É possível identificar várias tendências positivas nos dados do mercado
de trabalho mostrados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio
(Pnad) Contínua relativa ao trimestre móvel janeiro-março de 2019.
Números relevantes, como os relativos a total de pessoas empregadas,
qualidade do emprego e renda, mostram avanço em relação aos dados de um
ano antes. São indicações de que o mercado de trabalho melhorou em
relação à situação de 2018. Mas a melhora tem sido lenta e não há, por
enquanto, sinais de que ela possa se acelerar nos próximos meses, pois a
abertura de postos de trabalho, especialmente os de melhor qualidade e
que oferecem remuneração mais alta, está condicionada à retomada dos
investimentos e do crescimento, mudança por sua vez condicionada à
confiança dos investidores e das famílias. Quando não o agrava, essa
lentidão retarda a superação de um quadro socialmente dramático
decorrente da falta de emprego e que, sob alguns aspectos, vem se
deteriorando. Se há motivos para algum otimismo, há outros que causam
preocupação. O fato de faltar trabalho para 28,3 milhões de pessoas é
apenas um deles.
A taxa de desocupação no País ficou em 12,7% no trimestre encerrado em
março, de acordo com a Pnad Contínua, elaborada pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse resultado é melhor do
que o de um ano antes, quando a taxa de desemprego atingiu 13,1%, mas
pior do que o do último trimestre de 2018, de 11,6%. A taxa do trimestre
janeiro-março indica que havia 13,4 milhões de pessoas desempregadas no
período.
Em relação a igual período de 2018, há uma melhora no mercado, com a
queda de 0,4 ponto porcentual na taxa de desocupação. E há razões
sazonais para explicar o aumento do desemprego no período janeiro-março
em relação ao trimestre anterior, pois parte das pessoas contratadas no
período das festas de fim de ano é dispensada nos primeiros meses do ano
seguinte. Também positiva é a comparação do número de vagas com carteira assinada
no setor privado. No período de um ano, 81 mil postos de trabalho
formais - isto é, com carteira assinada e garantias trabalhistas - foram
abertos no setor privado. O aumento foi de 0,2%.
Aumento maior foi registrado no emprego sem carteira no setor privado
(4,4%) e no trabalho por conta própria (3,8%). Com isso mais 466 mil
pessoas se somaram ao contingente de trabalhadores informais no setor
privado e outras 879 mil passaram a trabalhar por conta própria. Esta
última modalidade de trabalho, que implica riscos e oscilações bruscas
de rendimento, vem sendo procurada principalmente por trabalhadores que
não encontraram forma de sustento mais estável. Se não houvesse essas
duas opções de ocupação, mais brasileiros estariam engordando as
estatísticas de desemprego.
Mas outros números relativos ao mercado de trabalho são expressivos o
suficiente para montar, a partir deles, um quadro social preocupante. A
Pnad Contínua constatou que a taxa de subutilização da força de
trabalho, de 25%, no período, é a maior da série histórica. Esse
indicador inclui os trabalhadores desocupados, aqueles subocupados por
insuficiência de horas de trabalho e os que compõem a força de trabalho
potencial, formada por pessoas que não estão em busca de trabalho, mas
estão disponíveis para trabalhar. A população subutilizada no trimestre
janeiro-março, de 28,3 milhões de pessoas, é a maior da série calculada
pelo IBGE. Essas pessoas compõem o que também se chama de mão de obra
desperdiçada pelo País.
“Um quarto da força de trabalho ampliada está subutilizada”, observou o
coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo. “Como pode
chamar de situação favorável se você tem a maior taxa de subutilização
da força de trabalho da série?” A recuperação mais sensível do mercado de trabalho depende de uma
combinação benigna de avanço das reformas, retomada de confiança de
empresários e consumidores e aceleração dos investimentos.