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segunda-feira, 6 de agosto de 2018

País precisa saber quem matou Vlado, diz viúva do jornalista

Clarice Herzog defende punição para crimes da ditadura e se diz assustada com ascensão de Bolsonaro

[uma indenização sempre faz bem, especialmente se acompanhada de uma polpuda pensão - e no Brasil ainda teima em existir, apesar de aos poucos estar sendo sufocada - uma indústria de indenizações a todos que dizem (por si,  ou se falecidos, por seus familiares) ter sido vítimas do Governo Militar.

Já as vítimas dos terroristas, raramente são indenizadas.]

A vida de Clarice Herzog, 77, tomou um rumo trágico no dia 25 de outubro de 1975. Na manhã daquela data seu marido, o jornalista Vladimir Herzog, foi prestar depoimento no Doi-Codi de São Paulo, órgão da repressão do governo militar. Vlado, como era chamado por familiares e amigos, saiu morto de lá. Nota oficial divulgada pelos militares dizia que ele havia cometido suicídio, enforcando-se com um cinto de macacão de presidiário. A foto criada para simular essa versão tornou-se um símbolo da repressão do período. 
 
Testemunhos de outros presos no Doi-Codi, porém, apontavam que o jornalista, militante do Partido Comunista Brasileiro, fora torturado e morto por agentes militares.  Nas últimas quatro décadas, Clarice vem travando uma luta para que o Estado reconheça, investigue e puna os responsáveis pelo assassinato do marido. Em 1978 a Justiça condenou a União e determinou a apuração dos fatos, mas nada foi feito. Tentativas posteriores de investigação foram arquivadas com base na prescrição do crime e na lei da Anistia.

No mês passado, dois fatos trouxeram o assassinato novamente à tona. No dia 4, divulgou-se que a Corte Interamericana de Direitos Humanos condenou o Brasil por não esclarecer o crime e ordenou a retomada das investigações. [condenação inócua e que não obriga o Brasil a nada; 
a exemplo das anteriores o MP vai fazer uma agitação - período eleitoral, com militares bem cotados para serem eleitos presidente da República, sempre tentam revogar a Lei da Anistia (lembram dos documentos secretos da CIA? recentemente soltaram uma FAKE sobre o assunto e por falta de fundamente desistiram,  tudo foi esquecido.]. No dia 30, o Ministério Público Federal em São Paulo anunciou que vai reabrir o caso.

“Esperamos que finalmente possamos saber o que ocorreu e quais são os responsáveis pela morte de Vlado”, diz Clarice.

Em entrevista à Folha, ela defende que os horrores da ditadura não devem ser esquecidos e se diz assustada com a ascensão do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) e com grupos que pedem intervenção militar no país. [eventual intervenção militar poderá ser necessário, mas, não por desejo ou ser plano de Bolsonaro; se houver, será para conter os maus brasileiros, os comunistas e o POVO APOIARÁ.
Se a corja comunista, a maldita esquerda e a trupe lulopetista criar uma situação de CAOS, os militares, cumprindo determinação constitucional, poderão ter que intervir.]
 
A decisão da Corte Interamericana e o anúncio de que o MPF vai reabrir o caso renovaram suas esperanças? 
Sim, nos dá um pouco mais de esperança, mas precisamos esperar para ver qual será o encaminhamento, né. Eu abri um processo lá atrás [1976]. Um juiz determinou que fosse descoberto o que ocorreu, mas nunca responderam isso, nunca. Mesmo com a determinação da Justiça, ignoraram sempre.


Mas agora há também a pressão de um tribunal internacional. [o Brasil continua sendo uma Nação Soberana e não cumprirá decisões de cortes internacionais que não tem poder nenhum no Brasil.]
A condenação foi muito importante, pois a corte exigiu que o Estado diga o que ocorreu. Não só a família, mas toda a sociedade tem o direito de saber a verdade. É preciso que grupos façam pressão. Do governo não sairá nada.


Que desfecho a família Herzog deseja para o caso? 
Precisamos saber quem matou o Vlado. O país precisa disso. Queremos que os assassinos sejam julgados, e que o Estado peça perdão pelo que houve.
Os militares se achavam tão donos da verdade que nem se deram ao trabalho de disfarçar bem as barbaridades que faziam. Como podiam dizer que foi suicídio? Na foto o Vlado aparece com os pés no chão. Com os pés no chão! Não havia altura para que seu corpo pendesse. Como poderia se enforcar assim?


