O presidente em exercício afirmou que familiares podem ter sido pressionados por bandidos a negar confronto
LEIA : 'Isso é a guerra do narcotráfico', diz Hamilton Mourão sobre morte de Ágatha
O presidente em exercício minimizou o relato de familiares de Ágatha e de outros moradores de que não havia confronto no momento em que a menina foi morta, dizendo que eles podem ter sido pressionados por traficantes a falar isso:— É aquela história, é a palavra de um contra o outro. Você sabe muito bem que nessas regiões de favela, se o cara disser quer foi o traficante que atirou, no dia seguinte ele está morto. Vamos lembrar de um colega de vocês, Tim Lopes, que morreu fazendo uma investigação. Então é difícil isso daí.
Mais cedo, Mourão fez um breve comentário sobre o caso ao chegar no Palácio de Planalto:
— Isso é a guerra do narcotráfico — disse, sem entrar em detalhes.
Caso 'pode prejudicar' pacote de Moro
Mourão reconheceu que o episódio "pode prejudicar" a análise da proposta de um excludente de ilicitude para policiais, que conta no pacote anticrime elaborado pelo ministro Sergio Moro (Justiça), pela votação ocorrer em um "clima de emoção".
Entretanto, o presidente em exercício defendeu a proposta, dizendo que os policiais precisam de algum tipo de "proteção":
— Dois policiais morreram. Ninguém comenta isso daí, parece que dois cachorros morreram. Nós, forças do Estado brasileiro, durante operação na Maré, tivemos um morto e 27 feridos. Ano passado, durante a intervenção no Rio de Janeiro, tivemos três mortos. E ninguém toca nisso aí. Então, tem que haver algum tipo de proteção. Óbvio que, uma coisa que eu falo sempre, se nós vivemos dentro de um Estado de direito, a lei tem que valer para todos. Quem infringiu a lei, tem que ser punido.
Ágatha estava em uma Kombi quando foi atingida por um tiro. Moradores afirmam que não havia confronto na favela. Segundo eles, uma policial teria feito um único disparo em direção a um motociclista que não tinha atendido à ordem de parar. Já a Polícia Militar informou que agentes foram atacados por traficantes e revidaram. Ágatha foi a quinta criança morta por bala perdida este ano no Rio e 57ª desde 2007, de acordo com levantamento da ONG Rio de Paz.
'É indecente usar um caixão como palanque', diz Witzel sobre a morte da menina Ágatha
Entrevista coletiva acontece 72 horas após menina ser baleada. Governador defende política de segurança e diz que aproxima índices de criminalidade de "patamares civilizatórios"
Wilson
Witzel afirmou
nesta segunda-feira que a política de segurança adotada durante sua gestão está
aproximando os índices de criminalidade de " patamares civilizatórios
". A declaração foi dada durante entrevista coletiva sobre a morte da
menina Ágatha , de 8 anos, baleada no Complexo do Alemão na última
sexta.
- É
indecente usar um caixão como palanque, disse Witzel durante a coletiva.
O
governador só se pronunciou sobre a morte 72h após a menina ser atingida:
- A dor
de uma família não se consegue expressar. Eu também sou pai e tenho uma filha
de 9 anos. Não posso dizer que sei o tamanho da dor que os pais da menina estão
sentindo. Jamais gostaria de passar por um momento como esse. Mas sei que
jamais gostaria de passar por um momento como esse. Tem sido difícil ver a dor
das famílias que tem seus entes queridos mortos pelo crime organizado. Eu
presto minha solidariedade aos pais da menina Ágatha. Que Deus abençoe o anjo
que nos deixou - disse o governador.
Witzel
afirmou também que tem uma reunião marcada com o ministro da justiça Sergio
Moro na próxima quarta-feira para debater a questão da segurança no estado. O
encontro já estava marcada antes da morte da menina acontecer.
- A gente
não pode, de maneira nenhuma, ligar a morte da menina Ágatha à política de
segurança do Rio de Janeiro - afirmou Marcus Vinícius Braga, secretário de
Polícia Civil.
Na
opinião do secretário, a morte da menina por uma bala perdida não põe em xeque
a política adotada pelo governo Witzel.
O Globo