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domingo, 18 de março de 2018

Marielle, Manuel Fiel e Riocentro



Só as investigações poderão dizer quem armou os assassinatos da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Pedro Gomes. O crime aconteceu 26 dias depois do “lance de mestre” de Michel Temer, decretando intervenção federal na Segurança do Rio de Janeiro.  Um dia antes de sua execução, Marielle denunciou o assassinato de Matheus Melo, um jovem trabalhador que saíra da igreja, deixara a namorada em casa e ia para o Jacarezinho, onde vivia: “Chega de matarem a nossa gente”, escreveu Marielle. A família de Matheus acusa uma patrulha da PM de ter atirado nele.

A execução da vereadora revela que os criminosos mandaram um sinal ao governo e à sociedade, demarcando a extensão de seu poder: Aqui a gente manda e mata. Quando delinquentes se julgam protegidos pela anarquia e, sobretudo, pela desorientação e derretimento da autoridade, esse é um desdobramento natural da crise.  [Saiba mais sobre as ligações de Marielle, clicando aqui.

O presidente Michel Temer preferiu o “lance de mestre” da intervenção federal na Segurança do Rio a uma natural intervenção ampla e desmilitarizada no governo de Luiz Fernando Pezão e do PMDB. Dois episódios de demarcação de território ocorridos com chefes militares merecem ser lembrados.

1976: Geisel mostra quem manda
Na noite de 18 de janeiro de 1976, na hora do “Fantástico”, o governador de São Paulo, Paulo Egydio Martins, telefonou para o presidente Ernesto Geisel:
— Desculpe incomodá-lo. Morreu outro preso no DOI. Outro enforcamento.
— Paulo, não tome providência nenhuma. Você terá notícias minhas.

Morrera no DOI do II Exército o metalúrgico Manuel Fiel Filho. Três meses antes, haviam matado o jornalista Vladimir Herzog no mesmo DOI.
Enquanto viveu, o general Geisel esteve convencido de que a morte de Fiel foi um desafio direto à sua autoridade. Em pouco tempo ele decidiu demitir o comandante da guarnição de São Paulo. Passou a noite sem dormir, pensando nas consequências. Não consultou ninguém e, na manhã seguinte, o general estava fora do comando.
Se alguém queria demarcar autoridade, a linha estava traçada.

1981: Figueiredo mostra que não manda
Na manhã de 1º de maio de 1981 o presidente João Batista Figueiredo soube que explodira uma bomba no Riocentro, matando o sargento que a carregava e ferindo um capitão do DOI do Rio, que estava ao seu lado. Na primeira versão, teria sido coisa da esquerda, e Figueiredo rejubilou-se. Mais tarde, veio a correção: “Há indícios de que foi gente do nosso lado.”
(O atentado pretendia demarcar território, colocando no seu lugar o coronel que chefiava a seção de informações da guarnição local e prometera reprimir explosões de bancas de jornais, uma delas comprovadamente saída do DOI.)

Figueiredo era um cavalariano cinematográfico, desbocado e impulsivo. O leão miou e, naquele dia, começou uma operação abafa que persiste até hoje, pois o capitão que estava no carro chegou a coronel e jamais foi repreendido.  Os autores do atentado demarcaram o território da autoridade, corroeram a Presidência de Figueiredo e o regime. Ele se acabaria quatro anos depois, com o general deixando o palácio por uma porta lateral.

2018, quem manda?
As execuções de Marielle e Anderson foram uma mensagem da bandidagem pública e privada ao general Braga Netto. Foi serviço de profissionais, tanto pela escolha do alvo como pela própria ação. A ideia de que há “direitos humanos”, mas não podem existir “direitos dos manos” é apenas um trocadilho vulgar. Para os criminosos privados e públicos esse é o melhor dos mundos. Quando o dilema é ter medo do bandido ou da polícia, não faz diferença temer a um ou a outra.

