Revista Oeste
O general da reserva falou sobre as mudanças geopolíticas pós-invasão russa à Ucrânia e a atuação da Defesa nas eleições
Poucas pessoas têm o privilégio de descobrir a sua vocação logo cedo. O
general da reserva Luiz Eduardo Rocha Paiva encaixa-se nesse grupo
seleto. Desde pequeno, já queria seguir carreira militar. “Vim desse
meio porque meu pai já servia ao país”, disse o homem com semblante
sério, cabelos grisalhos e óculos cuja armação discreta faz com que as
lentes quase desapareçam em seu rosto. O tom de voz suave adquire
entonação bem diferente ao tratar de questões de Estado.
A relação com a carreira militar também está impressa em sua certidão de nascimento: o general veio ao mundo em 7 de setembro de 1951, em Niterói (RJ). “Foram chamar o meu pai, e, quando ele chegou, por volta de 12 horas, minha mãe não havia me dado à luz”, lembrou o general. “Acho que eu estava esperando a hora da Independência (declarada às 16 horas e 30 minutos).”
Durante a trajetória acadêmica, Rocha Paiva acumulou vários títulos, entre eles, o de doutor em Aplicações, Planejamento e Estudos Militares pela Escola de Comando e Estado–Maior do Exército e de mestre em Aplicações Militares pela Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais. Na reserva desde 2007, especializou-se em geopolítica e estratégia militar. Entre outros assuntos, foram abordadas as mudanças no mundo no pós-invasão russa à Ucrânia, a atuação da Defesa nas eleições e as manifestações populares de 7 de Setembro.
Confira os principais trechos da entrevista.
Qual avaliação o senhor faz das manifestações de 7 de Setembro? Qual foi o recado das ruas?
Uma demonstração de patriotismo, de que o Hino Nacional e as cores da bandeira do Brasil são nossa identidade, e não a Internacional Socialista e o vermelho do PT.
De uma forma positiva. A presença da Defesa traz credibilidade para o processo eleitoral, sobretudo num momento decisivo para o futuro do país. Os especialistas do Exército têm expertise em tecnologia, o que é bem importante. Precisa-se que sejam mais ouvidos pelo TSE, porque a Força tem muito conhecimento para dar. Em meio a tudo isso, um elemento que poderia ajudar ainda mais para a transparência das eleições seria o voto auditável. Não existe sistema 100% seguro. Quem garante esse tipo de afirmação está divulgando uma grande falácia.
Como cidadão, não confio na inviolabilidade das urnas eletrônicas e no processo de transmissão de votos. O comprovante impresso é um meio de assegurar mais credibilidade e transparência, porque ele materializa o voto. Para ter ideia, as barreiras “impenetráveis” do Pentágono já foram violadas no passado, assim como da CIA e da antiga KGB. Problemas semelhantes são registrados com frequência em computadores e aplicativos de celular. Por que esse tipo de coisa não aconteceria nas urnas? Não estou insinuando que seja algo patrocinado por alguém do TSE, mas é possível que venha de fora. Isso ocorre nos principais órgãos de Inteligência do mundo. Temos de resgatar a confiança do nosso processo eleitoral.
Como o senhor vê uma possível vitória do ex-presidente Lula?
Vai ser a falência moral do país. Não é possível votar em uma pessoa que se envolveu em corrupção e que foi julgada e condenada em três instâncias. Mesmo tendo sido “descondenado”, os crimes ocorreram, e as provas não vão desaparecer. Durante um pronunciamento, o então presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, disse que a Lava Jato acabou por meras formalidades. Ele reconheceu, contudo, que os crimes cometidos por corruptos, além do dinheiro devolvido, existiram. Se Lula voltar ao Palácio do Planalto, será uma tristeza e uma lástima para o país.
(...)
O Poder Moderador não existe de direito, mas de fato. Ele entra em ação em situações de anomia e convulsão social. Sua função é restaurar os Poderes, e não assumir um deles. Não vejo esse mecanismo sendo usado pelas Forças Armadas com a finalidade de tomar o comando. Se acontecer uma ruptura institucional e houver perda de autoridade de modo a provocar uma instabilidade social, aí, sim, os militares intervêm. No entanto, agirão para restabelecer o Poder, e não para ocupá-lo. De 1964 até agora, uma das medidas tomadas pelas próprias Forças Armadas foi afastar a política dos quartéis. Os militares fortaleceram o regime democrático. Isso tem de continuar assim.
(...)Vamos ter um mundo multipolar: de um lado, a Otan, liderada pelos Estados Unidos; do outro, a aliança russo-chinesa e seus satélites. Uma terceira força é a elite globalista, composta de multibilionários que procuram influenciar os Estados a seu bel-prazer, como o empresário e filantropo George Soros. Há alguns cenários nesse tabuleiro de xadrez. A parceria entre o secretário-geral do Partido Comunista, Xi Jinping, e o presidente Vladimir Putin pode se abalar, caso o domínio da Sibéria (no leste da Rússia) seja reivindicado por um dos países. A outra possibilidade é a China e a Rússia continuarem avançando por sobre os países de modo a enfraquecer cada vez mais a Otan. Os EUA estão mais fragilizados sob Biden. A retirada norte-americana do Afeganistão foi humilhante. Em termos de autoridade global, os EUA ficaram mal na fita.
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