Não há nos áudios divulgados da conversa entre Joesley Batista e seus
advogados nenhuma acusação contra ministros do Supremo Tribunal
Federal, somente tentativas de aproximação próprias do que chamam
pejorativamente de lobistas, algumas delas de tão baixo nível que
revelam a verdadeira face desse empresário, que não passa de um bandido
sem escrúpulos, disposto a qualquer coisa para obter vantagens para si e
seu grupo.
Esse cidadão deveria estar preso e ter os benefícios obtidos com a
delação anulados necessariamente, quanto mais não for para preservar o
instituto da colaboração premiada que esse indivíduo manipulou em
favorecimento próprio. É estranho que o Procurador-Geral Rodrigo Janot
tenha colocado no mesmo patamar as acusações feitas a ministros do STF e
à Procuradoria, pois somente contra seu ex-colaborador, Marcelo Miller,
há fatos seriíssimos que indicam que ele ajudou os irmãos Batista a
montarem suas delações quando ainda estava trabalhando como assessor de
Janot. Ao contrário de absolver o presidente Michel Temer, essa constatação
só piora a situação do presidente, pois, além do diálogo que manteve com
Joesley naquela fatídica noite no porão do Palácio Jaburu continuar
existindo na vida real, embora possa vir a ser apagado dos autos do
processo, é inevitável constatar que a intimidade com figura tão baixa, a
ponto de ouvir relatos de crimes de obstrução de Justiça e
estimulá-los, só o iguala moralmente a seu interlocutor.
Por obra do destino, no mesmo dia em que se tomou conhecimento da
reviravolta no caso da delação da JBS, a Polícia Federal descobriu malas
e caixas cheias de dinheiro, mais de R$ 40 milhões, que pertenceriam ao
ex-ministro Geddel Vieira Lima, que não por acaso era o elo entre
Joesley e Temer. Outro assessor, Rodrigo Rocha Loures, assumiu seu lugar
por indicação verbal do próprio presidente, o que indica que aquela
mala cheia de dinheiro que ele pateticamente carregava com corridinhas
pelas ruas de São Paulo seria o começo de uma série de outras, como as
encontradas no apartamento de Salvador.
Comenta-se que também o ex-governador Sérgio Cabral tinha um
apartamento apenas para guardar dinheiro vivo, e o que parecia uma lenda
urbana pode acabar se revelando mais um hábito desse bando de ladrões
que tomaram conta do país nos últimos anos. O Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, transformou em
denúncia o quadrilhão, acusando o ex-presidente Lula de ser o chefe de
uma quadrilha que reunia a ex-presidente Dilma, o ex-ministro Antonio
Palocci e todos os demais comparsas na devastação do país, resultante na
pior crise econômica e social por que já passamos em nossa história.
Essa acusação chega com anos de atraso, pois já no surgimento do
mensalão em 2005, e posteriormente no seu julgamento em 2011, estava
evidente que o chefe da quadrilha não era o ex-ministro José Dirceu,
que, coadjuvante importante do golpe, assumiu a culpa por missão de
ofício de sua parte, e por impossibilidade política naquele momento de
nomear o verdadeiro responsável pela miséria político-partidária em que
se transformou o presidencialismo de cooptação.
O ex-presidente Lula se vangloriava de que ninguém sabia levantar a
estima do brasileiro como ele, e entre seus feitos estava trazer para o
país, irresponsavelmente, a realização da Copa do Mundo de Futebol e as
Olimpíadas. Pois agora se sabe que também essas glórias efêmeras foram
conseguidas através de corrupção de delegados internacionais e de obras
superfaturadas, tanto as viárias quanto os estádios, que se
transformaram em elefantes brancos, inúteis no caos em que se encontra a
infraestrutura do país.
A corrupção para atingir objetivos populistas irresponsáveis saiu do
conluio da União com os governos do Estado e do Município do Rio de
Janeiro, ambos do esquema político do PMDB, cujas entranhas vêm sendo
reveladas. As imagens das malas de dinheiro entregues a políticos
desprezados pelos que os compravam – Joesley diz em um desses novos
áudios que o senador Aécio Neves, a quem também deu malas de dinheiro a
pretexto de um alegado empréstimo pessoal, é um bandidão – são chocantes
para o cidadão comum e nos colocam como país no mais baixo nível na
escala internacional de nações dominadas por governantes populistas.
Fonte: Merval Pereira - o Globo
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quarta-feira, 6 de setembro de 2017
Um país no precipício
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