A intervenção no Rio começou com o exercício demófobo da ameaça de buscas, apreensões e capturas coletivas, seguida pelas retroescavadeiras da prefeitura destruindo quiosques na Vila Kennedy. Brasília continuou produzindo planos e parolagens. Havia até um evento programado para comemorar o primeiro aniversário do “lance de mestre.” [bom considerar: sem mandado de busca que abranja vários barracos de um trecho de favela, não há a menor condição de se prender qualquer bandido.
A topografia das favelas, a própria nomenclatura das 'ruas' e numeração dos barracos inviabiliza.
Para funcionar é necessários que os mandados abranjam dezenas da barracos limitados por pontos de localização mais confiáveis.
Enquanto os responsáveis pela intervenção perderem tempo escutando os palpiteiros dos direitos humanos nenhum barraco será revistado e nenhum bandido preso - exceto se trombar com uma patrulha do EB ou PM.]  Contra a bandidagem do estado, até agora nada.

Nessas cabeças, uma negra que cresceu em favela do Rio defendendo mulheres pobres e homossexuais é apenas mais uma. Assim como um seringueiro do Acre era apenas mais um. E assim, mataram Chico Mendes.

VOZ DE COMANDO
Na manhã de quarta-feira, oficiais do Exército, comandados pelo general Mauro Sinott, foram inspecionar o 18º Batalhão da PM do Rio. A comitiva foi recebida por uma guarda de 20 homens, e o comandante do Batalhão, coronel Marcus Vinícius dos Santos Amaral, ordenou que dessem continência ao general. Uma parte da tropa fez que não ouviu, ao que o coronel insistiu: “Todo mundo.” Foi obedecido. Em seguida, quando deu o comando de “descansar”, todos ouviram.

A cena foi presenciada e narrada pelo repórter Renan Rodrigues. Essa é uma maneira de comandar uma tropa, mas há outra. O comandante manda dar continência e, em seguida, informa que quem não obedeceu está preso.  Quando um coronel precisa repetir uma ordem para que se saúde um general, as coisas pioraram, e podem piorar mais. [exatamente exato, as coisas estão piorando e vão piorar mais;
Só vai  parar de piorar quando o restabelecimento da ORDEM PÚBLICA tornar imperativo o surgimento do PODER MODERADOR.

O primeiro sinal que as coisas estão piorando a cada dia foi quando o presidente da República perdeu o direito de:
- nomear ministro de Estado;
- assinar decreto de indulto; e outras medidas de rotina, sendo que todas conforme determinação constitucional são de competência do Presidente da República.
Quanto Temer recuou da nomeação da ex-quase ministra do Trabalho e não levou o assunto ao Supremo para que decidisse se o presidente da República para exercer suas atribuições constitucionais precisa ser tutelado pelo Poder Judiciário, primeira instância, Temer se transformou em um general Figueiredo.
O Brasil precisa de presidentes com a fibra de Geisel, Médici, Costa e Silva e Castelo Branco - não necessariamente nesta ordem.
Geisel para preservar sua autoridade não demitiu apenas o general Ednardo - comandante do IIº  Exército (naquela situação não estava em jogo se a prisão do operário foi correta estava em jogo a autoridade do Presidente da República) - demitiu também, algum tempo depois o Ministro de Estado do Exército, general Sylvio Couto Coelho da Frota.]
 
MARÇO: 1968/2018
14 de março de 2018: Marielle Franco, negra e favelada da Maré, conseguiu se formar na PUC, militou no PSOL, elegeu-se vereadora e foi assassinada no Estácio. Morreu também o motorista Anderson Gomes;
28 de março de 1968: O estudante paraense Edson Lima Souto estava numa passeata de jovens que comiam no restaurante do Calabouço, tomou um tiro no peito e morreu na hora. Edson era um “calaboçal”, nome dado aos estudantes que comiam naquele restaurante público e barato. O tiro que o matou teria sido dado por um tenente da PM, mas a investigação deu em nada. Naquele dia começou no Brasil um ano que não terminou, mas acabou com a edição do AI-5 na noite de 13 de dezembro. [o Movimento Militar de 31 março de 1964 - mais conhecido como Revolução e que foi a Redentora, só começou a se consolidar com a edição do Ato Institucional nº 5, AI-5, que completará 50 anos no próximo 13 de dezembro.
De há muito o Brasil necessita de um novo AI-5 com algumas adaptações, o que inclui correção de algumas falhas do primeiro.]
Em 1968 havia um núcleo no governo flertando com uma radicalização da ditadura.

