Por Gustavo Krause - Blog do Noblat
“Somos obrigados a pagar e se não pagar, é bronca!"
Uma cena prosaica: café da manhã na véspera de um feriado
prolongado. Família de classe média: o pai, pequeno empresário com garra
de empreendedor; a mãe, trabalhadora da área de saúde, chefe de
enfermagem de um grande hospital; os filhos, casal de adolescentes,
estudantes da rede privada. Suco de laranja, sanduíche misto, uma xícara
de café, cardápio para vencer um trânsito insuportável e atender ao
gentil convite de fraterno amigo, proprietário de um flat na famosa
praia de Porto de Galinhas.
“E a gente é obrigado a pagar? “Somos obrigados a pagar e se não pagar, é bronca! De tudo que se produz no Brasil, cerca de 35% vai para os governos”.
O menino arregalou os olhos e exclamou: “Tudo isso! E o que é que o governo faz com tanto dinheiro? O pai não conteve a faísca de indignação e complementou a pergunta “Deveria fazer, mas não faz. Nos últimos trinta anos, só fez aumentar impostos/tributos e deveria retribuir à sociedade segurança, saúde, educação de boa qualidade, facilitar a vida de quem produz”.
Aí foi a vez de a mocinha apimentar a conversa: “Por isso que a mãe diz que ‘tem que apertar o cinto’ por conta dos planos de saúde e das mensalidades escolares”.
“É isso aí meus filhos, concluiu o pai, os governos são eficientes em aumentar e cobrar impostos, ineficientes para prestar serviços à população, perdulários e, não poucas vezes, corruptos com o uso do dinheiro que pertence a todos nós”.
Fez-se um silêncio constrangedor diante do tom da indignação do cidadão calmo e paciente. “E a reforma, Pai? “Não faltam propostas. Só espero que a emenda não venha pior do que o soneto”.
Interveio, então, a mulher, com pragmatismo e sabedoria: “Tudo pronto? Simbora, na vida, só existem duas coisas certas: a morte e os impostos, disse um célebre americano”.
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Gustavo Krause foi ministro da Fazenda