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quarta-feira, 24 de julho de 2019

Bolsonaro errou o tiro no ‘melancia’- Elio Gaspari - O Globo



Bolsonaro precisa pôr água na cabeça para cuidar de seu governo

O capitão precisa ouvir o conselho do general Médici e, todo dia, botar água na cabeça para esfriá-la

Com 13 milhões de desempregados, a economia andando de lado e a projeção de mais um ano de pibinho, o Brasil já tem problemas suficientes, não precisa trazer de volta o fantasma da anarquia militar. Com idas e vindas, ele assombrou a vida do país dos últimos anos do século XIX até o final do XX. [ressalva: foram as únicas ocasiões em que o Brasil teve um rumo, não ficava ao sabor das ondas revoltas da desordem, do esquerdismo, do comunismo e do lulopetismo que é a soma dos dois ismos anteriores.
Agora com Bolsonaro, ou  sem ele, temos a oportunidade do restabelecimento da ORDEM, da FAMÍLIA, dos VALORES MORAIS e BONS COSTUMES - o artigo 142 da Constituição Federal está em plena vigência. ]


Jair Bolsonaro elegeu-se presidente da República pela vontade de 57,8 milhões de brasileiros. Teve o apoio público de dezenas de oficiais das Forças Armadas e formou um ministério com oito militares. Fez um agradecimento ao ex-comandante do Exército dizendo que 
“o que nós já conversamos morrerá entre nós, o senhor é um dos responsáveis por eu estar aqui, muito obrigado, mais uma vez.” Sabe-se lá o que conversaram, mas desde o primeiro momento o capitão reformado associou seu governo às Forças Armadas. Como agradecimento, tudo bem. Além disso, é uma perigosa impropriedade. 

Bolsonaro deixou a tropa depois de dois episódios de ativismo e indisciplina. Referindo-se ao capitão, o ex-presidente Ernesto Geisel classificou-o como “um mau militar”. Quem está no Planalto é um político com 30 anos de vida parlamentar e uma ascensão meteórica. Em seis meses de presidência, demitiu três oficiais-generais e na semana passada disse que outro, Luiz Eduardo Rocha Paiva, aliou-se ao PCdoB: “Descobrimos um ‘melancia’, defensor da Guerrilha do Araguaia em pleno século XXI”. Ele havia criticado a escolha de Eduardo Bolsonaro para a embaixada em Washington e a fala dos governadores “de Paraíba”.[curiosidade: quando os oficiais-generais assumiram, eram sempre citados como sendo da reserva - o que é fato - mas, sempre deixando a impressão de ser uma condição que diminui, quanto passar para a reserva é algo possivel somente após várias décadas de bons serviços ;
agora após a demissão sempre são citados como oficiais-generais, omitindo que são da reserva.
Ser da reserva  retira o oficial do serviço ativo e, por óbvio, do comando de tropas, mas, não o desmerece; 
temos quatro estrelas, na ativa, exercendo importantes funções nas FF AA, mas, sem comando direto de tropas.]

Esse general de brigada chefiou a Escola de Comando e Estado-Maior do Exército e, na reserva, em março foi nomeado para integrar a Comissão da Anistia. Chamá-lo de “melancia” (verde por fora, vermelho por dentro) foi um despautério. Em 2010, Rocha Paiva acusou o PT de “querer implantar um regime totalitário no Brasil”. Dois anos depois, lembrou as execuções praticadas pelo PCdoB no Araguaia. Foram pelo menos três. (Esqueceu-se das execuções de guerrilheiros que se renderam, mas ninguém é obrigado a se lembrar de tudo.)  [também se esqueceu de mencionar a covardia com que os guerrilheiros agiam; para ficar só em um exemplo, teve um natural da região, mateiro, que aceitou servir de guia para alguns militares e foi identificado pelos guerrilheiros, sendo cortado, vivo, em pedaços, na frente dos familiares, segundo os guerrilheiros do PCdoB para servir de exemplo.]


