Se o dinheiro pertence aos trabalhadores, o mais lógico é que possam investir ou gastar como quiserem
[discordamos do acima exposto - o dinheiro pertence ao trabalhador, mas, como uma reserva seja para fazer frente a um desemprego (situação comum nos dias atuais) auxiliar na compra da casa própria, tratar uma doença séria e servir como para a adaptação após se aposentar.
Não pode ser liberado para aquecer a economia - parcialmente, já que a construção civil sofre abalos ao perder uma das suas fontes de recursos, não a mais importante, mas que auxilia - visto que após o aquecimento, que não é auto sustentável, vem a queda da atividade e aquele empregado que gastou o FGTS liberado em compras, muitas vezes desnecessárias, pode ficar desempregado e sem o amparo do FGTS.
liberar para saque a cada dois, três anos, ainda que parcialmente, saldo das contas ativas de FGTS não é boa política - até a frequência com que se repete confirma tal entendimento.]
A liberação das contas do FGTS, planejada pelo governo, é uma boa
notícia. Se o dinheiro pertence aos trabalhadores, o mais lógico é que
possam dispor ou investir os valores como quiserem. Os recursos nas
contas vinculadas, que ficam presos na Caixa Econômica Federal, rendem
só 3% mais TR ao ano, menos até do que a poupança e pior que a inflação,
ou seja, o dinheiro é corroído pelo tempo...
Mas quem recebe uma quantia inesperada, como a liberação do Fundo,
também precisa ficar alerta. Um dinheiro nessas condições é um convite
aos gastos, seja um celular, aquela jaqueta desejada ou fazer uma
viagem, explicam Greg Kaplan, Andreas Fuster e Basit Zafar, três
economistas, em artigo publicado pelo Federal Reserve (Fed, o banco
central americano). Considere que você ganhou inesperadamente R$ 2 mil. Ou R$ 20 mil. O que
faria com o dinheiro? Aplicando essas perguntas a 2.856 consumidores
americanos como parte da pesquisa mensal do Fed sobre renda e trabalho,
os três autores verificaram como cada um lidaria com essa situação.
Foram quatro rodadas de entrevistas, de março de 2016 a março de 2017.
Há décadas os economistas tentam entender as situações que nos levam a
consumir mais. A grande maioria dos estudos usa como base o momento da
compra, em uma loja, um site ou outra situação. Mas, explica o artigo,
também importa como ganhamos o dinheiro gasto. Muitos consumidores
tratam de maneira diferente uma quantia que faz parte da renda mensal e
um valor recebido de outra fonte, como um prêmio da loteria ou o
dinheiro do FGTS.A boa notícia é que nem uma em cada cinco pessoas (19%) pesquisadas
pretendia gastar se o valor fosse de US$ 500, mas a média vai subindo
conforme aumentam os valores. Se o ganho era de US$ 2.500, os gastadores
somavam 27%. E, quando o valor passou para US$ 5 mil, 39%, ou seja,
quase quatro a cada dez pessoas, se dispunham a gastar parte do
dinheiro.
E quanto? Para quem iria receber US$ 500, era aceitável gastar até US$
250 em um jantar fora, um celular ou outro mimo. Já quem ganharia US$
2.500 considerou tudo bem gastar até US$ 1 mil. Os maiores gastadores
foram os possíveis ganhadores de US$ 5 mil. Ainda que,
proporcionalmente, o gasto fosse menor (30%), eles não viam qualquer
problema em torrar até US$ 1.500. As respostas mudaram quando os entrevistadores perguntaram a dois grupos
como gastariam o dinheiro sabendo que só seria pago dali a três meses.
Desta vez havia apenas duas opções, ganhar US$ 500 ou US$ 5 mil. A proporção de gastos se mantém, mas é bem menor o percentual de pessoas
dispostas a gastar. Foi perguntado ainda o que as pessoas fariam se, em
vez de ganhar US$ 500 ou US$ 5 mil, pedissem o dinheiro emprestado. Só
8% disseram pretender gastar algum valor.
Os resultados completam alguns estudos recentes. Depois da crise de
2007-2008, por exemplo, o governo dos Estados Unidos pagou um bônus aos
americanos para estimular o consumo. Parte das pessoas guardou o
dinheiro, mas quem se dispôs a consumir gastou em média 75% do bônus,
segundo pesquisa do Departamento do Trabalho. Para nos convencer a gastar, é como se nosso cérebro tentasse nos
convencer também de que o dinheiro fará menos falta. Pode parecer a
solução para aquele gasto que você vinha adiando, mas que tal, então,
como FGTS ou suas economias, esperar três meses antes de usar? Verá que
muita coisa não era tão importante assim.
Samy Dana - Jornal O Globo