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segunda-feira, 13 de maio de 2019

Desemprego e subemprego

É possível identificar várias tendências positivas nos dados do mercado de trabalho mostrados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua relativa ao trimestre móvel janeiro-março de 2019. Números relevantes, como os relativos a total de pessoas empregadas, qualidade do emprego e renda, mostram avanço em relação aos dados de um ano antes. São indicações de que o mercado de trabalho melhorou em relação à situação de 2018. Mas a melhora tem sido lenta e não há, por enquanto, sinais de que ela possa se acelerar nos próximos meses, pois a abertura de postos de trabalho, especialmente os de melhor qualidade e que oferecem remuneração mais alta, está condicionada à retomada dos investimentos e do crescimento, mudança por sua vez condicionada à confiança dos investidores e das famílias. Quando não o agrava, essa lentidão retarda a superação de um quadro socialmente dramático decorrente da falta de emprego e que, sob alguns aspectos, vem se deteriorando. Se há motivos para algum otimismo, há outros que causam preocupação. O fato de faltar trabalho para 28,3 milhões de pessoas é apenas um deles.

A taxa de desocupação no País ficou em 12,7% no trimestre encerrado em março, de acordo com a Pnad Contínua, elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse resultado é melhor do que o de um ano antes, quando a taxa de desemprego atingiu 13,1%, mas pior do que o do último trimestre de 2018, de 11,6%. A taxa do trimestre janeiro-março indica que havia 13,4 milhões de pessoas desempregadas no período.

Em relação a igual período de 2018, há uma melhora no mercado, com a queda de 0,4 ponto porcentual na taxa de desocupação. E há razões sazonais para explicar o aumento do desemprego no período janeiro-março em relação ao trimestre anterior, pois parte das pessoas contratadas no período das festas de fim de ano é dispensada nos primeiros meses do ano seguinte. Também positiva é a comparação do número de vagas com carteira assinada no setor privado. No período de um ano, 81 mil postos de trabalho formais - isto é, com carteira assinada e garantias trabalhistas - foram abertos no setor privado. O aumento foi de 0,2%.

Aumento maior foi registrado no emprego sem carteira no setor privado (4,4%) e no trabalho por conta própria (3,8%). Com isso mais 466 mil pessoas se somaram ao contingente de trabalhadores informais no setor privado e outras 879 mil passaram a trabalhar por conta própria. Esta última modalidade de trabalho, que implica riscos e oscilações bruscas de rendimento, vem sendo procurada principalmente por trabalhadores que não encontraram forma de sustento mais estável. Se não houvesse essas duas opções de ocupação, mais brasileiros estariam engordando as estatísticas de desemprego.

Mas outros números relativos ao mercado de trabalho são expressivos o suficiente para montar, a partir deles, um quadro social preocupante. A Pnad Contínua constatou que a taxa de subutilização da força de trabalho, de 25%, no período, é a maior da série histórica. Esse indicador inclui os trabalhadores desocupados, aqueles subocupados por insuficiência de horas de trabalho e os que compõem a força de trabalho potencial, formada por pessoas que não estão em busca de trabalho, mas estão disponíveis para trabalhar. A população subutilizada no trimestre janeiro-março, de 28,3 milhões de pessoas, é a maior da série calculada pelo IBGE. Essas pessoas compõem o que também se chama de mão de obra desperdiçada pelo País.

“Um quarto da força de trabalho ampliada está subutilizada”, observou o coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo. “Como pode chamar de situação favorável se você tem a maior taxa de subutilização da força de trabalho da série?” A recuperação mais sensível do mercado de trabalho depende de uma combinação benigna de avanço das reformas, retomada de confiança de empresários e consumidores e aceleração dos investimentos.
 
 
 

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

A ‘farsa’ do desemprego

Economia não é para aspirantes; antes de falar do assunto, não custa passar no posto Ipiranga


Na semana passada, o presidente eleito se manifestou sobre as estatísticas de desemprego no país afirmando: “Vou querer que a metodologia para dar o número de desempregados seja alterada no Brasil, porque isso daí é uma farsa. Quem, por exemplo, recebe Bolsa Família é tido como empregado. Quem não procura emprego há mais de um ano é tido como empregado. Quem recebe seguro-desemprego é tido como empregado”.
Segundo o IBGE, a população brasileira em setembro deste ano era de aproximadamente 209 milhões de pessoas. Nem todos, porém, estão aptos a trabalhar. O IBGE define a População em Idade Ativa, PIA, como aqueles com mais de 14 anos, em torno de 170 milhões de pessoas.

Obviamente, apenas parte dos maiores de 14 anos está no mercado de trabalho. Alguns, por exemplo, estudam (ainda bem!), outros já se aposentaram, e há quem decida não tomar parte no mercado por uma série de motivos, alguns dos quais trataremos à frente.
Os que participam, seja trabalhando, seja buscando emprego, são definidos como “força de trabalho”, ou PEA (População Economicamente Ativa), e montavam a 105 milhões de pessoas em setembro.  Desses, 92,6 milhões estavam ocupados, e 12,5 milhões, desempregados. Assim a taxa de desemprego atingiu 11,9% (12,5÷105).