(...)

TENSÃO NA PGR
O ex-procurador-geral Rodrigo Janot sabia o que estava fazendo quando criticou sua sucessora, Raquel Dodge, por não ter fechado um só acordo de colaboração nos seis meses em que está no cargo.
Felizmente, Dodge não fechou acordos desastrosos como o que Janot combinou com os Batista da JBS, mas ela realmente travou todas as negociações com passarinhos interessados em cantar.
Essa blindagem provocou uma reação contrária. Advogados informam que seus clientes não querem colaborar havendo o risco de a PGR desfazer os acordos. Dizem isso mesmo quando as propostas partem dos procuradores.

PALHAÇADA
Em dezembro o juiz Glaucenir de Oliveira, da Vara Criminal de Campos, disse que o ministro Gilmar Mendes, que “não tem vergonha na cara”, soltou o ex-governador Anthony Garotinho porque recebeu um mimo, e “a mala foi grande.”
Interpelado, tentando livrar-se de uma punição, diz que “retrato-me de todo o conteúdo expresso no áudio.” Mais: “Registro que em nenhum momento tive a intenção de denegrir sua honra.”
Noves fora o “denegrir”, o juiz está oferecendo a Gilmar o papel de coadjuvante numa palhaçada de magistrados.

(...)

Elio Gaspari, jornalista - O Globo
 

domingo, 11 de março de 2018

O general e ‘o que fizemos no Araguaia’



Augusto Heleno Pereira fez citação ao falar da guerra civil colombiana

Falando na Escola Superior de Guerra, o general Augusto Heleno Pereira tratou da intervenção federal na Segurança do Rio e, numa breve observação, disse o seguinte: “A Colômbia ficou 50 anos em guerra civil porque não fizeram o que fizemos no Araguaia”. Deixando-se de lado a complexa situação colombiana, fica uma pergunta: “O que fizemos no Araguaia?” [pergunta fácil de ser respondida: foi feito o necessário - faltou fazer algumas pequenas coisas que se feitas, teriam evitado totalmente, ou quase, o que está acontecendo hoje no Brasil.]
Até hoje, os comandantes militares não disseram o que aconteceu no combate à chamada guerrilha do Araguaia. Os documentos teriam sido destruídos. O projeto de insurreição na selva foi transformado em lenda heroica pelo Partido Comunista do Brasil, mas sua fase decisiva começou com a fuga do chefe político e terminou com a fuga do comandante militar. João Amazonas, o secretário-geral do Partido Comunista do Brasil, tocou-se para São Paulo em abril de 1972, logo que os militares chegaram à região onde viviam seus 69 guerrilheiros. Ângelo Arroyo, o último comandante militar, foi-se embora em janeiro de 1974, quando a guerrilha fora decapitada e restavam 35 militantes, em fuga, escondidos na mata.

As operações militares no Araguaia podem ser divididas em duas fases. Na primeira, que vai de 1972 a outubro de 1973, sabe-se o que aconteceu. Foram mortos 12 guerrilheiros e presos cinco, entre eles José Genoino, que mais tarde presidiu o PT. O último preso, Glênio Sá, foi capturado em dezembro de 1972. Todos foram condenados a penas leves para os padrões da época.

Os comandantes militares mantiveram sob um manto de silêncio a segunda fase, que foi de outubro de 1973 ao final de 1974. Aí está a parte essencial de “o que fizemos no Araguaia”. Dos 35 militantes deixados na mata, 34 desapareceram, e o cadáver do 35º foi exposto à população.  Ficando-se apenas com três narrativas militares confiáveis e documentadas, pode-se chegar ao “fizemos”.