Em nenhum momento acreditou na tese de suicídio? Nunca, imagina. Ele sai espontaneamente para depor e se mata?
Foi o seguinte, naquela semana vários jornalistas foram presos. Muitos trabalhavam com o Vlado. Então eu disse para ele: “Você também vai ser procurado, vamos passar o fim de semana fora”.
Então na sexta de noite, um dia antes da morte dele, três grandões bateram lá em casa. Disseram que queriam chamar o Vlado para fazer umas fotos de casamento.


A senhora desconfiou na hora? 
Sim, na hora. Eu disse a eles que meu marido não fazia esse tipo de atividade, que ele estava trabalhando naquela hora. Perguntaram onde, disse que na TV Cultura. Eles não sabiam o endereço, eu disse que também não. Aí eles foram embora. Eu peguei meus dois filhos, eram crianças na época, e fui correndo para a TV. Queria pegar o Vlado e ir para nosso sítio. Mas quando cheguei os homens já estavam lá.

Houve uma discussão, queriam levar o Vlado naquela noite mesmo. O pessoal da TV começou a negociar. Ficou então combinado que ele se apresentaria no dia seguinte. Então no sábado [25 de outubro de 1975] ele foi e saiu morto de lá.

A senhora imaginou que ele pudesse sofrer alguma agressão? 
Não, nunca imaginei. Pensei que ele voltaria para casa algumas horas depois. Mas ao longo do dia fui ficando preocupada. Então na noite daquele sábado três homens da TV chegaram lá em casa e contaram o que houve. Eu saí berrando, “mataram o Vlado, mataram o Vlado”.


O que acha que ocorreu no Doi-Codi? 
Tenho a impressão de que o Vlado reagiu. Tinha um papel picado no chão, com a letra dele, com nomes de outras pessoas de esquerda. Alguns colegas que estavam presos lá ouviram Vlado berrar. Imagino que foi torturado, recebeu choque elétrico. Quando houve uma pausa, ele deve ter rasgado o papel e xingado os torturadores. Aí caíram em cima. Ele ficou todo arrebentado.


Desde então sua luta tem sido provar que ele foi assassinado. 
Sim, ele nunca se mataria. Naquele dia eu queria ter ido com ele, mas não deixaram. Depois fiquei pensando que deveria ter insistido. Talvez ele estivesse vivo hoje se eu tivesse ido.
Um dia comentava isso com uma amiga, e ela me disse algo que não tinha passado por minha cabeça. “Se você também estivesse lá, talvez vocês dois estivessem mortos hoje. Como ficariam seus filhos?”


E como contou a eles? 
Eu não podia dizer que a polícia matou o pai deles. A polícia mata bandidos. Então na manhã do dia seguinte, um domingo, quando acordaram, sentei na cama do Ivo, o mais velho. Tinha nove anos na época. Disse a ele: “Tenho uma notícia triste. Papai, quando estava saindo da TV Cultura, foi atropelado e morreu”. Mas no outro dia ele já percebeu tudo o que tinha ocorrido, o caso estava nos jornais, na TV.  Ele participaram de tudo, os levei em todas as homenagens, no culto da Sé. Acho que é melhor viver essas coisas.


O culto ecumênico na Sé tornou-se reuniu mais de 8.000 pessoas, tornou-se um fato marcante na luta contra a ditadura. Ficou na história, né?
Muitos se afastaram de nós, mas muita gente nos apoiou também. O Vlado era muito querido, era fora do sério. Naquela época ele queria se dedicar ao cinema. Como eu tinha um emprego bom na publicidade, nós combinamos, eu sustentaria a casa, ele faria cinema. Não deu tempo.


A senhora e a viúva de Manoel Fiel Filho, operário cuja morte no Doi-Codi também foi registrada como suicídio, foram depois homenageadas no verso “Choram Marias e Clarisses” da música “O Bêbado e a Equilibrista”. 
Sim, fiquei muito surpresa quando soube. Um dia encontrei os compositores [João Bosco e Aldir Blanc] e me apresentei. Nos abraçamos, foi um momento muito legal.


