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quarta-feira, 31 de julho de 2019

Presidente em transe - Merval Pereira

Arroubos personalistas não podem ameaçar reformas 

[Bolsonaro, Boris  Johnson e Trump, o trio que vai dar uma organizada geral.

Fazendo com que valores hoje desprezados, voltem a ter importância.

E, gostem ou não, os dois países governados pelos parceiros de Bolsonaro são DEMOCRACIAS. 

Falta apenas que Bolsonaro lembre que tem que dedicar algum tempo governando o Brasil.]



Ter um presidente sem superego, sem limites e controles, não é fácil. É um teste para nossa democracia, que tem que impor os limites. Nem se fale na insensibilidade, na falta de respeito com os mortos de um período negro de nossa história.  Ou na atitude pouco civilizada de justificar o massacre de 57 presos da penitenciária do Pará, numa briga de gangues, com os crimes que cometeram. Perguntado sobre sua reação ao massacre, o presidente respondeu: “Pergunte às vítimas deles o que acham”.

Ao dar uma explicação, que não lhe foi pedida, com aparente sentimento de raiva, sobre a morte do pai do presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, o presidente Bolsonaro mostrou que pode ser irresponsável mesmo fora do palanque.  Primeiro sugeriu, e depois afirmou que ele foi “justiçado” por seu próprio grupo guerrilheiro. Documentos oficiais do governo brasileiro, entre eles o relatório da Comissão da Verdade [com todo o respeito: um relatório da Comissão da (IN)verdade, pode até ser oficial, mas, o conteúdo ser verdadeiro é algo dificil de se acreditar.

Quanto ao atestado de óbito pode ter valor simbólico, mas, como se atribuir uma causa mortis de alguém que não se sabe as circunstâncias da morte e que é dado como desaparecido até os dias de hoje.] e um atestado de óbito dado pelo ministério dos Direitos Humanos de seu governo, indicam que Fernando Santa Cruz, então com 26 anos, militante da Ação Popular Marxista-Leninista (APML) foi preso no Rio e levado para uma instituição militar.

É dado como desaparecido até hoje, e há versões de que seu corpo possa ter sido incinerado. Bolsonaro, no dia seguinte, voltou ao tema, e confidenciou que sua fala “foi coisa minha, coisa pessoal”, provavelmente para se livrar de ter que explicar ao Supremo Tribunal Federal (STF) onde obteve tal informação. [quanto a Bolsonaro ter procurado com sua declaração se livrar de dar explicações ao STF, é uma opção incabível;

a Lei da Anistia, angustiou todos os envolvidos em ações de combate ao terrorismo de 64 a 79, incluindo também os terroristas que mataram pessoas inocentes e na maior parte das vezes com extrema covardia, de forma traiçoeira.
Seus efeitos também alcançaram as pessoas que vieram a saber de fatos ocorridos naquela época e não os denunciaram.
Anistiar o autor, ou autores, e punir eventuais conhecedores do que ocorreu é um absurdo.]
O fato é que Bolsonaro está levando o governo brasileiro como se estivesse em uma mesa de botequim, ou no twitter, ou em outro meio digital desses onde cada um dá seu pitaco sem precisar provar nada, de usar a lógica, o bom senso. Geralmente entusiasmados pela bebida, ou pelo anonimato, essas pessoas deixam de lado seu superego, e falam sobre qualquer assunto, dão palpite sobre tudo. Geralmente com ódio, o mesmo ódio que estava embutido na provocação inicial. O presidente Bolsonaro tem estado em transe nos últimos dias. Acusa, repete a acusação, ataca pessoalmente aqueles que considera inimigos, joga pressão em cima das instituições e cria situações embaraçosas. Vergonha alheia é o que os cidadãos minimamente civilizados devem sentir pelo seu presidente.

Mas o pior de tudo é que essa vergonha nos atinge como cidadãos, como país. Coloca-nos à parte da comunidade internacional, nos iguala a países onde não existe democracia, onde é normal o nepotismo, o achincalhe é uma arma política. Filipinas de Duterte é exemplar desse estado de coisas.  Mas também no país mais democrático do mundo, os Estados Unidos, sob a administração de Donald Trump, a grosseria verbal e no twitter passou a ser uma estratégia de aproximar-se do seu eleitorado e tentar desmoralizar as instituições que impõem limites ao Executivo. E ainda teremos o primeiro-ministro da Inglaterra Boris Johnson.

 Foi-se o tempo em que tivemos líderes de direita como Ronald Reagan ou Margareth Thatcher. É um fenômeno da atualidade que está levando o mundo para um caminho muito perigoso, com o descrédito das instituições e tentativa de aumento de poder pessoal dos mandatários. Como na Rússia de Putin, outro autocrata por quem Bolsonaro diz ter “profundo respeito”.   Bolsonaro cria um ambiente que não combina com uma corrida para novos caminhos que sua política econômica indica. Como a correta política de desburocratização, que ontem deu mais um passo importante com as normas regulamentadoras e de consolidação da legislação trabalhista.  As reformas estruturais, fundamentais para um recomeço de crescimento econômico, não podem ficar ameaçadas por arroubos personalistas de quem continua no palanque, obcecado por demolir.


Merval Pereira, jornalista - O Globo