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quinta-feira, 3 de novembro de 2022

Voa, canarinho - Gazeta do Povo

Guilherme Fiuza 

                                                      Foto: Bigstock
– Parabéns, presidente.

– Obrigado.

– O senhor foi fabuloso na campanha.

– Não tanto quanto a justiça eleitoral.

– Modéstia sua.

– Sei dar o crédito a quem merece.


– O senhor é justo.

– Não tanto quanto a justiça eleitoral.

– Ninguém é tão justo quanto a justiça.

– Nenhuma justiça é tão justa quanto a justiça eleitoral.

 

– Ela foi impecável.

Impecável sou eu. Ela foi uma mãe.

– Qual foi a parte que o senhor mais gostou?

– A parte da lisura.

– É um valor que o senhor aprecia, né?

– Claro. Todo homem liso gosta de lisura.

– Faz sentido. E bota liso nisso!

– Já fui mais. Desde que a polícia me pegou percebi que não sou mais tão liso.

– Discordo.

– Por quê?

 

O senhor escapou de mais de 20 anos de prisão pela fresta do Supremo. É a prova de que continua liso.

– Não tinha pensado nisso. Obrigado.

– Só estou dizendo o óbvio.

– Tá insinuando que eu não entendo o óbvio?


– De jeito nenhum...

– Tá me chamando de burro?


– Imagina, presidente. O senhor achou que não era mais tão liso por pura modéstia, não por burrice.

– Ah, tá. Gostei disso. Pode repetir?


– Claro: o senhor achou que não era mais tão liso por pura modéstia, não por burrice.

– Pode tirar a burrice?

 

– Hein?

– Já que eu não sou burro você não precisa falar mais de burrice, só de modéstia.

– Ah, claro: o senhor achou que não era mais tão liso por pura modéstia.

– Ficou melhor assim. Agora fala aquela frase do Uílio.

Ok: candidato, o senhor não deve nada à Justiça.

– Que candidato, idiota?! Tá vendo algum candidato aqui? Eu fui eleito, porra!


– Desculpe, presidente. O senhor pediu para eu repetir a frase famosa do Bonner e achei que era pra ser literal.

Literal é a tua cara, imbecil. Fala direito.

– Ok: presidente, o senhor não deve nada à Justiça.

– Não devo mesmo. É a Justiça que me deve.

 

– Sem dúvida. Mas o senhor não acha que com a sua eleição já está pago?

– Vou avaliar. Não quero mais dinheiro. Quero reparação moral.


– Aí o senhor tem toda razão. Moral é tudo num homem.

– Tudo também não. Vamos com calma.

– Me empolguei. É a alegria da vitória. Mas vamos lembrar que a justiça eleitoral obrigou a imprensa a dizer que o senhor é inocente.

– Não fez mais que a obrigação dela.


– Sem dúvida. Mas nem todos cumprem suas obrigações...

– É verdade. Tudo bem, tá pago. Não vou mais exigir nada. Nem tenho mais tempo pra isso. Preciso montar o meu ministério.

– Boa sorte, presidente. Já decidiu quem vai comandar a economia?

– Estou entre o Mercadante, o Palocci, o Delúbio e a Dilma.


– Esse país vai voar.

Guilherme Fiuza, colunista - Gazeta do Povo - VOZES