Teve medo de sofrer alguma represália ao lutar para provar que houve um assassinato? 
Não, não sentia medo. Eles disseram que Vlado se matou. Então, se matassem mais alguém de nossa família, aquela farsa cairia por terra. Eu sentia que meus filhos e eu estávamos bem protegidos.  Na frente de nossa casa ficou por meses um carro da polícia, mas não sentia medo. Nem olhava para eles. Eu trabalhava na agência de publicidade Ogilvy na época. Um dos chefes falou que poderia me transferir para um escritório fora do país, mas não aceitei. Disse a ele: “Meu lugar é aqui. Preciso provar que o pai dos meus filhos foi assassinado”.


Em 2013 vocês receberam uma versão retificada do atestado de óbito de Herzog, no qual constava como causa de morte “lesões e maus tratos sofridos durante interrogatório” 
Sim, são algumas vitórias que tivemos ao longo dessa trajetória. A própria morte dele ajudou a conscientizar muita gente sobre a violência da ditadura. [uma retificação absurda e sem o menor sentido;

a função de um atestado de óbito é atestar o óbito e a causa do mesmo, a 'versão FAKE criou uma nova causa mortis, inexistente em qualquer país - “lesões e maus tratos sofridos durante interrogatório” e estabeleceu até o local onde ocorreram as lesões.
Saiba mais, aqui.]

A decisão da Corte Interamericana de condenar o Brasil pela morte de Herzog reabriu o debate sobre a lei da Anistia. Qual sua opinião? 
Como diz a sentença da corte, a morte de Vlado e de outras pessoas pela ditadura representa um crime contra a humanidade. A Anistia não deveria valer para esses casos.  Quem matou deve ser julgado e condenado. É lamentável que muitas pessoas ignorem esses crimes, até mesmo um candidato à Presidência da República.


A senhora se refere a Jair Bolsonaro (PSL). Perguntado sobre o caso Herzog, ele disse que “não estava lá” para confirmar que ele foi morto pelo regime e que “suicídio acontece, pessoal pratica”. 
Imagina, o cara quer ser presidente e diz uma coisa dessa? Acho um perigo, é assustador. Espero que perca seus eleitores durante a campanha. É um horror esse homem.


Vai votar em quem? 
Em nosso governador [Geraldo Alckmin (PSDB)]. Gosto muito do Henrique Meirelles (MDB), fez um trabalho muito bom na economia, mas não tem experiência nenhuma, não tem traquejo político. Aguentar aquilo ali deve ser barra pesada.


Como se classifica politicamente? 
Sou de esquerda.


Vota no PT? 
Não, sou contra o PT. Depois de tantos escândalos, não dá mais.


Como a senhora encara o fato de algumas pessoas irem às ruas pedir intervenção militar? 
É muita falta de informação, né. Muita gente ignora completamente o que foi a ditadura militar. Repetem sempre o discurso de que havia ordem naquela época. Uma loucura! Todas essas manifestações devem ser repudiadas fortemente pela sociedade. Acho que retomar o caso do Vlado pode ajudar a relembrar todo o horror daquele período.


Depois de 40 anos, a senhora se sente cansada? 
Sim, mas, sendo preciso, luto ainda mais para que o caso não fique impune.


Folha de S. Paulo -  Marco Rodrigo Almeida

 

terça-feira, 31 de julho de 2018

Herzog 1: MPF reabre investigação sobre o assassinato de jornalista no DOI-CODI. O que será? Lei da Anistia será revisada?

O Ministério Púbico Federal reabriu as investigações sobre a morte do jornalista Vladimir Herzog. Ele apareceu morto no dia 25 de outubro de 1975 nas dependências do DOI-CODI, em São Paulo. Tentou-se simular um suicídio por enforcamento. As evidências de que foi assassinado são gritantes. No dia anterior, ele havia comparecido ao órgão, atendendo a intimação para depor sobre suas relações com o PCdoB. O Estado brasileiro já reconheceu o crime cometido. Em março de 2013, a família do jornalista recebeu um novo atestado de óbito. A causa da morte foi alterada. No primeiro, constava o lacônico “asfixia mecânica por enforcamento”. Não se duvide de que aconteceu isso também. Mas a nova redação dá conta com mais precisão do que aconteceu: “lesões e maus-tratos sofridos durante o interrogatório em dependência do 2º Exército (DOI-Codi)”. [a alteração no 'atestado de óbito', modificando a 'causa mortis' confere ao assunto um caráter absurdo;
o atestado de óbito apresenta a causa mortis, que literalmente significa o que causou a morte;
No atestado original consta que Herzog foi morto por asfixia mecânica - o que enseja que várias formas de produzir asfixia mecânica devam ser consideradas (entre elas o suicídio, a esganadura e outras);
mas, seja por suicídio, esganadura, constrição por 'garrote', a causa da morte continua inalterável: asfixia mecânica.