No dia 12 de janeiro, um Relatório Especial de Informações do CIE estimou que os fugitivos do Araguaia fossem 33 e advertiu: “Uma interrupção da operação (...), antes da destruição total do inimigo, poderá possibilitar o seu ressurgimento, ainda com maior vigor e experiência.”

Quatro dias depois, o general Ernesto Geisel, presidente eleito da República, conversava com o chefe de sua segurança, tenente-coronel Germano Pedrozo, quadro do Centro de Informações do Exército, e perguntou-lhe como estava “aquela operação” do Araguaia.
— Tenho a impressão de que se prosseguir como tem sido executada, mais uns dois ou três meses liquida-se aquilo lá. (...) Atualmente, já pegaram quase 30.
— E esses 30, o que eles fizeram? Liquidaram, também?
— Também.

— Hein?

— Alguns na própria ação. E outros presos, depois. Não tem jeito não.

Em 2013, o general Álvaro Pinheiro, combatente ferido no Araguaia, deu seu depoimento à Comissão Nacional da Verdade. Qualificou-a de “farsa” e “canalhice sem tamanho”, porque pesquisava o surto radical dos anos 1960 e 1970, sem analisar os crimes cometidos pelos militantes das organizações esquerdistas. (No Araguaia, os quadros do PCdoB mataram um cabo e executaram dois moradores da região, um dos quais, segundo o então comandante da guerrilha, “conhecia a selva como a palma da mão, o jeito mesmo era acabar com ele.”)

Falando do Araguaia, o general Pinheiro disse que desconhecia a existência de uma ordem de extermínio, mas informou: “Às vezes se rendiam, se entregavam. Chegavam às bases dizendo ‘não quero mais’.”  Nenhum militante preso na primeira fase apresentou-se a uma base militar. Helicópteros sobrevoavam a mata instando os guerrilheiros a se renderem, distribuíam panfletos e também cartas de três companheiros presos aconselhando-os a se entregarem. Quem aceitou a oferta do cavalheirismo militar foi assassinado.

É uma questão de lógica: se na primeira fase, quando o movimento tinha alguma infraestrutura na região, deram-se quatro prisões e uma rendição, não faz sentido que entre 1973 e 1974 os militares não tenham conseguido capturar um só dos 34 guerrilheiros convertidos em fugitivos, desamparados e desnutridos.
O “fizemos” feito está, mas o medo é que ele se transforme num “faremos”.

(...)
.
MADAME NATASHA
Uma boa amiga de Madame Natasha chamou sua atenção para um tique do governador Luiz Fernando Pezão. Ele se expressa por meio uma astuciosa evasão do penoso exercício da conjugação dos verbos.
Não usa a primeira pessoa do singular, — eu — nem a do plural — nós. Tudo cai na vala do “a gente”: “A gente vai”, “a gente espera” e a “a gente conseguiu”. Fica tudo mais fácil. Lula tinha esse hábito, mas passou a desafiar as conjugações, às vezes com sucesso.

GIRAFA
O ministro Luís Roberto Barroso deve ter razões jurídicas para quebrar o sigilo bancário de Michel Temer, mas é meio girafa uma situação na qual um presidente da República é exposto a esse constrangimento, e seus advogados não conseguem ver o inquérito que motiva a iniciativa.
O pescoço da girafa cresce quando se sabe que a vista não foi concedida mesmo depois da quebra do sigilo.


(...)

PODE DAR CERTO
A interventoria do general Braga Netto na Segurança do Rio pode dar certo. Nada a ver com o “jogada de mestre” de Temer. Até o fim do ano, ele impõe normas de moralidade nas polícias, mantém a bandidagem num clima de relativa dissuasão e escolhe um ponto crítico da cidade para mostrar como o serviço pode ser feito, com o apoio de iniciativas públicas nas áreas de Saúde, Educação e ouvidoria.

Tem tudo para dar certo a ideia de transformar a Vila Kennedy na vitrine da operação. Nos anos 1960, quando ela foi criada, era a joia da coroa do urbanismo conservador e do programa Aliança para o Progresso, do presidente americano John Kennedy. Deu no que deu por obra da demofobia pública e privada.