Panelaços e carreatas embalam pedidos de impedimento, mas o presidente conta com base parlamentar, popularidade e lidera a corrida para 2022 [ falta o principal: um motivo real, algo concreto, que possa ser apresentado, provado.
Com fofocas e inventando crimes para acusar o presidente, não se alcança o impeachment da maior autoridade do Brasil.] Poucos termos se fizeram tão presentes no vocabulário político dos brasileiros nas últimas décadas quanto a palavra de origem inglesa impeachment (impedimento), que rondou todos os presidentes desde a redemocratização do país e levou à queda de ao menos dois deles: Dilma Rousseff em 2016 e Fernando Collor em 1992 — este renunciou em meio ao processo de cassação. Quem está no alvo agora é Jair Bolsonaro, acossado principalmente por acusações de que cometeu erros variados ao gerir a crise desencadeada pela pandemia da Covid-19, escancarados pela atuação quase inerte diante do caos sanitário que se instalou em Manaus. [Comentando: em abril 2020 o STF determinou que a linha de frente do combate à covid-19 fosse assumida pelos governadores e prefeitos, restando ao Poder Executivo um papel secundário, sem poder da iniciativa, por estar a reboque daqueles entes federativos.
Deu no que deu e agora as autoridade investidas dos excepcionais poderes querem seguir a regra 'tirar o seu da reta' e o Supremo tenta vender o entendimento de que o Poder Executivo da União tinha que agir em consonância com os estados e municípios.
Caso tal interpretação prospere - improvável, a marcha que Bolsonaro comandou rumo ao Supremo, deixou claro o que foi decidido pela Instância máxima do Poder Judiciário da União - será como ter sido decretado: 'se prefeitos e governadores precisarem de ajuda, eles chamam'. Só que o presidente não foi chamado - com a crise de Manaus,muitos se arrependem de não terem estalado os dedos para o presidente. Agora é tarde.] O barulho aumentou com alguns panelaços há cerca de quinze dias e chegou às ruas das maiores cidades com carreatas no último fim de semana.
A gritaria dos últimos dias, no entanto, encobriu a pragmática voz corrente que se ouve nos bastidores da política, das instituições e dos negócios: não há as condições necessárias para o impeachment, [sendo recorrente: faltam muitas coisas, especialmente o motivo, o fato criminoso - o impeachment é um processo político, mas precisa de um ato criminoso (provado, não inventado pelos inimigos do Brasil) que o sustente.] embora muitos apontem uma extensa lista de motivos nos 64 pedidos protocolados na Câmara desde 2019, que vão dos erros na pandemia à falta de compromisso com a democracia, passando pela defesa de coisas indefensáveis, como a tortura, e a suposta interferência política em órgãos de Estado, como a Polícia Federal. [ter opiniões é um direito de qualquer cidadão - Bolsonaro ao se tornar Presidente da República Federativa do Brasil, com quase 60.000.000 de votos, não abdicou de sua cidadania.] Mas a cassação de um presidente é mais do que um processo de caráter jurídico, é fundamentalmente político — e neste momento, há dois fatores que dão alguma tranquilidade a Bolsonaro: ele tem boa popularidade e conseguiu nos últimos tempos criar uma razoável base política.
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Publicado em VEJA, edição nº 2723, de 3 de fevereiro de 2021