Durante
muitos anos, em palestras sobre problemas institucionais brasileiros,
afirmei que visitar Roberto Marinho era condição indispensável para uma
bem sucedida campanha eleitoral à presidência. Eu não estava errado.
Errado era o sistema, que funcionava assim mesmo, e o poder concedido à
Globo.
As redes
sociais, democratizando o direito de opinião e a subsequente eleição de
Bolsonaro, derrubaram a mesa desse jogo. Nem tudo é para sempre. Ao
sentir-se demitida de seu poder, a Globo contra-atacou.
Decidiu acabar
com o presidente e desmoralizar as redes sociais, mesmo que para isso
fosse necessário apoiar a prisão de jornalistas que atuam nesse segmento
e causar dano ao país.
Durante
meses, a covid-19 e a urgência da vacinação foram as principais armas
dessa investida.
A pressão, no começo deste ano, era terrível. Começar a
vacinar um mês depois dos Estados Unidos virou escândalo. A Anvisa,
porém, tinha suas regras, as compras públicas tinham suas exigências e
os contratos de fornecimento, cláusulas leoninas (entre elas o “vendo,
recebo, entrego quando puder e não me responsabilizo”). Aqui, Butantã,
Dória e sua parceria chinesa arrumavam a vitrine de uma vacina
praticamente caseira, testada em brasileiros. Para serem aprovadas as
vacinas, que poderiam, em tese, alcançar uma eficácia de 100%,
precisavam atingir qualquer número significativo após o piso mínimo de
50%. A vacina paulista bateu martelo em 50,7%. Duas doses vieram parar
no meu braço. Com ela, porém, não posso entrar em inúmeros países. Na
próxima semana tomarei a terceira dose com a vacina da Pfizer.
***
Leio em Poder 360: “Na última terça-feira (05.out) o Ministério da Saúde informou que não vai comprar a vacina CoronaVac em 2022 por ela ter sido autorizada só para uso emergencial pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). A pasta ainda declarou que o imunizante, desenvolvido no Brasil pelo Instituto Butantan, tem “baixa efetividade entre idosos acima de 80 anos”. A informação foi divulgada na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid no Senado, nessa 5ª feira (7.out.2021). (...)
A razão sobre a
possível descontinuidade da vacina CoronaVac no ano de 2022 está
diretamente relacionada com condição de sua avaliação pela Anvisa. Até o
presente momento, a autorização [da CoronaVac] é temporária, de uso
emergencial, que foi concedida para minimizar, da forma mais rápida
possível, os impactos da doença no território nacional”, responderam os servidores da pasta.
Um império
desaba. Gradualmente, a vida volta ao normal. A Ciência segue seu curso
enquanto a onisciência dos sabichões da política e da mídia,
oportunistas de poucas letras e ainda menos juízo, se vale dela para
seus fins. Daí a menção à canção de Nelson Ned no título desta crônica.
Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto,
empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de
dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o
totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do
Brasil. Integrante do grupo Pensar+.