O Estado de S.Paulo
Mandetta sabe que o presidente busca um substituto para ele e Bolsonaro sabe que Mandetta e sua equipe estão com um pé fora
Ao dizer na estreia do Estadão Live Talks, na quarta-feira, 14, que o
ministro Luiz Henrique Mandetta “fez uma falta, merecia cartão”, quando
cobrou uma “fala única” do governo sobre isolamento social, o
vice-presidente Hamilton Mourão não estava manifestando uma posição
apenas pessoal, mas dos generais, como ele, que têm gabinete no Palácio
do Planalto e compõem hoje o núcleo de bom senso do governo. (Quem
diria?, a turma da guerra virou a turma do deixa-disso.)
Depois de defender Mandetta e convencer o presidente Jair Bolsonaro a
moderar o tom, esse núcleo não gostou – como disse Mourão com todas as
letras – de o ministro manter as provocações contra o chefe nos balanços
diários da pandemia e, sobretudo, na entrevista à Globo no domingo,
quando admitiu que os brasileiros ficam confusos porque o presidente
fala uma coisa e o ministro, outra. [regra para Mandetta e qualquer um que pretenda que o ainda ministro seja modelo:
- Ministro pensa, presidente pensa diferente.
Presidente fala o que pensa e ministro silencia e, RESERVADAMENTE, conversa com o presidente.
Se há acordo, ministro expõe de forma discreta suas ideias.
Não havendo acordo, ministro pede demissão,sai com dignidade e sem atirar - optando por ficar, aceita a ideia presidencial.
Detalhe: informações de interesse público, adquiridas por servidor público, no exercício de função pública, são propriedade do Serviço Público e não podem ser retidas por razões políticas.]
Além de reproduzir a posição comum dos generais, Mourão, de certa forma,
também abriu caminho para Bolsonaro demitir o ministro e essa discussão
esquentou ontem, quando vários nomes já pululavam na mídia e redes
sociais para a Saúde e a pergunta não era mais se Mandetta seria
substituído, mas quando e por quem. Um paulista, possivelmente.
Assim, o espanto foi geral quando Mandetta surgiu no fim da tarde para a
entrevista diária com os fiéis escudeiros João Gabbardo e Wanderson de
Oliveira, demissionário. É, no entanto, só questão de tempo. Mandetta
sabe que o presidente busca um substituto para ele e Bolsonaro sabe que
Mandetta e sua equipe estão com um pé fora. O coronavírus deve estar
morrendo de rir.
Eliane Cantanhêde, jornalista - O Estado de S. Paulo