“A retomada da votação da Previdência é uma volta aos
trilhos da boa política, pois muda o foco dos “factoides” ideológicos
para o que é realmente mais importante”
A Câmara dos Deputados retoma hoje o processo de discussão da reforma
da Previdência, que deve ser aprovada ainda nesta semana, em segunda
votação, seguindo então para o Senado. O clima já não é o mesmo do
primeiro semestre. Houve muito diversionismo do Palácio do Planalto
duramente o recesso e nenhum empenho para mobilizar a própria base na
retomada dos trabalhos legislativos. Perdeu-se tempo, por falta de
quórum, na semana passada e ontem, quando havia menos de 51 deputados na
Câmara. Como ainda há um interstício de duas sessões para a votação, o
que poderia começar a ser decidido hoje, na melhor das hipóteses, só se
iniciará na noite de amanhã.
De qualquer forma, a retomada da votação da Previdência é uma volta
aos trilhos da boa política, pois muda o foco dos “factoides”
ideológicos para o que é realmente mais importante. A inclusão de
estados e municípios na reforma da Previdência deve voltar à pauta no
Senado, mas como nova emenda constitucional, a chamada PEC paralela,
para não atrasar o que já foi aprovado pela Câmara. Há maioria no Senado
para isso, porém, persiste a dificuldade na Câmara. A maioria dos
deputados não quer arcar com o ônus da reforma junto aos servidores
públicos estaduais e municipais; avalia que isso é problema dos
governadores e prefeitos, deputados estaduais e vereadores.
Ontem, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o presidente
do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), afinaram a viola com o ministro da
Economia, Paulo Guedes, não só sobre a tramitação da reforma da
Previdência, mas também em relação ao passo seguinte: a reforma
tributária. Os três almoçaram na residência oficial de Alcolumbre. Dois
projetos diferentes já estão tramitando no Congresso Nacional: um na
Câmara e outro, no Senado. Guedes prepara uma terceira proposta. Os
secretários estaduais de Fazenda também deram um passo adiante: na
semana passada, aprovaram sugestões ao projeto da Câmara, de autoria de
Bernardo Appy.
O tema que mais interessa aos estados é a composição do
comitê gestor para o Imposto Sobre Bens e Serviços (IBS), a ser criado
pela reforma. Ainda nos trilhos das reformas, hoje será instalada por Rodrigo Maia a
comissão especial da Câmara que discutirá o novo marco regulatório das
parcerias público-privadas, concessões públicas e fundos de investimento
em infraestrutura, cujo relator será o deputado federal Arnaldo Jardim
(Cidadania-SP). Depois da Previdência e da reforma tributária, será a
agenda mais importante para a economia, principalmente porque uma das
grandes queixas dos investidores é a falta de segurança jurídica para os
negócios com o Estado.
Governadores
O presidente Jair Bolsonaro foi ontem a Sobradinho, na Bahia,
inaugurar uma usina de energia solar flutuante no Rio São Francisco e
voltou a falar sobre suas divergências com os governadores do Nordeste.
Pela segunda vez, o governador da Bahia, Rui Costa (PT), evitou se
encontrar com Bolsonaro, que negou discriminar o Nordeste, mas continua
atirando: “Não estou aqui com colegas nordestinos para fazer média. Não
existe essa história de preconceito. Agora, eu tenho preconceito com
governador ladrão que não faz nada para o seu estado”, disse.
O contencioso com os governadores nordestinos é maior com o
governador baiano, de quem Bolsonaro voltou a se queixar diretamente: “O
meu relacionamento é com o povo do Nordeste. Ninguém proibiu o
governador de estar aqui. Da vez passada, quando estive em Vitória da
Conquista, ele determinou que a Polícia Militar não participasse”,
justificou. Bolsonaro perdeu a eleição para o petista Fernando Haddad
nos estados do Nordeste, por isso mobiliza os setores que o apoiam de
olho nas próximas eleições municipais.
O conflito se instalou quando uma conversa de Bolsonaro com o
ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, foi captada pelo áudio de
gravação da TV Brasil, antes de uma solenidade oficial, e acabou
viralizando nas redes, o que provocou forte reação dos governadores
nordestinos. Num comentário sobre eles, Bolsonaro chamou-os de
“paraíbas” e disse que um deles, o governador do Maranhão, Flávio Dino
(PCdoB), não receberia nenhuma verba federal. Diante da reação dos dois
governadores e seus colegas da região, desde então, o presidente da
República tenta minimizar o estrago político que a declaração causou
junto à opinião pública.
O problema é que os números corroboram as queixas dos governadores.
Em 2019, até julho, a Caixa Econômica Federal (CEF), que gerencia os
recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), autorizou
novos empréstimos no valor de R$ 4 bilhões para estados e municípios de
todo o país. Para o Nordeste, porém, foram fechadas menos de 10
operações, que totalizavam, naquela data, R$ 89 milhões, ou cerca de
2,2% do total.
Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo - CB
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terça-feira, 6 de agosto de 2019
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