Na contramão de outras autoridades, ministro da Justiça afirmou que ''todos devemos fazer uma autocrítica''
O ministro da Justiça, André Mendonça, divulgou uma nota neste domingo
(14/6) sobre os ataques de manifestantes bolsonaristas ao Supremo
Tribunal Federal (STF). Ao contrário de outras autoridades — como o
próprio presidente da Corte, Dias Toffoli —, que condenaram os atos,
Mendonça disse que as instituições devem respeitar o povo e que "todos
devemos fazer uma autocrítica".
"A democracia pressupõe, acima de tudo, que todo poder emana do
povo. Por isso, todas as instituições devem respeitá-lo. Devemos
respeitar a vontade das urnas e o voto popular. Devemos agir por este
povo, compreendê-lo e ver sua crítica e manifestação com humildade. Na
democracia, a voz popular é soberana", disse o ministro.
Em
seguida, Mendonça ressalta que "a democracia pressupõe o respeito às
instituições democráticas" e conclui: "Portanto, todos devemos fazer uma
autocrítica. Não há espaço para vaidades. O momento é de união. O
Brasil e seu povo devem estar em 1º lugar".
Na noite de sábado, manifestantes a favor do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) soltaram fogos em direção ao STF e
proferiram ofensas aos ministros e ao governador do Distrito Federal,
Ibaneis Rocha (MDB). O ato foi uma resposta a uma ação da Secretaria de
Segurança e do DF Legal que retirou acampamentos de bolsonaristas da Esplanada dos Ministérios,
com base em um decreto que proíbe aglomerações como forma de conter a
pandemia de covid-19. Após a desocupação, Ibaneis ainda decretou o fechamento da Esplanada ao longo do domingo.
Dias Toffoli criticou o ato.
"O Brasil vivenciou mais um ataque ao Supremo Tribunal Federal, que
também simboliza um ataque a todas as instituições democraticamente
constituídas", afirmou. O presidente do STF ainda classificou o protesto
como antidemocrático e o acusou de ser financiado ilegalmente e ter o
estímulo de integrantes do próprio Estado. "O Supremo jamais se
sujeitará, como não se sujeitou em toda a sua história, a nenhum tipo de
ameaça, seja velada, indireta ou direta e continuará cumprindo a sua
missão", disse, em nota.
[o cidadão Renan Silva Sena, identificado como apoiador do presidente Bolsonaro, foi liberado ontem mesmo pela Polícia Civil do DF - responderá as acusações em liberdade.
Renan é o mesmo que em maio, em um momento infeliz e ao que parece também de descontrole emocional, xingou e hostilizou profissionais da Saúde, que realizavam um protesto silencioso na Praça dos Três Poderes.
Ontem, domingo, pela manhã alguns apoiadores do presidente Bolsonaro realizaram pequeno ato público nas proximidades do Palácio do Planalto, e logo após se retiraram sem, sem confronto com a PM-DF.
Na tarde, houve buzinaço em frente ao Palácio do Buriti e concentração de apoiadores do presidente nas proximidades do QG do Exército - Forte Apache - tendo tudo transcorrido com tranquilidade e de forma democrática.]
Também no domingo, a Polícia Civil do DF prendeu um homem identificado como Renan Silva Sena,
que aparece em um vídeo soltando os fogos em direção ao STF e xingando o
governador Ibaneis Rocha. Renan é o mesmo homem que, em maio, hostilizou e agrediu verbalmente enfermeiras que estavam em um protesto silencioso na Praça dos Três Poderes.
Confira a íntegra da nota:
"Brasília, 14/06/2020 - Em tempos tão difíceis, é essencial voltarmos aos princípios:
1º.
A democracia pressupõe, acima de tudo, que todo poder emana do povo.
Por isso, todas as instituições devem respeitá-lo. Devemos respeitar a
vontade das urnas e o voto popular. Devemos agir por este povo,
compreendê-lo e ver sua crítica e manifestação com humildade. Na
democracia, a voz popular é soberana.
2º.
A democracia pressupõe o respeito às suas instituições democráticas.
Qualquer ação relacionada à Presidência da República, ao Congresso
Nacional, ao STF ou qualquer instituição de Estado deve pautar-se por
esse respeito.
3º. Portanto,
todos devemos fazer uma autocrítica. Não há espaço para vaidades. O
momento é de união. O Brasil e seu povo devem estar em 1º lugar.
André Mendonça
Ministro da Justiça e Segurança Pública"
Correio Braziliense