração já pagou essa conta.” Ledo engano.

Há poucos dias, Prates anunciou in pompa magna que a Petrobras vai “lotar” novamente os estaleiros do Brasil para construir embarcações. Gasto previsto: R$ 300 bilhões. Alguém vai ter que pagar essa conta. Assim como a política de preços, os resultados dos gastos na indústria naval já fazem parte da história: desperdício gigantesco de dinheiro público sem nenhum retorno. O caso mais icônico dessa saga foi o petroleiro João Cândido. Passou para a história como o “navio que não conseguia navegar”.

Construído no estaleiro Atlântico Sul, em Pernambuco, o petroleiro tinha que se tornar símbolo da nova indústria naval brasileira, reconstruída pelo PT.  
Até o nome fazia parte desse simbolismo, sendo dedicado ao marinheiro negro que liderou a Revolta da Chibata. 
Fracassou completamente. A entrega atrasou mais de 20 meses e custou R$ 533 milhões. Quase o dobro do orçamento previsto. 
Mas o pior foi que, após a entrega, se descobriu que a embarcação apresentava inúmeros defeitos e não tinha condições para navegar. Foi basicamente reconstruída. A Petrobras chegou a multar o estaleiro pelo atraso em um valor que nunca foi divulgado
O desastre foi tamanho, que até a Samsung, líder mundial em construção naval, decidiu abandonar a empreitada.
 
(...)

Refinarias jamais acabadas e inúteis
Além da indústria naval,
o governo ordenou que a Petrobras voltasse a investir nas refinarias de Abreu e Lima (PE) e Comperj (RJ). Outros desastres retumbantes.

Abreu e Lima deveria custar R$ 12 bilhões,
superou os R$ 100 bilhões e se tornou a refinaria mais cara do mundo. A construção, que teve início em 2003, nunca foi concluída. Tornou-se um dos epicentros dos casos de corrupção descobertos pela Lava Jato e um vexame internacional para a Petrobras e para o Brasil.
Mesma história do Comperj, que deveria ter ficado pronto em 2011, com um orçamento de US$ 6,1 bilhões. Nunca foi concluído, e seu custo estimado ultrapassa os US$ 50 bilhões. “Essas duas refinarias não são apenas casos de desperdício de dinheiro público. São também insensatez econômica. Caso elas se paguem um dia, isso vai acontecer depois de 2050. O mundo será completamente diferente. Teremos outra matriz energética”, diz Pinheiro. “O petróleo não terá tanta importância. Ou seja, teremos mais um problema.”

A prova de que a atuação da diretoria petista é dolosa, e não culposa, é a liberação para que as empreiteiras envolvidas em escândalos de corrupção possam voltar a fazer negócios com a Petrobras. 

(...)

Na Bolívia, a Petrobras foi expropriada em 2006, quando Evo Morales mandou o exército invadir as refinarias
A Venezuela deu calote na Petrobras na refinaria Abreu e Lima. 
O mesmo ocorreu com a Argentina, que há poucos dias informou que não conseguiria pagar a energia fornecida pela estatal brasileira.

Nenhum desses projetos foi econômico. Muito menos viável. Foram iniciados por razões ideológicas e nunca completados. Ou terminaram em catástrofe. Como todos os outros das passadas gestões petistas da Petrobras. Se a ideia era trazer o socialismo para a petrolífera, o governo está tendo êxito. Mas Karl Marx já alertava, em 1852: “A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa”.

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Leia também “Petrobras: o PT volta ao ataque”


 

Coluna Carlo Cauti, Revista Oeste