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terça-feira, 28 de novembro de 2017

Candidatos do esquema global

Desde que Roberto Marinho morreu (agosto, 2003), o Grupo Globo (antiga Organizações Globo) não acerta uma. Lá se vão quase 15 anos, mas o grupo, aferrado aos ditames e interesses do “politicamente correto”, navega na contramão do que pensa a população brasileira, como se sabe, de natureza notoriamente conservadora.

Já assinalei aqui, muitas vezes, que o povo brasileiro, na sua imensa maioria, acredita em Deus, repudia o aborto, o casamento gay, o fanatismo ambientalista, etc. etc., além de ter se manifestado, em referendo, favorável ao livre comércio de armas e à compra de munições.

Nos últimos tempos, no plano da catequese política, o esquema da Rede Globo foi derrotado nas suas pretensões  inúteis de triturar o presidente eleito dos EUA, Donald Trump. Já no caso do plebiscito inglês, torcendo os fatos  em favor da embananada União Europeia e contra a criação do vitorioso Brexit, o esquema se ferrou de véu e grinalda (tal como a social democrata Angela Merkel, a “Dama de Alumínio”).  Na campanha pela Prefeitura do Rio de Janeiro, circuito interno, o pessoal do esquema, sempre arrojado, apostou suas fichas nas enfadonhas arengas do comunista Freixo (acolitado pela dupla Gil & Caetano) que, tal como previsto, terminou surrado pelo inodoro pastor Crivella. De fato, até o cambaleante Temer, encostado nas cordas do ringue, conseguiu vencer o Grupo Globo na sua campanha pró impeachment presidencial – em que pese a ferrenha atuação dos seus jornais, rádios e rede de TV.

No momento, o Grupo Globo atravessa o seu inferno astral, vitimado pelas contradições do mundo “politicamente correto”. Por exemplo: em data recente, um galã das novelas (rebarbativas)  da TV Globo foi posto em quarentena por assédio sexual a uma figurinista da emissora – assédio em que valia tudo, inclusive apalpadelas na “genitália” da mulher.
Por sua vez, William Waack, âncora do Jornal da Globo, o mais  “austero” da casa, foi posto de escanteio por fazer comentário tipificado, nos dias atuais, como racista: em Washington, durante a campanha de Trump, em entrevista ao vivo entrecortada por buzinaços, o jornalista deixou escapar em “off”: “É coisa de preto”.

No escândalo do Caso Fifa, a adensar o inferno astral, um ex-executivo da empresa Torneos e Competencias, que fazia mediação entre as competições e as emissoras interessadas em sua transmissão, acusou a TV Globo de pagar propina a dirigentes em troca de direitos de transmissão. Em nota, contestando a acusação feita num Tribunal de Nova York, o Grupo assegurou que jamais negociou ou pagou propina. E informou que “se colocará plenamente à disposição das autoridades americanas para que tudo seja esclarecido” – exatamente como fazem Lula, Temer e tutti quanti diante das acusações do juiz Moro.

Hoje, às vésperas da campanha presidencial de 2018, em que procura detonar a todo custo o candidato Jair Bolsonaro, considerado uma “ameaça”, o esquema Global, em artigos, comentários e entrevistas seletivas, inventa presidenciáveis que possam derrubar o Deputado Federal mais votado do Rio de Janeiro (já que Lula, condenado em primeira instância, pode – e deve – curtir nove anos e meio de cadeia.
Assim, ora promovendo Marina Silva, a Tigresa de Papel, ora badalando o aposentado Joaquim Barbosa, chegou mesmo a compor a “chapa ideal”: Marina de Presidente e Joaquim, de Vice – ou vice e versa. No mesmo diapasão, se incensa a sombria figura de Henrique Meirelles, um sujeito que mente adoidado e que vive ameaçando trazer a CPMF de volta.

Mas a grande onda, que a mídia cultiva como flor de estufa em notas e e comentários diários, é a figura de Luciano Huck, o animador de programa de “brincadeirinhas de auditório” da TV Globo. Óbvio, ninguém de bom senso pode levar a sério a piada de mau gosto. Nem ele próprio. No fundo, tudo não passa de mero jogo de marketing para o inviável candidato viajar na maionese e faturar mais comerciais. Mas é bom lembrar que o comunista Roberto Freire (nomeado procurador do Incra pelo general Médici, o “cruel ditador”), depois de uma “sabatina”, garantiu que o animador é um “brioso social-democrata” e abriu as portas do seu PPS (antigo PCB) para o candidato de voz fanha e nariz de tucano.

Enquanto as eleições não chegam, o pessoal do esquema intensifica sua peçonha diária contra o candidato Bolsonaro, que sobe nas pesquisas. Semana passada, O Globo descobriu que o candidato é contraditório: posando de liberal, Bolsonaro teria votado contra o Plano Real e reformas “progressistas”. Pior: votou contra a privatização da Petrobras e, por não concordar com a venda da Vale do Rio Doce por preço de banana, afirmou que FHC, mentor da façanha, “merecia um tiro”.

Vamos por partes. Antes de tudo é preciso dizer que o mitológico Plano Real não passou de uma fraude  programada. Na conversão da moeda, em 1994, a mercadoria que valia, por exemplo, Cr$ 30,00 passou a custar Cr$ 100,00, visto que a antiga moeda, substituída pelo real, foi desvalorizada em cerca 70%. Por sua vez, num passe de mágica, o dólar passou a valer (artificialmente) menos que o real – o que elevou os juros aos cornos da lua e, mais tarde, alimentou a inflação e o desemprego em dois dígitos, tornando FHC, no segundo mandato, objeto da ira e do deboche popular. Sendo apontado  por isso como principal responsável pela vitória eleitoral de Lula, o Chacal.

No que se refere à postura de Bolsonaro quanto a manutenção do monopólio da Petrobras, a empresa  foi simplesmente considerada como  princípio ativo do nacionalismo econômico dos militares que tiraram o Brasil da merda, de Castelo Branco a Figueiredo, passando por Médici e Geisel. Mais radical, em sentido inverso, foi Roberto Marinho que, nos anos 1950, promoveu ostensiva campanha contra a estatização do petróleo.
Ia falar sobre o “populismo” imputado ao candidato Bolsonaro, mas deixo a tarefa para depois.

PSNo caso do animador da Globo, a recente retirada de sua candidatura não anula o espaço global gasto na promoção do falso candidato. Nem invalida as minhas observações, pelo contrário, as confirmam.

Ipojuca Pontes, cineasta, jornalista, e autor de livros como ‘A Era Lula‘, ‘Cultura e Desenvolvimento‘ e ‘Politicamente Corretíssimos’, é um dos mais antigos colunistas do Mídia Sem Máscara. Também é conferencista e foi secretário Nacional da Cultura.