Com a absurda substituição da 'asfixia mecânica' por '“lesões e maus-tratos sofridos durante o interrogatório em dependência do 2º Exército (DOI-Codi)”, deixou de constar do documento a informação principal: o que causou a morte do jornalista?
Maus tratos produzem lesões que podem resultar em morte - mas, jamais serão a causa da morte. Lesões podem matar - maus trato sem lesões (e podem existir) não matam;
Uma pessoa que receba um tiro no coração terá como 'causa mortis' anemia profunda, no caso de ter sido atingida no coração por um projétil resultante de um tiro, poderá constar causada por meio pérfuro contundente (no caso o projétil, a bala), ou se for por faca, meio perfuro cortante.   

Concluindo: se a vítima durante a sessão de maus tratos recebeu violentas e sucessivas pancadas que produziram o 'esmagamento' de órgãos vitais ela morreu por hemorragia, falência de órgãos vitais, mas, o espancamento em si, não causou a morte.
O absurdo supremo é que o local onde supostamente ocorreram os maus tratos (lesões não ocorrem, lesão são consequência) passou a ser, no NOVO 'atestado de óbito', causa da morte.
Se os maus tratos que causaram as lesões tivessem ocorrido em via pública, ou em uma residência, teriam causado a morte?] No dia 3 de julho, a Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) condenou o estado brasileiro pela morte de Herzog. A CIDH reconheceu o assassinato como “crime contra a humanidade”, não passível de anistia. A Corte já havia condenado o país pela não-investigação de desaparecimentos ocorridos durante a Guerrilhas no Araguaia. O que vai acontecer? [NADA. o que esta corte escreve, decide, não tem valor nenhum diante da Soberania da Nação 'condenada'.
Essa  CIDH faria melhor se fosse investigar as mortes atuais que estão ocorrendo na Venezuela, na Nicarágua.]

Referindo-se ao Caso Vladimir Herzog, a Corte Interamericana sustenta que o Estado brasileiro é responsável pela “falta de investigação, de julgamento e de punição dos responsáveis pela tortura e pelo assassinato do jornalista”. E acrescenta: “O Estado não pode invocar a existência da figura da prescrição (…) ou a lei de anistia ou qualquer outra disposição semelhante ou excludente de responsabilidade para escusar-se de seu dever de investigar e punir os responsáveis”. Bem, a questão, então, é saber se não pode mesmo. 

Não é a primeira vez que o MPF tenta punir agentes da ditadura. Juízes federais tendem a recusar as ações com base na Lei da Anistia, de 1979, cuja validade foi referendada pelo STF. Que fique claro: argumentar contra a revisão da Lei da Anistia não implica considerar normal ou aceitável a violência cometida. A questão é de natureza técnica e jurídica. Será que a revisão faz sentido? 

Continua aqui

[o que impede o MP de tentar revogar a anistia condenado o assassino Clemente? 
o assassino Diógenes do PT? e dezenas de outros?
ou na ótica do MP a Lei da Anistia só tem valor para inocentar, perdoar, indenizar e pensionar os assassinos da esquerda?] 

Blog do Reinaldo Azevedo

 

domingo, 18 de março de 2018

Marielle, Manuel Fiel e Riocentro



Só as investigações poderão dizer quem armou os assassinatos da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Pedro Gomes. O crime aconteceu 26 dias depois do “lance de mestre” de Michel Temer, decretando intervenção federal na Segurança do Rio de Janeiro.  Um dia antes de sua execução, Marielle denunciou o assassinato de Matheus Melo, um jovem trabalhador que saíra da igreja, deixara a namorada em casa e ia para o Jacarezinho, onde vivia: “Chega de matarem a nossa gente”, escreveu Marielle. A família de Matheus acusa uma patrulha da PM de ter atirado nele.

A execução da vereadora revela que os criminosos mandaram um sinal ao governo e à sociedade, demarcando a extensão de seu poder: Aqui a gente manda e mata. Quando delinquentes se julgam protegidos pela anarquia e, sobretudo, pela desorientação e derretimento da autoridade, esse é um desdobramento natural da crise.  [Saiba mais sobre as ligações de Marielle, clicando aqui.