Tanto o general Rocha Paiva como Bolsonaro deram suas opiniões por meio desse instrumento diabólico que são as redes sociais. Num caso, falou um general da reserva que ocupa um cargo público. Noutro, o presidente da República. Juntos, produziram um inédito curto-circuito. A presença de militares no governo gerou a compreensível curiosidade em torno de suas preferências e ansiedades. General da reserva é uma coisa; da ativa, outra. Muito outra é general da reserva que ocupa cargo civil. Os chefes militares raramente falavam, de Dutra até comandantes mais recentes, passando por Castelo Branco, Médici e Geisel. O atual comandante do Exército, Edson Pujol, não tem conta no Twitter

Na dia 12 de outubro de 1977, quando o presidente Geisel demitiu o ministro do Exército, general Sylvio Frota, um grupo de oficiais tentou sublevar-se, e um general ligou para o ex-presidente Médici, que vivia no Rio, calado. Queria seu apoio e ouviu o seguinte: “Põe água na cabeça. Põe água para esfriar a cabeça.”
(O general Augusto Heleno, que era capitão e ajudante de ordens de Frota, lembra-se de alguns episódios desse dia.)
Bolsonaro precisa pôr água na cabeça para cuidar de seu governo, deixando os quartéis em paz e silêncio.
O Globo - Elio Gaspari, jornalista


terça-feira, 28 de novembro de 2017

Candidatos do esquema global

Desde que Roberto Marinho morreu (agosto, 2003), o Grupo Globo (antiga Organizações Globo) não acerta uma. Lá se vão quase 15 anos, mas o grupo, aferrado aos ditames e interesses do “politicamente correto”, navega na contramão do que pensa a população brasileira, como se sabe, de natureza notoriamente conservadora.

Já assinalei aqui, muitas vezes, que o povo brasileiro, na sua imensa maioria, acredita em Deus, repudia o aborto, o casamento gay, o fanatismo ambientalista, etc. etc., além de ter se manifestado, em referendo, favorável ao livre comércio de armas e à compra de munições.

Nos últimos tempos, no plano da catequese política, o esquema da Rede Globo foi derrotado nas suas pretensões  inúteis de triturar o presidente eleito dos EUA, Donald Trump. Já no caso do plebiscito inglês, torcendo os fatos  em favor da embananada União Europeia e contra a criação do vitorioso Brexit, o esquema se ferrou de véu e grinalda (tal como a social democrata Angela Merkel, a “Dama de Alumínio”).  Na campanha pela Prefeitura do Rio de Janeiro, circuito interno, o pessoal do esquema, sempre arrojado, apostou suas fichas nas enfadonhas arengas do comunista Freixo (acolitado pela dupla Gil & Caetano) que, tal como previsto, terminou surrado pelo inodoro pastor Crivella. De fato, até o cambaleante Temer, encostado nas cordas do ringue, conseguiu vencer o Grupo Globo na sua campanha pró impeachment presidencial – em que pese a ferrenha atuação dos seus jornais, rádios e rede de TV.

No momento, o Grupo Globo atravessa o seu inferno astral, vitimado pelas contradições do mundo “politicamente correto”. Por exemplo: em data recente, um galã das novelas (rebarbativas)  da TV Globo foi posto em quarentena por assédio sexual a uma figurinista da emissora – assédio em que valia tudo, inclusive apalpadelas na “genitália” da mulher.
Por sua vez, William Waack, âncora do Jornal da Globo, o mais  “austero” da casa, foi posto de escanteio por fazer comentário tipificado, nos dias atuais, como racista: em Washington, durante a campanha de Trump, em entrevista ao vivo entrecortada por buzinaços, o jornalista deixou escapar em “off”: “É coisa de preto”.

No escândalo do Caso Fifa, a adensar o inferno astral, um ex-executivo da empresa Torneos e Competencias, que fazia mediação entre as competições e as emissoras interessadas em sua transmissão, acusou a TV Globo de pagar propina a dirigentes em troca de direitos de transmissão. Em nota, contestando a acusação feita num Tribunal de Nova York, o Grupo assegurou que jamais negociou ou pagou propina. E informou que “se colocará plenamente à disposição das autoridades americanas para que tudo seja esclarecido” – exatamente como fazem Lula, Temer e tutti quanti diante das acusações do juiz Moro.

