Ex-presidente
explicou sucesso do filho dizendo tratar-se do ‘Ronaldinho dos negócios’. Por que só despontou após 2003?
Como
todos sabem, a Justiça é representada
pela estátua de uma mulher, de olhos vendados, segurando em uma das mãos a
balança e, na outra, a espada. A balança pesa o Direito que cabe às partes,
enquanto a espada significa a defesa do que é justo. A venda nos olhos é o
símbolo da imparcialidade.
Na Grécia Antiga, porém, na representação da
Justiça, a deusa Diké aparecia com os olhos descobertos. A venda surgiu por
iniciativa de artistas da Idade Média para denunciar a
parcialidade dos juízes e criticar a dissociação do Direito em relação à
Justiça.
Como na Justiça pau que bate em
Cunha bate em Luiz, na
semana passada o lobista Fernando Baiano, em delação premiada, citou o nome do
ex-presidente e afirmou ter repassado R$ 2 milhões para uma nora do petista, por meio de contratos falsos que envolvem José Carlos
Bumlai, um dos amigos íntimos de Lula.
E não é a primeira vez que
suspeitas são levantadas sobre seus familiares. Um dos
seus filhos, Fábio Luís Lula da Silva,
trabalhava como monitor em um zoológico de São Paulo. Após a eleição do pai, Lulinha tornou-se
sócio de uma empresa de games, posteriormente contemplada pela Telemar com aporte
de aproximadamente 15 milhões de reais. Lula explicou o sucesso do
filho dizendo tratar-se do “Ronaldinho dos negócios”.
A curiosidade, porém, é saber o porque de o craque só ter despontado a
partir de 2003.
O filho caçula do ex-presidente,
Luís Claudio Lula da Silva, formado em Educação Física, tornou-se empresário de marketing esportivo. Segundo o jornal “O Estado de S.Paulo”, sua empresa recebeu 2,4
milhões de reais de conhecida entidade de lobby que defendia interesses da
indústria automotiva junto ao governo federal. E o que tem a ver o
marketing esportivo com o lobby da indústria automotiva?
O sobrinho da primeira mulher do
ex-presidente, Taiguara Rodrigues, pequeno empresário que
realizava reformas em varandas de apartamentos em Santos, conseguiu que a sua empresa fosse
contratada pela Odebrecht como parceira de obras na África e em Cuba. Indagado na CPI do
BNDES sobre como conseguiu sair de Santos para o mundo, Taiguara não
deu resposta convincente. Deve ser o
Neymar das reformas….
Outro
negócio estranho diz respeito a um
tríplex, em Santos, de 297 metros quadrados, avaliado em 2,5 milhões de reais. Depois que a Cooperativa
Habitacional dos Bancários de São Paulo, controlada pelo PT, quebrou, milhares
de famílias ficaram sem receber seus apartamentos. Algumas obras paradas foram assumidas pela construtora OAS, entre elas o edifício do tríplex. Na papelada, o imóvel
está em nome da OAS, mas a obra foi acompanhada pela dona Marisa. Ela, Lula e Lulinha foram vistos no imóvel
algumas vezes. Segundo a revista “Veja”, que ouviu funcionários da empreiteira, o apartamento pertence à família, e a
reforma foi um agrado da construtora, envolvida até o último tijolo com a
Operação Lava- Jato. Aliás, a OAS já tinha reformado um
sítio em Atibaia, registrado em nome de um dos sócios do Lulinha, onde Lula costumava passar fins de semana.
Na
quinta-feira passada, Lula depôs em
inquérito do Ministério Público do Distrito Federal que o investiga por suposto
tráfico de influência, previsto no Artigo 332 do Código Penal: “Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para
outrem, vantagem ou promessa de vantagem, a pretexto de influir em ato
praticado por funcionário público no exercício da função”...
A
investigação quer descobrir se o ex-presidente — que até
hoje manda e desmanda no governo — influenciou na
gestão Dilma em prol de determinadas empresas, como na concessão de
financiamentos subsidiados para que as empreiteiras realizassem obras mundo
afora.
De fato, já passou da hora de apurar se as viagens do “Brahma" como garoto-propaganda de algumas empresas escolhidas — a maioria envolvida na Lava-Jato, cliente
do BNDES e financiadora de campanhas eleitorais — tem relação com o sucesso dos familiares, com as gentilezas
das empreiteiras, com as milionárias palestras e,
ainda, com as fartas doações ao Instituto Lula.
Um dos fundadores do PT, Hélio Bicudo,
disse que Lula enriqueceu de forma ilícita e
tem, hoje, uma das maiores fortunas do país.
No Brasil, a representação da
Justiça mais conhecida é a de Alfredo Ceschiatti. A escultura, no Supremo Tribunal
Federal, mostra uma mulher sentada, com a espada sobre
as pernas, sem a balança e com os olhos vendados. Com todo o respeito
que o artista merece, prefiro a imagem grega, em que a
Justiça está ereta, com a espada, a balança e os olhos bem abertos.
Por:
Gil Castello Branco é economista e fundador da organização não
governamental Associação Contas Abertas