O presidente Michel Temer preferiu o “lance de mestre” da intervenção federal na Segurança do Rio a uma natural intervenção ampla e desmilitarizada no governo de Luiz Fernando Pezão e do PMDB. Dois episódios de demarcação de território ocorridos com chefes militares merecem ser lembrados.

1976: Geisel mostra quem manda
Na noite de 18 de janeiro de 1976, na hora do “Fantástico”, o governador de São Paulo, Paulo Egydio Martins, telefonou para o presidente Ernesto Geisel:
— Desculpe incomodá-lo. Morreu outro preso no DOI. Outro enforcamento.
— Paulo, não tome providência nenhuma. Você terá notícias minhas.

Morrera no DOI do II Exército o metalúrgico Manuel Fiel Filho. Três meses antes, haviam matado o jornalista Vladimir Herzog no mesmo DOI.
Enquanto viveu, o general Geisel esteve convencido de que a morte de Fiel foi um desafio direto à sua autoridade. Em pouco tempo ele decidiu demitir o comandante da guarnição de São Paulo. Passou a noite sem dormir, pensando nas consequências. Não consultou ninguém e, na manhã seguinte, o general estava fora do comando.
Se alguém queria demarcar autoridade, a linha estava traçada.

1981: Figueiredo mostra que não manda
Na manhã de 1º de maio de 1981 o presidente João Batista Figueiredo soube que explodira uma bomba no Riocentro, matando o sargento que a carregava e ferindo um capitão do DOI do Rio, que estava ao seu lado. Na primeira versão, teria sido coisa da esquerda, e Figueiredo rejubilou-se. Mais tarde, veio a correção: “Há indícios de que foi gente do nosso lado.”
(O atentado pretendia demarcar território, colocando no seu lugar o coronel que chefiava a seção de informações da guarnição local e prometera reprimir explosões de bancas de jornais, uma delas comprovadamente saída do DOI.)

Figueiredo era um cavalariano cinematográfico, desbocado e impulsivo. O leão miou e, naquele dia, começou uma operação abafa que persiste até hoje, pois o capitão que estava no carro chegou a coronel e jamais foi repreendido.  Os autores do atentado demarcaram o território da autoridade, corroeram a Presidência de Figueiredo e o regime. Ele se acabaria quatro anos depois, com o general deixando o palácio por uma porta lateral.

2018, quem manda?
As execuções de Marielle e Anderson foram uma mensagem da bandidagem pública e privada ao general Braga Netto. Foi serviço de profissionais, tanto pela escolha do alvo como pela própria ação. A ideia de que há “direitos humanos”, mas não podem existir “direitos dos manos” é apenas um trocadilho vulgar. Para os criminosos privados e públicos esse é o melhor dos mundos. Quando o dilema é ter medo do bandido ou da polícia, não faz diferença temer a um ou a outra.

A intervenção no Rio começou com o exercício demófobo da ameaça de buscas, apreensões e capturas coletivas, seguida pelas retroescavadeiras da prefeitura destruindo quiosques na Vila Kennedy. Brasília continuou produzindo planos e parolagens. Havia até um evento programado para comemorar o primeiro aniversário do “lance de mestre.” [bom considerar: sem mandado de busca que abranja vários barracos de um trecho de favela, não há a menor condição de se prender qualquer bandido.
A topografia das favelas, a própria nomenclatura das 'ruas' e numeração dos barracos inviabiliza.
Para funcionar é necessários que os mandados abranjam dezenas da barracos limitados por pontos de localização mais confiáveis.
Enquanto os responsáveis pela intervenção perderem tempo escutando os palpiteiros dos direitos humanos nenhum barraco será revistado e nenhum bandido preso - exceto se trombar com uma patrulha do EB ou PM.]  Contra a bandidagem do estado, até agora nada.

Nessas cabeças, uma negra que cresceu em favela do Rio defendendo mulheres pobres e homossexuais é apenas mais uma. Assim como um seringueiro do Acre era apenas mais um. E assim, mataram Chico Mendes.

VOZ DE COMANDO
Na manhã de quarta-feira, oficiais do Exército, comandados pelo general Mauro Sinott, foram inspecionar o 18º Batalhão da PM do Rio. A comitiva foi recebida por uma guarda de 20 homens, e o comandante do Batalhão, coronel Marcus Vinícius dos Santos Amaral, ordenou que dessem continência ao general. Uma parte da tropa fez que não ouviu, ao que o coronel insistiu: “Todo mundo.” Foi obedecido. Em seguida, quando deu o comando de “descansar”, todos ouviram.