Essa é a definição internacional da taxa de desemprego, adotada por todos os países com boas estatísticas na área. No caso, se a pessoa recebe o Bolsa Família (sem estar empregada) ou o seguro-desemprego, ela obviamente não conta como empregada.
Caso esteja procurando trabalho, contará como desempregada (e participante da PEA); caso contrário, não aparecerá nessa estatística de desemprego.  Ocorre que a taxa de desemprego descrita acima não esgota o conjunto de estatísticas sobre o mercado de trabalho. O IBGE também discrimina entre os ocupados aqueles que trabalham menos do que desejam e calcula a taxa de desempregados (12,5 milhões) e subocupados (6,9 milhões) com relação à PEA: 18,4% (19,4÷105).

Há, por outro lado, entre as pessoas que estão fora da PEA, as que gostariam de trabalhar, mas não estão buscando emprego, a chamada “força de trabalho potencial”, 8 milhões de pessoas.  A estatística mais ampla do IBGE a respeito (a taxa de subutilização da força de trabalho) junta os desempregados, os subocupados e a força de trabalho potencial, um conjunto de pouco mais de 27 milhões de pessoas como proporção da “PEA ampliada”, isto é, os 105 milhões da PEA mais os 8 milhões da força de trabalho potencial (123 milhões), revelando uma taxa de subutilização na casa de 24%.  A coexistência de várias medidas de desemprego não é uma jabuticaba.

Nos EUA, por exemplo, o Bureau of Labor Statistics publica a cada mês nada menos do que seis alternativas: a taxa denominada U3, calculada de forma similar à nossa, é a mais disseminada, 3,7% no mês passado; a taxa mais ampla, U6, se encontrava em 7,4%, o dobro da oficial, por incorporar também os que gostariam de trabalhar mais e os participantes da força de trabalho potencial.
Economia, apesar das aparências em contrário, não é para aspirantes. Como regra, antes de falar do assunto, não custa nada dar uma passada no posto Ipiranga.

Folha de S. Paulo

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Faltou trabalho para quase 23 milhões de pessoas no 3º trimestre

Força de trabalho de 21% dos brasileiros em idade produtiva é subutilizada, diz IBGE

Faltou trabalho para 21,2% das pessoas em idade produtiva no Brasil, o correspondente a 22,9 milhões de pessoas no terceiro trimestre. Essa é a chamada taxa composta da subutilização da força de trabalho, que agrega a taxa de desemprego, a taxa de desemprego por insuficiência de horas trabalhadas e a da força de trabalho potencial.

Já no segundo trimestre a chamada taxa de subutilização da força de trabalho foi de 20,9%, segundo o IBGE. No terceiro trimestre de 2015, havia sido de 18%.  O indicador soma o contingente de pessoas desocupadas (12 milhões), o de pessoas subocupadas por insuficiência de horas trabalhadas (4,8 milhões de pessoas ou 16,5% do total) e a força de trabalho potencial (6,1 milhões de pessoas ou 16,8% do total).

Pessoas subocupadas por insuficiência de horas trabalhadas são as que trabalham menos de 40 horas por semana, mas gostariam e estavam disponíveis para trabalhar mais. A força de trabalho potencial é formada pelo grupo de pessoas que não estavam trabalhando nem procurando emprego, mas que estavam disponíveis para trabalhar ou que estavam procurando mas não estavam disponíveis quando o IBGE realizou a pesquisa.

A maior parte do contingente de 22,9 milhões de pessoas que faz parte dessa taxa composta de subutilização da força de trabalho está nas regiões Sudeste (8,683 milhões) e Nordeste (8,750 milhões). No Norte, são 2,041 milhões de pessoas e no Sul, 2,122 milhões. Já o Centro-Oeste reúne 1,326 milhão de pessoas.

Se na média nacional a taxa de subutilização da força de trabalho é de 21,2%, a taxa do Nordeste é a maior entre as regiões, com 31,4%. Já o Sul é a menor, com 13,2%. No Sudeste, a taxa é de 18,2%.  — A região Nordeste é a que tem maior subutilização da força do trabalho. Mas mesmo a região Sul, com o advento da crise, atinge níveis piores do que tinha no passado — afirmou o gerente da Coordenação de Trabalho e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo.

A taxa de desemprego subiu em todas as regiões do país na passagem do segundo para o terceiro trimestre, com exceção apenas do Sul, em que passou de 8% para 7,9%. No Norte, passou de 11,2% para 11,4%; no Nordeste, pulou de 13,2% para 14,1%; no Sudeste, avançou de 11,7% para 12,3%; e no Centro-Oeste foi de 9,7% para 10%.

DESEMPREGO RECORDE NO RIO: 12,1%
Sete estados tiveram alta significativa na taxa de desemprego na passagem do segundo para o terceiro trimestre do ano (Roraima, Ceará, Pará, Pernambuco, Sergipe, Espírito Santo e Rio de Janeiro). Já na comparação entre o terceiro trimestre de 2015 e o terceiro trimestre de 2016, foram 22 estados com expansão significativa da taxa. 

No terceiro trimestre de 2016, 19 estados bateram recordes na taxa de desemprego. Em apenas oito estados o pior resultado do desemprego não se deu no terceiro trimestre.
No Rio de Janeiro, a taxa de desemprego bateu novo recorde e alcançou 12,1% no terceiro trimestre, o maior nível desde 2012, o início da série histórica. No segundo trimestre, tinha sido de 11,4%. O desemprego também atingiu recorde no terceiro trimestre em São Paulo, de 12,8%, ante 12,2% no segundo trimestre.