Crivella demonstrou não entender o feriado e a função das Forças Armadas
O
prefeito Marcelo Crivella apelou ao governo federal para que mande uma tropa
para garantir a segurança do carnaval do Rio e comparou a situação com a da
Olimpíada, quando o Exército colaborou com a ordem do evento. O doutor não sabe
o que é o carnaval, não entendeu o que foi a Olimpíada e não aprendeu para o
que servem as Forças Armadas. Ou sabe tudo isso e, jogando para a plateia,
pediu algo que não pode ser dado, protegendo-se. Afinal, num esgarçamento das
regras da federação, governadores não equipam suas polícias, atrasam salários
e, quando a porca torce o rabo, chamam as forças federais.
Como
ensinava o general Leônidas Pires Gonçalves, o chefe militar que fechou o ciclo
de anarquia militar do século passado, “quartel não tem algemas”. Soldados não
são formados para prender cidadãos. Podem vir a fazê-lo, pontualmente, em casos
de manutenção da ordem, mas para isso os estados (e o Rio) têm polícias
Militar, Civil e municipal.
Pedir
tropa para o carnaval é algo estapafúrdio como pedir carnaval sem bebida. O
soldado, que está no quartel porque o serviço militar é obrigatório, guarnece
uma esquina, um bêbado sai do bar e resolve azucriná-lo, a situação se
descontrola e o jovem atira. No dia seguinte os jornais noticiarão: “Soldado
mata estudante que saiu do baile”.
Pedido
semelhante ao do prefeito foi feito há um ano pelo governador Pezão e,
discretamente, mostraram-lhe a impropriedade da ideia. O carnaval veio e se
foi, com sua rotina. A
anarquia federativa, com os governos estaduais criando problemas na expectativa
de que a União mande tropas é um falso subproduto de um dispositivo
constitucional. Temer não poderia decretar intervenção federal no Rio ou onde
quer que seja porque a lei manda que não se mexa na Constituição enquanto
houver estados ou municípios sob intervenção. Há décadas Brasília sabe que
reformas como a de Previdência não podem ser promulgadas havendo intervenções.
Isso não significa que não possam tramitar. No caso, se um governo está numa situação
de calamidade que requeira um interventor federal, ela pode ser decretada e
nada acontecerá com a tramitação da reforma na Câmara, de onde deverá ser
mandada ao Senado.
Isso pode
atrasar a reforma em alguns meses, mas ajudará a limpar administrações ruinosas
antes da eleição de outubro.
Elio Gaspari, jornalista - Folha de S. Paulo