Figurino populista leva presidente a penetrar em searas antes da esquerda, como a dos programas sociais, que o deixaria em vantagem para 2022. Oposição amarga ressentimentos entre suas correntes, embora todas tenham o ocupante do Palácio do Planalto como adversário
Com a oposição dividida e sem a definição de uma frente ampla para
enfrentar Jair Bolsonaro nas urnas, em 2022, o presidente tem
aproveitado o espaço para encaminhar seu projeto de reeleição. O reforço
de programas sociais, uma agenda de viagens pelo país e a aproximação
com o Centrão, em troca de apoio político, são os mais recentes
movimentos do capitão reformado.
Os partidos de
oposição ainda vivem os reflexos das divisões ocorridas no pleito de
2018. A principal delas foi a negativa de Ciro Gomes (PDT), derrotado no
primeiro turno, em apoiar Fernando Haddad (PT) no segundo contra
Bolsonaro. Desde então, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e
outras lideranças petistas têm resistido a uma reaproximação com o
político cearense.
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Pressionado
pela má condução da crise provocada pela pandemia do novo coronavírus, o
presidente anunciou a prorrogação do auxílio emergencial por mais dois
meses, a um custo de R$ 100 bilhões, o dobro do que queria o Ministério
da Economia. Também lançará o Renda Brasil, em substituição ao Bolsa
Família, que vai unificar diversos programas sociais usando o banco de
dados formado para pagar os R$ 600 a quem necessita, ampliando o número
de pessoas incluídas.
Nas redes sociais e em
grupos bolsonaristas no WhatsApp, têm sido comuns imagens de Bolsonaro
ao lado de pessoas humildes, sempre acompanhadas de mensagens sobre o
compromisso do presidente com os mais pobres.
Bolsonaro foca na reeleição desde que tomou posse na Presidência. A primeira vez em que manifestou publicamente o projeto de buscar um novo mandato foi em 7 de julho do ano passado, mesmo sem o governo ter apresentado qualquer resultado a ser comemorado. “Pegamos um país quebrado, moral, ética e economicamente, mas, se Deus quiser, conseguiremos entregá-lo muito melhor a quem nos suceder em 2026”, afirmou o presidente há quase um ano, durante uma festa no Clube Naval de Brasília.
Desde
então, Bolsonaro tem trazido cada vez mais a disputa eleitoral para o
dia a dia do governo. Em meio à explosão de mortes por covid-19 no país,
por exemplo, e a pretexto de preservar a economia, o presidente chegou a
classificar como “criminosas” as medidas de distanciamento social
adotadas por governadores, em cumprimento às recomendações da
Organização Mundial da Saúde (OMS), para frear o avanço da pandemia. Os
ataques têm endereços certos: os governadores do Rio de Janeiro, Wilson
Witzel (PSC), e de São Paulo, João Doria (PSDB), que começaram a ver o
desejo de se candidatarem à Presidência, em 2022, virar pó.
Em
26 de maio, Bolsonaro disse “parabéns à Polícia Federal”, comemorando
uma operação de busca e apreensão de agentes da corporação, realizada
horas antes, em imóveis ligados a Witzel. A ação fez parte de uma
investigação sobre possíveis irregularidades na contratação de serviços
para o combate à pandemia. A operação foi um duro golpe para os projetos
políticos de Witzel, que agora é alvo de um processo de impeachment na
Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).
Para
o cientista político André Pereira César, da Hold Assessoria
Legislativa, Bolsonaro deve ocupar cada vez mais espaços no debate
eleitoral à medida que mágoas do passado, egos, vaidades e outros
obstáculos continuarem impedindo uma união dos partidos de oposição.
Correio Braziliense, MATÉRIA COMPLETA