A cena foi presenciada e narrada pelo repórter Renan Rodrigues. Essa é uma maneira de comandar uma tropa, mas há outra. O comandante manda dar continência e, em seguida, informa que quem não obedeceu está preso.  Quando um coronel precisa repetir uma ordem para que se saúde um general, as coisas pioraram, e podem piorar mais. [exatamente exato, as coisas estão piorando e vão piorar mais;
Só vai  parar de piorar quando o restabelecimento da ORDEM PÚBLICA tornar imperativo o surgimento do PODER MODERADOR.

O primeiro sinal que as coisas estão piorando a cada dia foi quando o presidente da República perdeu o direito de:
- nomear ministro de Estado;
- assinar decreto de indulto; e outras medidas de rotina, sendo que todas conforme determinação constitucional são de competência do Presidente da República.
Quanto Temer recuou da nomeação da ex-quase ministra do Trabalho e não levou o assunto ao Supremo para que decidisse se o presidente da República para exercer suas atribuições constitucionais precisa ser tutelado pelo Poder Judiciário, primeira instância, Temer se transformou em um general Figueiredo.
O Brasil precisa de presidentes com a fibra de Geisel, Médici, Costa e Silva e Castelo Branco - não necessariamente nesta ordem.
Geisel para preservar sua autoridade não demitiu apenas o general Ednardo - comandante do IIº  Exército (naquela situação não estava em jogo se a prisão do operário foi correta estava em jogo a autoridade do Presidente da República) - demitiu também, algum tempo depois o Ministro de Estado do Exército, general Sylvio Couto Coelho da Frota.]
 
MARÇO: 1968/2018
14 de março de 2018: Marielle Franco, negra e favelada da Maré, conseguiu se formar na PUC, militou no PSOL, elegeu-se vereadora e foi assassinada no Estácio. Morreu também o motorista Anderson Gomes;
28 de março de 1968: O estudante paraense Edson Lima Souto estava numa passeata de jovens que comiam no restaurante do Calabouço, tomou um tiro no peito e morreu na hora. Edson era um “calaboçal”, nome dado aos estudantes que comiam naquele restaurante público e barato. O tiro que o matou teria sido dado por um tenente da PM, mas a investigação deu em nada. Naquele dia começou no Brasil um ano que não terminou, mas acabou com a edição do AI-5 na noite de 13 de dezembro. [o Movimento Militar de 31 março de 1964 - mais conhecido como Revolução e que foi a Redentora, só começou a se consolidar com a edição do Ato Institucional nº 5, AI-5, que completará 50 anos no próximo 13 de dezembro.
De há muito o Brasil necessita de um novo AI-5 com algumas adaptações, o que inclui correção de algumas falhas do primeiro.]
Em 1968 havia um núcleo no governo flertando com uma radicalização da ditadura.

(...)

TENSÃO NA PGR
O ex-procurador-geral Rodrigo Janot sabia o que estava fazendo quando criticou sua sucessora, Raquel Dodge, por não ter fechado um só acordo de colaboração nos seis meses em que está no cargo.
Felizmente, Dodge não fechou acordos desastrosos como o que Janot combinou com os Batista da JBS, mas ela realmente travou todas as negociações com passarinhos interessados em cantar.
Essa blindagem provocou uma reação contrária. Advogados informam que seus clientes não querem colaborar havendo o risco de a PGR desfazer os acordos. Dizem isso mesmo quando as propostas partem dos procuradores.

PALHAÇADA
Em dezembro o juiz Glaucenir de Oliveira, da Vara Criminal de Campos, disse que o ministro Gilmar Mendes, que “não tem vergonha na cara”, soltou o ex-governador Anthony Garotinho porque recebeu um mimo, e “a mala foi grande.”
Interpelado, tentando livrar-se de uma punição, diz que “retrato-me de todo o conteúdo expresso no áudio.” Mais: “Registro que em nenhum momento tive a intenção de denegrir sua honra.”
Noves fora o “denegrir”, o juiz está oferecendo a Gilmar o papel de coadjuvante numa palhaçada de magistrados.

(...)

Elio Gaspari, jornalista - O Globo