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domingo, 11 de março de 2018

O general e ‘o que fizemos no Araguaia’



Augusto Heleno Pereira fez citação ao falar da guerra civil colombiana

Falando na Escola Superior de Guerra, o general Augusto Heleno Pereira tratou da intervenção federal na Segurança do Rio e, numa breve observação, disse o seguinte: “A Colômbia ficou 50 anos em guerra civil porque não fizeram o que fizemos no Araguaia”. Deixando-se de lado a complexa situação colombiana, fica uma pergunta: “O que fizemos no Araguaia?” [pergunta fácil de ser respondida: foi feito o necessário - faltou fazer algumas pequenas coisas que se feitas, teriam evitado totalmente, ou quase, o que está acontecendo hoje no Brasil.]
Até hoje, os comandantes militares não disseram o que aconteceu no combate à chamada guerrilha do Araguaia. Os documentos teriam sido destruídos. O projeto de insurreição na selva foi transformado em lenda heroica pelo Partido Comunista do Brasil, mas sua fase decisiva começou com a fuga do chefe político e terminou com a fuga do comandante militar. João Amazonas, o secretário-geral do Partido Comunista do Brasil, tocou-se para São Paulo em abril de 1972, logo que os militares chegaram à região onde viviam seus 69 guerrilheiros. Ângelo Arroyo, o último comandante militar, foi-se embora em janeiro de 1974, quando a guerrilha fora decapitada e restavam 35 militantes, em fuga, escondidos na mata.

As operações militares no Araguaia podem ser divididas em duas fases. Na primeira, que vai de 1972 a outubro de 1973, sabe-se o que aconteceu. Foram mortos 12 guerrilheiros e presos cinco, entre eles José Genoino, que mais tarde presidiu o PT. O último preso, Glênio Sá, foi capturado em dezembro de 1972. Todos foram condenados a penas leves para os padrões da época.

Os comandantes militares mantiveram sob um manto de silêncio a segunda fase, que foi de outubro de 1973 ao final de 1974. Aí está a parte essencial de “o que fizemos no Araguaia”. Dos 35 militantes deixados na mata, 34 desapareceram, e o cadáver do 35º foi exposto à população.  Ficando-se apenas com três narrativas militares confiáveis e documentadas, pode-se chegar ao “fizemos”.

No dia 12 de janeiro, um Relatório Especial de Informações do CIE estimou que os fugitivos do Araguaia fossem 33 e advertiu: “Uma interrupção da operação (...), antes da destruição total do inimigo, poderá possibilitar o seu ressurgimento, ainda com maior vigor e experiência.”

Quatro dias depois, o general Ernesto Geisel, presidente eleito da República, conversava com o chefe de sua segurança, tenente-coronel Germano Pedrozo, quadro do Centro de Informações do Exército, e perguntou-lhe como estava “aquela operação” do Araguaia.
— Tenho a impressão de que se prosseguir como tem sido executada, mais uns dois ou três meses liquida-se aquilo lá. (...) Atualmente, já pegaram quase 30.
— E esses 30, o que eles fizeram? Liquidaram, também?
— Também.

— Hein?

— Alguns na própria ação. E outros presos, depois. Não tem jeito não.

Em 2013, o general Álvaro Pinheiro, combatente ferido no Araguaia, deu seu depoimento à Comissão Nacional da Verdade. Qualificou-a de “farsa” e “canalhice sem tamanho”, porque pesquisava o surto radical dos anos 1960 e 1970, sem analisar os crimes cometidos pelos militantes das organizações esquerdistas. (No Araguaia, os quadros do PCdoB mataram um cabo e executaram dois moradores da região, um dos quais, segundo o então comandante da guerrilha, “conhecia a selva como a palma da mão, o jeito mesmo era acabar com ele.”)

Falando do Araguaia, o general Pinheiro disse que desconhecia a existência de uma ordem de extermínio, mas informou: “Às vezes se rendiam, se entregavam. Chegavam às bases dizendo ‘não quero mais’.”  Nenhum militante preso na primeira fase apresentou-se a uma base militar. Helicópteros sobrevoavam a mata instando os guerrilheiros a se renderem, distribuíam panfletos e também cartas de três companheiros presos aconselhando-os a se entregarem. Quem aceitou a oferta do cavalheirismo militar foi assassinado.

É uma questão de lógica: se na primeira fase, quando o movimento tinha alguma infraestrutura na região, deram-se quatro prisões e uma rendição, não faz sentido que entre 1973 e 1974 os militares não tenham conseguido capturar um só dos 34 guerrilheiros convertidos em fugitivos, desamparados e desnutridos.
O “fizemos” feito está, mas o medo é que ele se transforme num “faremos”.

(...)
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MADAME NATASHA
Uma boa amiga de Madame Natasha chamou sua atenção para um tique do governador Luiz Fernando Pezão. Ele se expressa por meio uma astuciosa evasão do penoso exercício da conjugação dos verbos.
Não usa a primeira pessoa do singular, — eu — nem a do plural — nós. Tudo cai na vala do “a gente”: “A gente vai”, “a gente espera” e a “a gente conseguiu”. Fica tudo mais fácil. Lula tinha esse hábito, mas passou a desafiar as conjugações, às vezes com sucesso.

GIRAFA
O ministro Luís Roberto Barroso deve ter razões jurídicas para quebrar o sigilo bancário de Michel Temer, mas é meio girafa uma situação na qual um presidente da República é exposto a esse constrangimento, e seus advogados não conseguem ver o inquérito que motiva a iniciativa.
O pescoço da girafa cresce quando se sabe que a vista não foi concedida mesmo depois da quebra do sigilo.


(...)

PODE DAR CERTO
A interventoria do general Braga Netto na Segurança do Rio pode dar certo. Nada a ver com o “jogada de mestre” de Temer. Até o fim do ano, ele impõe normas de moralidade nas polícias, mantém a bandidagem num clima de relativa dissuasão e escolhe um ponto crítico da cidade para mostrar como o serviço pode ser feito, com o apoio de iniciativas públicas nas áreas de Saúde, Educação e ouvidoria.

Tem tudo para dar certo a ideia de transformar a Vila Kennedy na vitrine da operação. Nos anos 1960, quando ela foi criada, era a joia da coroa do urbanismo conservador e do programa Aliança para o Progresso, do presidente americano John Kennedy. Deu no que deu por obra da demofobia pública e privada.



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