Hoje, às vésperas da campanha presidencial de 2018, em que procura detonar a todo custo o candidato Jair Bolsonaro, considerado uma “ameaça”, o esquema Global, em artigos, comentários e entrevistas seletivas, inventa presidenciáveis que possam derrubar o Deputado Federal mais votado do Rio de Janeiro (já que Lula, condenado em primeira instância, pode – e deve – curtir nove anos e meio de cadeia.
Assim, ora promovendo Marina Silva, a Tigresa de Papel, ora badalando o aposentado Joaquim Barbosa, chegou mesmo a compor a “chapa ideal”: Marina de Presidente e Joaquim, de Vice – ou vice e versa. No mesmo diapasão, se incensa a sombria figura de Henrique Meirelles, um sujeito que mente adoidado e que vive ameaçando trazer a CPMF de volta.

Mas a grande onda, que a mídia cultiva como flor de estufa em notas e e comentários diários, é a figura de Luciano Huck, o animador de programa de “brincadeirinhas de auditório” da TV Globo. Óbvio, ninguém de bom senso pode levar a sério a piada de mau gosto. Nem ele próprio. No fundo, tudo não passa de mero jogo de marketing para o inviável candidato viajar na maionese e faturar mais comerciais. Mas é bom lembrar que o comunista Roberto Freire (nomeado procurador do Incra pelo general Médici, o “cruel ditador”), depois de uma “sabatina”, garantiu que o animador é um “brioso social-democrata” e abriu as portas do seu PPS (antigo PCB) para o candidato de voz fanha e nariz de tucano.

Enquanto as eleições não chegam, o pessoal do esquema intensifica sua peçonha diária contra o candidato Bolsonaro, que sobe nas pesquisas. Semana passada, O Globo descobriu que o candidato é contraditório: posando de liberal, Bolsonaro teria votado contra o Plano Real e reformas “progressistas”. Pior: votou contra a privatização da Petrobras e, por não concordar com a venda da Vale do Rio Doce por preço de banana, afirmou que FHC, mentor da façanha, “merecia um tiro”.

Vamos por partes. Antes de tudo é preciso dizer que o mitológico Plano Real não passou de uma fraude  programada. Na conversão da moeda, em 1994, a mercadoria que valia, por exemplo, Cr$ 30,00 passou a custar Cr$ 100,00, visto que a antiga moeda, substituída pelo real, foi desvalorizada em cerca 70%. Por sua vez, num passe de mágica, o dólar passou a valer (artificialmente) menos que o real – o que elevou os juros aos cornos da lua e, mais tarde, alimentou a inflação e o desemprego em dois dígitos, tornando FHC, no segundo mandato, objeto da ira e do deboche popular. Sendo apontado  por isso como principal responsável pela vitória eleitoral de Lula, o Chacal.

No que se refere à postura de Bolsonaro quanto a manutenção do monopólio da Petrobras, a empresa  foi simplesmente considerada como  princípio ativo do nacionalismo econômico dos militares que tiraram o Brasil da merda, de Castelo Branco a Figueiredo, passando por Médici e Geisel. Mais radical, em sentido inverso, foi Roberto Marinho que, nos anos 1950, promoveu ostensiva campanha contra a estatização do petróleo.
Ia falar sobre o “populismo” imputado ao candidato Bolsonaro, mas deixo a tarefa para depois.

PSNo caso do animador da Globo, a recente retirada de sua candidatura não anula o espaço global gasto na promoção do falso candidato. Nem invalida as minhas observações, pelo contrário, as confirmam.

Ipojuca Pontes, cineasta, jornalista, e autor de livros como ‘A Era Lula‘, ‘Cultura e Desenvolvimento‘ e ‘Politicamente Corretíssimos’, é um dos mais antigos colunistas do Mídia Sem Máscara. Também é conferencista e foi secretário Nacional da Cultura.