Carlo Cauti
A nova política de preços da estatal repete os erros cometidos pelas gestões passadas do PT e ameaça quebrar pela segunda vez uma das principais empresas do país
Luiz Inácio Lula da Silva coloca as mãos no petróleo durante visita ao Navio Plataforma FPSO, em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro (28/10/2010) | Foto: Wilton Junior/Estadão Conteúdo/AE
“A nova política de preços da Petrobras passou no teste.” Essa foi a explicação que o presidente da petrolífera, Jean Paul Prates, deu à imprensa ao comentar a nova política de preços da estatal. Para o ex-senador petista, a empresa “não está perdendo dinheiro”, mesmo depois de ter abandonado a paridade com as cotações internacionais dos combustíveis (PPI), que havia sido adotada em 2016.
Os balanços da Petrobras, contudo, mostram que a realidade é outra. No segundo trimestre de 2023, a empresa perdeu quase 50% do seu lucro. Essa destruição de valor ainda foi contida pelo fato de que a empresa mudou sua política de preços somente em maio, no meio do trimestre. Caso contrário, o resultado teria sido um prejuízo retumbante. O primeiro depois de quatro anos de lucros.
Gestão temerária do PT
Desde o começo do primeiro mandato, Dilma aumentou sensivelmente os gastos públicos. A alta da inflação foi a consequência natural. Na tentativa de conter a alta dos preços, o governo decidiu utilizar a Petrobras como instrumento impróprio de política fiscal, comprimindo artificialmente os preços dos combustíveis.
“Isso não faz nenhum sentido”, rebate Rodrigues. “Querem deixar complexo algo muito simples para tentar justificar o injustificável. A empresa vai voltar a registrar prejuízos se mantiver os preços internos mais baixos do que os internacionais. Simples assim. A Petrobras se tornou a única companhia petrolífera do mundo que torce para que a cotação internacional do petróleo não suba. Pois, a cada dólar a mais, ela aumenta seu vermelho no balanço”.
Segundo dados da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), até meados de agosto, os preços praticados pela Petrobras estavam defasados em cerca de 25% no caso da gasolina e 30% no caso do diesel.
No último dia 14 de agosto, veio a surpresa: a Petrobras anunciou um tarifaço.
Assim como na década passada, as gestões petistas não limitam o desastre à política de preços. Elas transbordam na megalomania dos projetos que, segundo eles, a Petrobras deveria tocar para ser uma verdadeira “campeã nacional”.
O governo anunciou o novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), [PACO = Conto do Paco.] prevendo gastos de R$ 1,7 trilhão em quatro anos. Dinheiro que o Executivo não tem, já que este e o próximo ano têm agendados dois rombos das contas públicas superiores a R$ 130 bilhões cada. Lula então decidiu que quem vai pagar a maior parte dessa conta será a Petrobras.
Sozinha, a estatal vai bancar a gastança com R$ 600 bilhões. Um montante tão astronômico que supera até mesmo o valor de mercado da Petrobras, que está em cerca de R$ 400 bilhões. Impossível de pagar sem sérias consequências para a empresa.
Mas matemática nunca foi um empecilho para os projetos petistas. E a Petrobras terá que financiar os projetos do governo, dos quais o principal é a recriação, pela enésima vez, de uma indústria naval brasileira. Mais do que um projeto, um fetiche. Que reaparece em todos os governos petistas. Para dar, pontualmente, errado. Pactual. “Vai ficar para a próxima. A minha geração já pagou essa conta.” Ledo engano.
Há poucos dias, Prates anunciou in pompa magna que a Petrobras vai “lotar” novamente os estaleiros do Brasil para construir embarcações. Gasto previsto: R$ 300 bilhões. Alguém vai ter que pagar essa conta. Assim como a política de preços, os resultados dos gastos na indústria naval já fazem parte da história: desperdício gigantesco de dinheiro público sem nenhum retorno. O caso mais icônico dessa saga foi o petroleiro João Cândido. Passou para a história como o “navio que não conseguia navegar”.
Refinarias jamais acabadas e inúteis
Além da indústria naval, o governo ordenou que a Petrobras voltasse a investir nas refinarias de Abreu e Lima (PE) e Comperj (RJ). Outros desastres retumbantes.
Abreu e Lima deveria custar R$ 12 bilhões, superou os R$ 100 bilhões e se tornou a refinaria mais cara do mundo. A construção, que teve início em 2003, nunca foi concluída. Tornou-se um dos epicentros dos casos de corrupção descobertos pela Lava Jato e um vexame internacional para a Petrobras e para o Brasil.
Mesma história do Comperj, que deveria ter ficado pronto em 2011, com um orçamento de US$ 6,1 bilhões. Nunca foi concluído, e seu custo estimado ultrapassa os US$ 50 bilhões. “Essas duas refinarias não são apenas casos de desperdício de dinheiro público. São também insensatez econômica. Caso elas se paguem um dia, isso vai acontecer depois de 2050. O mundo será completamente diferente. Teremos outra matriz energética”, diz Pinheiro. “O petróleo não terá tanta importância. Ou seja, teremos mais um problema.”
A prova de que a atuação da diretoria petista é dolosa, e não culposa, é a liberação para que as empreiteiras envolvidas em escândalos de corrupção possam voltar a fazer negócios com a Petrobras.
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Nenhum desses projetos foi econômico. Muito menos viável. Foram iniciados por razões ideológicas e nunca completados. Ou terminaram em catástrofe. Como todos os outros das passadas gestões petistas da Petrobras. Se a ideia era trazer o socialismo para a petrolífera, o governo está tendo êxito. Mas Karl Marx já alertava, em 1852: “A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa”.
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Coluna Carlo Cauti, Revista Oeste